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Identidade e Territorialidade: o caso dos Sapará

UFRR-Boa Vista-RR
Autor: Olendina de C. Cavalcante
29 de Set de 2004

Os Sapará são um povo de língua Carib que vivem nas savanas do norte do estado de Roraima, nas regiões de Amajari e Taiano. As aldeias onde vivem os Sapará são compartilhadas com os índios Macuxi e Wapixana. Essa "mistura" de povos a que foram legadas as aldeias das regiões de Amajari e Taiano, decorre do processo de ocupação dos territórios indígenas (colonização) que teve como consequência a depopulação de muitos povos e mesmo o desaparecimento total de outros. Os Sapará são um exemplo de como a colonização atingiu um povo de forma brutal. Reduzidos à alguns grupos familiares, eles foram absorvidos por povos com quem mantinham intensas relações de trocas comerciais e matrimoniais, como os Macuxi e os Wapixana. Ao serem absorvidos por outros povos, os Sapará passaram a ser confundidos com os mesmos, levando assim, à falsa idéia que teriam desaparecidos; fato que levou alguns autores a registrarem a sua "extinção". Porém, entre os indígenas a verdadeira identidade dos Sapará sempre foi reconhecida, resultando no processo chamado de "emergência" étnica. Os processos de "emergência" étnica são comuns entre grupos étnicos que passaram pela experiência do colonialismo, como os indígenas brasileiros. Para entendermos melhor como esse processo ocorreu entre os Sapará é necessário fazermos uma breve incursão ao passado.

A ocupação dos territórios indígenas iniciou-se com a disputa, entre portugueses e holandeses na segunda metade do século XVIII, pela posse do vale do Rio Branco (atual estado de Roraima), e se consolidou no início do século XX, com a implementação da economia da pecuária. A instalação de grandes fazendas, inicialmente mantidas pelo governo imperial, e em seguida por proprietários privados, reduziu os territórios indígenas, alterando a dinâmica a que os mesmos estavam acostumados, tais que a criação de novas aldeias, a exploração de antigos territórios de caça, de coleta, e de pesca, a visita a parentes e a lugares considerados sagrados, foram comprometidas com a chegada do branco que se apropriou das terras, loteando o território indígena. À medida que as fazendas, vilas e cidades se expandiam, reduziam-se as possibilidades dos índios circularem por territórios que antes podiam explorar livremente.

Esta situação de expropriação dos territórios indígenas permaneceu inalterada até que um novo contexto histórico se instaurasse, a demarcação dos territórios indígenas, desencadeada nos anos 70 do século passado. As iniciativas indígenas passaram a inibir esse processo contínuo de ocupação dos seus territórios, trazendo para o contexto nacional e regional uma intensa mobilização étnica que resultou na reconquista de partes dos seus antigos territórios. Em Roraima, como atores principais nesse processo estavam os índios Macuxi e Wapixana, povos numericamente majoritário das regiões de savana/serra do estado, e com maior poder de pressão e negociação junto ao mundo dos brancos. É no contexto dessas reconquistas territoriais que se abre o espaço para a volta dos Sapará.

Nos últimos anos, os Sapará têm participado ativamente da elaboração da agenda política dos povos indígenas de Roraima, ganhando, assim, maior visibilidade política. Além dos fatores históricos que possibilitaram a emergência dos Sapará, vale mencionar que eles sempre mantiveram uma memória coletiva que remete a uma origem comum com os demais povos indígenas e permite a articulação entre o passado e o presente. Reafirmar a identidade étnica no contexto regional significa, antes de mais nada, vislumbrar a possibilidade de uma vida em que o respeito a diversidade seja possível.

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