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Índios invadem prefeitura fazem servidores reféns

A Tribuna-Rio Branco-AC
Autor: Josafá Batista
16 de Set de 2003

Quarenta índios das etnias Nawa, Poyanawa e Kaxinawa invadiram ontem a prefeitura de Mâncio Lima (674 quilômetros de Rio Branco) e fizeram pelo menos 18 funcionários reféns por quase cinco horas. Com os corpos pintados para a guerra e armados com flechas, os índios protestavam contra o atraso de quatro meses nos repasses de um convênio firmado entre Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a prefeitura da cidade.

De acordo com o prefeito Luís Helosmamm (PPB), que se encontrava na prefeitura no instante da ocupação, os índios chegaram por volta das 10 horas. Permaneceram um pouco nos arredores e logo em seguida ocuparam o prédio, interrompendo todas as atividades dos funcionários, que, cercados, não puderam sair ou entrar.

"Acho natural, é um direito dos povos indígenas se manifestar. Aliás, o que eles estão reivindicando é perfeitamente correto. Eu também acho que esses recursos deveriam vir direto para a prefeitura e não ir para Rio Branco para depois voltar para cá", disse o prefeito, aparentando calma, durante a ocupação.

Por volta do meio-dia a situação pareceu se agravar, levando o prefeito a chamar um reforço da Polícia Federal. Comandada pelo delegado Laerte Ferreira Neto, a diligência formou um semicírculo nas proximidades do prédio da prefeitura, forçando uma negociação. No começo da tarde, os manifestantes desocuparam o prédio, partindo para as negociações com o delegado e representantes da Funai, da União das Nações Indígenas (UNI) e da prefeitura.

O protesto terminou por volta das 14 horas. O prefeito decidiu conceder o ponto a todos os funcionários.

Onde está o dinheiro?

Os representantes das tribos culpam a prefeitura de não repassar há quatro meses os recursos liberados pelo governo federal, através da Funasa, para as aldeias. A liberação é mensal, mas obedece a um tortuoso caminho burocrático: de Brasília os recursos são repassados para a prefeitura e em seguida para a ONG União das Nações Indígenas (UNI), que deveria converter o dinheiro em bens coletivos nas aldeias.

Foi graças à explicação dessa trajetória que o protesto, afinal, acabou sendo desfeito. Mas a explicação do paradeiro do dinheiro, no entanto, não foi dada. Depois das explicações dos representantes da Funasa e da própria UNI, as tribos ameaçam protestar diante dessas entidades, com uma nova causa: a aplicação da verba diretamente pela prefeitura.

"Não queremos mais que o prefeito passe a verba para UNI, nem para Rio Branco. Esse vaivém causou todo esse tumulto de atraso de quatro meses. Imagine a situação nas nossas aldeias, das nossas crianças que precisam de remédio. Se estamos fazendo esse protesto é porque precisamos. E em nossa opinião, a falha é grande e é da UNI", disse por telefone, no calor do protesto, o líder Kaxinawa, Paulo César.

Mâncio Lima é uma das cidades com maior concentração de aldeias indígenas do Acre. Em caso de confronto direto com os brancos, os efeitos seriam funestos. Segundo os dados da Funai, a tribo Nawa tem na cidade 350 membros, a Poianawa tem 500 e a Kaxinawa, 530.

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