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Impacto do clima em áreas protegidas ameaça meta de CO2 do Brasil

O Globo, Sociedade, p. 21
20 de Jan de 2020

Impacto do clima em áreas protegidas ameaça meta de CO2 do Brasil
Cientista mapeou fragilidade de terras indígenas e unidades de conservação, que podem absorver menos carbono
Rafael Garcia
20/01/2020 - 04:30

SÃO PAULO - A ameaça da mudança climática às áreas protegidas do Brasil pode comprometer os esforços do país para reduzir suas emissões de CO2, afirma o ecólogo David Lapola, da Unicamp.

Após mapear a fragilidade de terras indígenas e unidades de conservação diante do aquecimento global, o cientista diz que a crise do clima provavelmente já está causando distorções nas emissões que o Brasil reporta internacionalmente. Isso porque a quantidade de CO2 que a floresta Amazônica consegue absorver, na avaliação do cientista, pode já estar sendo afetada.

O problema ocorre porque, ao relatar as suas emissões de gases do efeito estufa, o Brasil subtrai a remoção de CO2 do ar que, supostamente, está sendo feita pela floresta em crescimento nas áreas protegidas. Em 2018, por exemplo, o país emitiu 1,9 gigatonelada de CO2, sobretudo com desmatamento, mas reportou apenas 1,4 gigatonelada, porque descontou 0,5 de remoções.

O aquecimento global em si, porém, implica uma grande incerteza sobre esse valor, porque não se sabe exatamente quanto as florestas continuarão crescendo se a emissão de CO2 continuar subindo.

A alta concentração de CO2, por si só, é benéfica para a floresta, porque aumenta a quantidade de carbono disponível no ar, que a planta captura via fotossíntese e usa para produzir biomassa vegetal. É o fenômeno que cientistas chamam de "fertilização de carbono". Ninguém sabe bem ainda, porém, se essa vantagem será anulada por problemas que a mata vai enfrentar no clima, como estresse hídrico e eventos como grandes incêndios.

Experimentos de "fertilização de CO2" já mostraram que, em florestas de clima temperado, é possível que as plantas se beneficiem do CO2. Numa floresta tropical como a Amazônia, porém, fatores como a pobreza de nutrientes no solo podem impedir a mata de capturar todo o carbono que se espera.

Pedalada florestal
Significa, em outras palavras, que o Brasil não teria mais como abater a suposta absorção de CO2 das áreas protegidas no seu inventário de emissões de gases estufa. Essa manobra contábil, aceita pelo IPCC (painel do clima da ONU), foi apelidada de "pedalada florestal" e tende a inflar artificialmente a contribuição que o Brasil estaria dando para frear o aquecimento global.

Num estudo publicado em outubro, Lapola e outros colaboradores tentaram entender como a mudança climática vai afetar as áreas protegidas do Brasil.

De cara, viram que 17 unidades de conservação e terras indígenas (veja abaixo o mapa) somando 20 mil km² (tamanho do estado do Sergipe) têm vulnerabilidade "alta" à mudança climática. Mais preocupante, uma área gigante, de 757 mil km² (mais que o tamanho de Minas Gerais), tem um grau de ameaça "moderado", mas que tende a crescer à medida que o clima se aquece. Esse território sob incerteza representa 27% da área de unidades de conservação do país. O restante, uma área de cerca de 2 milhões de km² ainda está sob nível de ameaça "baixo".

O Globo, 20/01/2020, Sociedade, p. 21

https://oglobo.globo.com/sociedade/impacto-do-clima-em-areas-protegidas…

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