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Índios acreanos lutam por curso superior e melhoria da cultura

Página 20 Online
Autor: Flaviano Schneider
21 de Mai de 2008

Grupos pedem mais oportunidade para ingressar no terceiro grau

A população indígena do Acre hoje ultrapassa os 15 mil indivíduos, divididos em 14 etnias. Neste universo populacional tão significativo, um dado chama a atenção, segundo a índia Letícia Yawanawa: nenhum índio até hoje se formou em curso superior em faculdades acreanas, tanto nas públicas quanto nas particulares. Segundo diz, isso se deve a dois fatores principais: os índios não têm acesso a cursinhos pré-vestibulares que lhes possibilitariam concorrer em pé de igualdade com os demais candidatos nos vestibulares da Universidade Federal do Acre (Ufac) e não têm recursos para bancar faculdades particulares.

O povo Yawanawa quer mudar o rumo dessa história e elegeu a jovem Putanny Yawanawa para freqüentar um curso superior em Rio Branco. Hoje ela está fazendo o curso de Administração da Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO) e deverá ser a primeira de seu povo a obter o nível superior.
Letícia, acompanhado de Putanny, visitou o gabinete do senador Tião Viana onde foram atendidas pelo assessor Abrahim Farhat. Seu objetivo é sensibilizar as faculdades particulares para doação de bolsas para indígenas, contribuindo assim para minimizar essa falha na educação dos primeiros habitantes da terra. Para Abrahim, que imediatamente manteve contatos com diversas instituições, as universidades e faculdades locais deveriam apoiar os povos indígenas, doando cada uma delas cinco bolsas de estudo para indígenas. "Tanto se fala no fator social... esta é uma oportunidade de estas organizações educacionais investirem no social, especialmente em relação aos povos indígenas, que sempre foram prejudicados em sua relação com a nossa civilização".

Letícia lembrou que alguma coisa está mudando. Segundo disse, a Ufac criou um curso pré-vestibular destinado exclusivamente aos indígenas que vai começar no próximo mês de junho. Consultado, o reitor da Ufac, Jonas Filho, confirmou que o curso vai mesmo acontecer e fornecerá de 40 a 50 vagas. Ela lembrou que se surgirem as bolsas, já há beneficiário potenciais, já que há 10 índios estudando em faculdades particulares atualmente.

Pajé premiada

O povo Yawanawa já atingiu um admirável nível de organização. Suas duas associações, a Cooperativa Agro-Extrativista Yawanawa (Coopyawa) e a Organização de Agricultores Extrativistas Yawanawa (OAEYRG), criadas como instrumento de representação política e de organização social e comunitária, para defender o território, tradição cultural, saúde, educação têm atingido seus objetivos. Elas vêm desenvolvendo diferentes projetos de desenvolvimento auto-sustentáveis que melhoraram o aspecto econômico da comunidade sem a perda da identidade cultural.

E o que pretendem os Yawanawa? Uma educação diferenciada, que valorize os costumes tradicionais e concilie essa educação tradicional oral com a educação ocidental escrita. Com a formação de técnicos Yawanawa em diversas áreas o que se pretende é alcançar uma maior autonomia aos projetos a serem desenvolvidos na comunidade.

A escolha de Putanny para estudar Administração em Rio Branco tem fortes razões. Ela é formada no Ensino Médio (Magistério específico indígena), tem vários cursos de aperfeiçoamento em entidades como Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Comissão Pró-Índio do Acre (CPI), Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI) e outros. Ela trabalhou ainda como professora na Escola Yvaysthu, na sua aldeia situada no rio Gregório; trabalhou como registradora de e coordenadora do projeto de Plantas Medicinais Tradicionais Yawanawa; foi secretária da Organização Yawanawa em Tarauacá. Em 2004 participou de um curso de formação espiritual Yawanawa, tornando-se a primeira mulher pajé e por este fato recebeu em 2006 o Prêmio Bertha Lutz "Mulher Cidadã", do Senado, indicada pelo senador Tião Viana. O prêmio, dividido com sua colega da aldeia Kátia Hushaku, veio a coroar todo seu esforço na árdua caminhada espiritual.

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