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IBGE vai descobrir o 'custo Amazonas'

Estado de S.Paulo-São Paulo-SP
Autor: Paulo Roberto Pereira
08 de Mai de 2004

Custo de vida começa a ser pesquisado no Estado em setembro, e vai mostrar uma cara realidade

Manaus - Quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) começar a pesquisar o índice do custo de vida também no Amazonas - o que acontecerá a partir de setembro -, o restante do País descobrirá que a vida no Norte é muito mais cara do que se imagina.

Como até agora essa pesquisa para a região atingia apenas o Pará, cuja economia não sofre tanto impacto da distância quanto o Amazonas, o índice aplicado aos amazonenses ficava sempre muito longe da realidade.

Realidade que o amazonense sente na carne. E também nas frutas, nos enlatados, verduras, leite, cereais, em todos os demais componentes da cesta básica e até nos sanduíches do McDonald's, cujos preços são bem diferentes do restante do País. "Para manter a qualidade do produto, temos de utilizar todos os meios de transporte. Isso, é claro, impacta no preço final", explica Roderlei Campanha, franqueado McDonald's em Manaus.

"A diferença é mesmo muito grande", atesta Niege Costa Medeiros, que nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, e mora há um ano em Manaus. "Viciada" em Big Mac, lembra com saudade quando gastava bem menos pelo lanche antes de mudar de Estado. Mas o pior, segundo ela, é que a diferença de preço se faz sentir em todos os itens de primeira necessidade. "Tem apartamento à venda aqui por R$ 3 milhões. Até o aluguel é muito maior. Um apartamento de classe média não sai por menos de R$ 1 mil", acrescenta.

Aí é que começam os problemas dos amazonenses. Quando o índice do custo de vida é medido, usa como base os preços do restante do País. Para se ter uma idéia, com os R$ 260 do novo salário mínimo pode-se comprar uma quantidade de coisas no Rio ou São Paulo. Essas mesmas mercadorias, em Manaus, não podem ser adquiridas pelo mesmo valor.

Usando o McDonald's como indexador natural, existem algumas explicações de logística que justificam essa diferença. Para receber os produtos de São Paulo, de onde vem a produção de tudo o que o McDonald's vende, o franqueado local, para começar, deve adotar um sistema misto de transporte. Os artigos mais perecíveis precisam vir de avião. E até mesmo o que vem por estrada leva 15 dias para chegar. E de Belém para Manaus precisa ser transportado por balsa pelo Rio Amazonas. "Isso nos obriga a manter um estoque maior de reserva, pois, se houver um imprevisto, ficamos sem mercadoria. Aí, nossa margem de perda com deterioração também aumenta", explica Roderlei.

Frutas e verduras - Com os demais produtos ocorre a mesma coisa. Alguns itens da alimentação, por exemplo, precisam chegar a Manaus por via aérea. Toneladas de frutas e verduras, por exemplo, desembarcam diariamente no Aeroporto Eduardo Gomes. E devem ser consumidas o mais rapidamente possível. A temperatura média da cidade, sempre entre 35 e 40 graus, não permite sonhar com estocagem para otimizar custos.

No interior do Estado, a situação ainda é mais crítica. A mercadoria, que já chega à capital com o preço majorado devido aos vários intermediários de transporte, tem ainda de cumprir uma jornada de balsa, ou avião, até chegar aos demais municípios. O consumidor do interior do Amazonas é o mais prejudicado quando o índice do custo de vida serve como indexador de salários.

A inclusão do Amazonas na pesquisa do IBGE vai servir ainda para que o próprio amazonense tenha uma idéia real de seu custo de vida. Para isso, o IBGE contratará mais de 50 técnicos locais, encarregados de pesquisar semanalmente os preços da cesta básica amazonense. Assim como nos demais, deve ser confirmada a maior incidência da alimentação no índice do custo de vida.

Por ser bom e abundante na região, o peixe amazônico ainda pode ser encontrado a preços bem convidativos no mercado. O quilo do tambaqui, por exemplo, gira em torno de R$ 4, contra os quase R$ 10 da alcatra ou quase R$ 17 da picanha. Peixes menos nobres, como jaraqui e pacu, podem ser comprados bem mais em conta, o que certamente indicará positivamente no cálculo da inflação amazonense.

Alguns preços para comparação, obtidos no Supermercado DB, de Manaus: feijão Blue Ville, R$ 2,49 o quilo; arroz Tio João, R$ 2,69 o quilo; alcatra, R$ 9,99 o quilo; Picanha, R$ 16,89 o quilo; leite em pó Ninho (lata 400g), R$ 4,70; brócolis, R$ 15,83 o quilo; couve-flor, R$ 11,52 o quilo; Nescau (lata 400g), R$ 3,49; espaguete Adria, R$ 2,38 o quilo.

Outros preços: aluguel de apartamento de três quartos, em bairro de classe média, R$ 1 mil; mensalidade escolar média, R$ 350; transporte coletivo, R$ 1,50; Big Mac, R$ 6,50; McOferta número 1, R$ 11,15.

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