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Indígenas de Dourados usam rap em guarani para levar realidade de seu povo ao mundo

Rio 2016- https://www.rio2016.com
Autor: Elis Bartonelli
26 de Jun de 2016

Já ouviu rap cantado em guarani? O casamento entre o estilo musical feito nas periferias e a língua indígena ganhou luz durante o revezamento da tocha Olímpica Rio 2016 em Dourados, Mato Grosso do Sul, neste domingo (26). Bruno Veron, de 23 anos, um dos fundadores do grupo Brô Mc's, banda de rap formada por índios da etnia Guarani Kaiowá, foi um dos condutores do símbolo Olímpico na cidade.

E fez uns versos sobre a experiência:

"Eu estou aqui representando o meu povo. Veja só, a voz guarani chegou tão longe. Agora estou aqui conduzindo a tocha Olímpica. Isso mesmo, sou do Bro MC e represento"

Ao lado dos amigos Clemerson Batista, Kelvin Peixoto e Charlie Peixoto, ele leva as dificuldades das aldeias indígenas para o mundo através de raps. As letras falam, especialmente, da luta das tribos pela demarcação de terra e pela preservação da cultura. Bruno e Clemerson moram na aldeia Jaguapiru, enquanto Kelvin e Charlie vivem em Bororó. As duas ficam a apenas 2 km da cidade sul-mato-grossense. "Cantamos em guarani para valorizar a nossa língua materna e a nossa cultura. Inserimos algumas coisas em português para a informação chegar aos brancos também", contou.

O som do grupo foge ao rap tradicional. Eles embalam os versos com uma mistura de bases clássicas e instrumentos de origem indígena, como o chocalho e a taquara. Os integrantes da banda se conheceram ainda na escola, onde Bruno começou a cantar raps em apresentações culturais, atraindo os amigos para a música. A formação oficial do grupo aconteceu em 2009, depois que eles participaram de oficinas de rap, breaking e rima oferecidas por Higor Lobo, hoje produtor da Brô MC's.

No mesmo ano, os meninos lançaram um álbum demo com oito músicas. Quando menos esperavam, o sucesso aconteceu e a música deles ganhou o Brasil. A banda começou a receber convites para cantar em eventos e festivais indígenas e não-indígenas por todo o país.

"A nossa música é aceita em vários lugares do Brasil. Aqui no Mato Grosso do Sul, o rap não é muito valorizado. O pessoal curte mais o sertanejo. Mas quando lançamos a demo, não pensamos que alcançaríamos tanta gente", comenta Bruno.

Os quatro homens do grupo cantavam e compunham muito bem, mas ainda eram inibidos no palco. A unidade masculina precisou ser quebrada para dar um empurrãozinho e fazer a Brô MC's deslanchar. A cantora Dani Muniz, de 34 anos, que também conduziu a chama Olímpica em Dourados, já integrava a equipe de produção do grupo quando virou backing vocal da banda e também a única integrante sem origens indígenas.

"Desde o começo, víamos a necessidade de colocar mais musicalidade no grupo. Eles são muito talentosos, tinham a pegada do rap, mas não tinham suavidade. Eu comecei ajudando a dar um ar mais poético para as letras, para a melodia. E já tinha mais experiência em palco, os meninos se sentiriam mais seguros comigo. Então, passei a ser backing vocal, mas, às vezes, fico na linha de frente também", diz.

Casada com Higor Lobo, Dani acompanha a banda desde o seu nascimento. Para a cantora, a Brô MC's quebrou muitas barreiras e ajudou a alavancar a autoestima dos povos indígenas.

"Muitas pessoas criticam o fato de índios cantarem rap. Mas eles não perderam a identidade, eles se apoderaram de um instrumento. Quando você se identifica com uma cultura, ela passa a pertencer a você. A banda é muito conhecida fora do estado e, sobretudo, pelos povos indígenas da América Latina. Eles se sentem representados pela Brô e isso é uma quebra de barreira muito grande. Eles conseguem transitar em todas as etnias, todas os reconhecem como porta-voz do povo indígena como um todo", afirma ela.

Além de apaixonada pela música, Dani é louca por esportes. Quando criança, praticava atletismo, futebol e ginástica artística, mas teve que parar ajudar a família. "Sempre acompanhei os Jogos Olímpicos, me emociono vendo as competições. O esporte faz toda a diferença para a sociedade, ele é inclusão. Então, estou muito feliz por conduzir a tocha. É a primeira vez que os Jogos acontecem no nosso país e, de alguma forma, vou contribuir para isso. Valeu a pena todas as vezes que pratiquei esporte e todas as lágrimas que derramei quando não pude mais praticar. Sempre acreditei no esporte", finaliza ela.

https://www.rio2016.com/noticias/em-guarani-indigenas-de-dourados-ms-us…

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