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Índios denunciam invasão da floresta no Guaporé

Agência Amazônia - http://www.agenciaamazonia.com.br/
Autor: XICO NERY
03 de Jul de 2009

Documento revela que área é alvo de madeireiros e comerciantes de essências

XICO NERY
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GUAJARÁ-MIRIM, RO - Apesar dos insistentes apelos às autoridades, a Comissão dos Povos Indígenas Pró-Região do Vale Guaporé e Guajará-Mirim (noroeste de Rondônia, a 362 Km de Porto Velho), ainda não conseguiu ser recebida pelas autoridades rondonienses. Durante quase cinco dias, as investidas das lideranças foram descartadas, o que resultou esta semana uma grande passeata que percorreu as principais ruas para denunciar o desdém governamental à sociedade indígena.

Reunidos na 7ª Assembléia dos Povos Indígenas no Centro de Treinamento São José, em Guajará-Mirim, as etnias do Vale do Guaporé aprovaram um documento que expressa, segundo o líder Joel Oronao, \\\"todo repúdio às ocupações promovidas pelo agronegócio, madeireiros e fazendeiros\\\". \\\"Existem planos de manejo e atividades travestidas de agrícolas dentro das terras da União e área indígena em Rondônia e no País\\\", ele protestou. O Centro São José é administrado pela Cúria Diocesana.

Para o prefeito Atalíbio José Pegorini (PR) e o senador cassado Expedito Júnior (PR),a situação indígena cabe à Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao presidente Lula. Pegorini desvencilhou-se do assunto, pouco antes de embarcar para Porto Velho, onde participaria de uma reunião promovida pela coordenação estadual do programa Território da Cidanania, do governo federal. Júnior transmitiu ao encontro indígena seu breve ponto de vista, por meio de um assessor.

Nada convincente

Entre outras autoridades convidadas ao encontro, todas apresentaram desculpas esfarrapadas para não discutir os problemas dos povos indígenas do Vale do Guaporé. A saúde e a educação, amparados pela Constituição Federal, é um deles. \\\"Desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso engessou a Funai e alguns outros ministérios que deveriam cuidar dos assuntos indígenas, a situação só piorou\\\", desabafou um representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) à Agência Amazônia.

O documento aprovado na Assembléia menciona um fato que reabre a questão das ocupações das terras das reservas extrativistas dentro dos parques estaduais e nacionais por seringueiros e nativos oriundos dos movimentos quilombolas na região de Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso.

Compradores de essências

São áreas de reservas destinadas aos seringueiros e populações tradicionais nativas do Rio Ouro Preto e Pacaás Novos, cuja fiscalização deve ser feita pelo Instituto da Biodiversidade Chico Mendes. Segundo denúncias, os invasores de trechos dessas reservas são patrocinados por madeireiros, fazendeiros e compradores de copaíba, andiroba, mel de abelha, piaçava, castanha e outras essências que também são fornecidas aos grupos Natura, Herbalaife e Boticário. Nesses locais, as disputas entre índios e brancos, começa a preocupar setores do governo na região.

Nem o Ibama, Funai, Incra, Polícia Federal, Secretaria Estadual de Defesa Ambiental e prefeitura esclarecem as denúncias que até o momento tiveram maior repercussão na imprensa boliviana. Por um motivo simples: as atividades de compra e venda desses produtos da floresta rondoniense são feitas por regatões das cidades de Guayaramerin e Riberalta (ambas no Departamento de Beni), cuja exportação é destinada ao Reino Unido, Ásia e Estados Unidos da América.

Passeata expõe desalento com a Funasa na região

GUAJARÁ-MIRIM - Inconformadas, as lideranças indígenas saíram pelas ruas da cidade num cordão popular. \\\"Foi um movimento relâmpago\\\", comentou o líder Joel Oronao. \\\"Serviu para denunciar o que ainda não foi conquistado por nós desde os governos passados\\\". Os povos indígenas do Guaporé querem demonstrar o seu poder sobre as terras e o patrimônio, assegurados pela Constituição aos povos indígenas rondonienses e nacionais.

Os manifestantes ocuparam a Avenida XV de Novembro, área central da cidade. Exibiram um boneco de pano (fantoche) confeccionado por crianças e mulheres de várias tribos, depois queimado em sinal de protesto. Segundo eles, o boneco \\\"era o coordenador estadual da Fundação Nacional de Saúde, Josafá Oliveira. Para os indígenas, Oliveira é o \\\"único culpado\\\" pelo continuísmo do caos na saúde dentro das reservas e unidades de atendimentos ao índio, postos de saúde e centros de atendimento a áreas indígenas em Rondônia. O coordenador não se manifestou a respeito do protesto. (X.N.)

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