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Índios invadem Funasa em MT

OESP, Nacional, p. A10
27 de Mai de 2008

Índios invadem Funasa em MT
Em Mato Grosso do Sul, dois funcionários da Funai ficam reféns dos guaranis por 10 horas

Nelson Francisco e João Naves

Em novos episódios de tensão envolvendo índios, cerca de 300 representantes das etnias irantxe e menqui invadiram ontem a sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Cuiabá. Em Miranda (MS), no Pantanal, a 194 quilômetros de Campo Grande, 300 guaranis-terenas fizeram reféns, durante 10 horas, dois funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), ontem.

Os índios da região noroeste de Mato Grosso alegam que faltam combustível e alimentação nas aldeias porque a Funasa não teria repassado recursos para a ONG Operação Amazônia Nativa. Os manifestantes, que impediram a entrada dos 120 funcionários, garantem que só deixam o local depois de chegar a um acordo para o repasse de R$ 827 mil.

A Funasa informou que a ONG pertence aos índios e que o repasse não foi feito porque foi retido pela Advocacia-Geral da União (AGU). Segundo a fundação, os índios não prestaram conta dos últimos repasses.

Em Miranda, os funcionários da Funai Jair do Prado Júnior e Antônio Ricardo Araújo foram presos no posto da instituição, dentro da Aldeia Boa Sorte, no Pantanal, às 7h de ontem, quando chegaram ao local para iniciar as discussões sobre a reivindicação de uma reserva pelos indígenas.

A libertação aconteceu às 17h, com a chegada do administrador regional da Funai com sede em Campo Grande, Claudionor do Carmo Miranda, que durante duas horas de negociações conseguiu convencer os índios a liberar os reféns. Isso aconteceu sob a promessa do administrador de levar para Brasília, até amanhã, uma comissão da aldeia em busca da solução para o problema que existe há 40 anos, conforme o cacique da tribo, João Metelo.

Segundo ele, existem 1.800 famílias terenas ocupando 45 hectares, enquanto 400 hectares são explorados por famílias não-índias. "São terras indígenas que foram de nossos ancestrais. Chegamos a receber a área de 400 hectares como doação da Prefeitura de Miranda, mas o lugar foi tomado pelos brancos", disse Metelo.

No dia 21 deste mês, 50 membros do mesmo grupo indígena foram despejados da Fazenda Boa Sorte, que faz parte da área reivindicada por eles, depois de uma ocupação que durou seis dias. Os 400 hectares reivindicados pelos índios estão divididos em micro e pequenos empreendimentos agrícolas explorados por famílias não-índias e por uma subestação de retransmissão de eletricidade da Enersul. Faltam estudos antropológicos que caracterizem o lugar como área indígena.

"Temos vários documentos da própria Funai e o compromisso de dirigentes de que essa área seria incorporada à nossa aldeia, porque não tem mais condição. São 1.800 famílias indígenas vivendo em apenas 45 hectares, um terreninho de nada para tanta gente, enquanto estão por aí, nadando de braçadas em nossas terras. Isso é muito injusto", rebateu o líder indígena Oriel Amorim Pereira.

Dia 20, índios da Reserva Araribá, em Avaí (SP), fizeram reféns quatro funcionários da Funai de Bauru. Eles reivindicavam a manutenção do escritório da fundação na cidade. Os servidores foram liberados no dia 22.

OESP, 27/05/2008, Nacional, p. A10

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