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Índios kaiowá-guarani querem discutir estatuto que estabeleça responsabilidade da comunidade

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Keite Camacho
28 de Mar de 2005

Os índios kaiowá-guarani buscam a autonomia, com o fim da tutela pela
Funai - Fundação Nacional do Índio. Para isso, nos cinco dias da
Conferência Regional dos Povos Indígenas, que começou nesta segunda-feira
(28) em Dourados (MS), eles pretendem discutir um novo estatuto que
estabeleça, além dos direitos, a responsabilidade da comunidade indígena.
Outros assuntos serão debatidos durante o evento, como a ampliação de
terras para as etnias do estado e a saúde dos povos.

O líder guarani Anastácio Peralta, que é membro da Comissão de Direitos
Indígenas do Mato Grosso do Sul, acredita que a autonomia vai ajudar os
povos em diversas questões, inclusive na área da saúde. "Tiraram a nossa
autonomia, a nossa língua, o nosso jeito de ser, a nossa religião. Então
você vai perdendo a autonomia. O povo que está com problemas de
desnutrição perdeu a referência cultural. Quem segue o tradicional ainda
está vivendo bem, sabe cuidar dos filhos. Quem segue a referência européia
também. Mas tem um meio que perdeu a referência. Não consegue seguir o
tradicional nem ter a visão do branco. Está perdido", disse.

Na opinião de Peralta, manter a interculturalidade é fundamental. "O
remédio do branco é importante, mas o nosso também é importante. O mesmo
ocorre com a religião. Vamos supor: hoje o celular é importante para a
gente. Então, começo a entrar na interculturalidade, sem perder a minha
cultura", salientou.

Segundo o representante guarani, a discussão sobre o estatuto será ampla,
porque é preciso revisar uma proposta que os índios já apresentaram ao
Cimi - Conselho Indigenista Missionário, bem como unificar as propostas
que se encontram na Câmara dos Deputados e na Funai. "O que precisa é
reunir todas essas propostas e discutir esse estatuto. Reunir as propostas
e tentar unificar numa só", explicou.

A ampliação territorial promete ser outro ponto de intensas discussões. De
acordo com Peralta, a falta de espaço é um problema, sobretudo, em Mato
Grosso do Sul, que tem a segunda maior população indígena do país. Segundo
o guarani, só em Dourados há 11 mil pessoas distribuídas em 3,5 mil
hectares. "Nas outras áreas, a população também está precisando muito. As
áreas são muito pequenas. O espaço para o índio é importante. A moradia
dele não é igual à do branco, que é uma casinha. É onde o índio tem o
lazer, a roça, o material de construção para fazer a sua casa", destacou.

A conferência segue até o próximo dia 1o de abril. Promovida pela Funai,
reunirá 219 representantes indígenas de nove etnias, entre elas Guarani,
Kaiowá, Kadiwéu, Terena, Ofaié, Xavante e Guató.

Essa será a segunda de 15 conferências regionais preparatórias para o
encontro nacional, previsto para abril de 2006. A primeira conferência
preparatória foi realizada em Maceió (AL). O encontro de Dourados elegerá
os delegados à conferência nacional e apresentará, ao final, um documento
oficial.

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