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A ignorância de Stédile

OESP, Economia, p. B5
Autor: NÓBREGA, Mailson da
26 de Mar de 2006

A ignorância de Stédile

Mailson da Nóbrega

Os recentes atos de vandalismo na estação de pesquisas da Aracruz no Rio Grande do Sul assemelham-se ao movimento de artesãos ingleses que no século 19 protestavam contra a substituição do trabalho por máquinas têxteis. Mascarados, eles as destruíam à noite. Seus manifestos eram assinados por um misterioso King Ludd. Daí o nome ludita, que hoje designa quem se opõe a novas tecnologias.
Os nossos luditas se deixam filmar e fotografar. Orgulham-se de prejudicar o agronegócio e a expansão das florestas que alimentam a indústria de celulose. Jaime Amorim, do MST, criticou o choro da pesquisadora que perdeu anos de trabalho. "Se fosse uma pesquisadora séria não teria se vendido às multinacionais."
João Pedro Stédile disse que suas companheiras da Via Campesina "estão de parabéns pelo ato de chamar a atenção da sociedade". E declarou que a indústria de celulose gera "desertos verdes" com o eucalipto. Numa demonstração sesquipedal de ignorância, afirmou que as multinacionais estão aqui porque podem degradar o meio ambiente, o que estariam proibidas de fazer em seus países.
As multinacionais não buscam o hemisfério sul por esse motivo. Na verdade, o Brasil virou o país mais competitivo em celulose de fibra curta extraída do eucalipto. Reunimos condições inigualáveis de regime de chuvas, de insolação e de características do solo. Nossos pesquisadores conseguiram selecionar matrizes de alto conteúdo de celulose e rápido crescimento. Uma árvore pode ser colhida em sete anos (cinqüenta, setenta ou mais anos no hemisfério norte). Em certas regiões, produz-se entre 11 e 12 toneladas de celulose por hectare/ano, contra uma a duas lá em cima.
Adicionalmente, o Brasil cresceu de importância porque a internet e a tecnologia de informação descortinaram um novo mundo para a celulose de fibra curta. Antes, a informação precisava ser essencialmente transportada em papel, o que exigia material de maior resistência. A fibra longa era a mais apropriada. Agora, quando impressa, a informação é gerada ao lado do computador. Aumentou o consumo de papel com boa absorção de tinta e toner. A fibra curta é a adequada. O País tende a ser o maior produtor mundial de celulose (hoje é o sétimo).
Ao contrário do que diz o ludista Stédile, as multinacionais e as empresas nacionais (entre as quais a Aracruz) não estão aqui para se livrar do controle ambiental. As regras são tão rigorosas quanto lá fora. E se não fossem, empresas que atuam em vários países não podem ter normas distintas. Além de ser custoso operar diferentes procedimentos em relação ao meio ambiente, estariam conspirando contra si mesmas.
De fato, dada a conscientização mundial sobre o assunto, os consumidores de papel dos países desenvolvidos (onde estão os principais mercados) exigem conhecer a origem da celulose. O produto deve provir de plantações e fábricas certificadas dentro dos mais exigentes padrões de proteção ao meio ambiente e de responsabilidade social. Seria suicídio comercial não observar essas práticas.
O "deserto verde" de que fala Stédile é uma fantasia. Quem visita as modernas plantações brasileiras de eucalipto constatará a mais avançada tecnologia de plantio, colheita e manejo. Além de crescerem em áreas antes degradadas ou utilizadas extensivamente, como na pecuária, observa-se que essas florestas adquirem a forma de mosaicos, em que se entrecortam eucaliptos e espécies nativas em processo de regeneração.
As técnicas utilizadas permitem o desgaste mínimo do solo e inúmeros replantios, com uma menor necessidade de reposição de nutrientes.
As florestas formadas na área da Mata Atlântica têm contribuído para restaurá-la e para preservar partes que sobreviveram à exploração destrutiva do passado. Fotos de satélite provam que a recuperação da Mata Atlântica somente ocorre onde há plantações de eucalipto Como lembrou Celso Ming (Estado, 16/3/2006) culturas como a cana-de-açúcar podem gerar mais dano ao meio ambiente.
Se houvesse espaço, ainda se poderia mencionar outras virtudes do setor, como a de gerar exportações e empregos permanentes e de maior profissionalização, em zonas onde eles requeriam baixa educação e existiam somente nas épocas de plantio e colheita.
A ideologia e a ignorância continuam a ser más conselheiras do MST.

Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, é sócio da Tendências Consultorias Integradas (e-mail: mnobrega@tendencias.com.br)

OESP, 26/03/2006, Economia, p. B5

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