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A hora e a vez da turma da botina

Primeira Leitura, p.54-61
31 de Dez de 2003

A hora e a vez da turma da botina

Vera Magalhães

Com conceitos extraídos do agronegócio, ramo no qual é considerado o "rei", o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, chama a atenção ao apostar numa gestão arrojada, em investimentos em infra-estrutura e em boa dose de polêmica; já há quem diga que é apenas o início de uma nova elite política no Estado, com ambições que podem ir bem além do Mato Grosso.
NO MATO GROSSO - Nos últimos anos, o Mato Grosso virou assunto nacional ao se transformar no grande celeiro do país, com a maior lavoura de soja, a maior de milho e a segunda de algodão, o maior rebanho de bovinos e outras estatísticas econômicas, sempre superlativas. Desde janeiro, o Estado começa a experimentar outra mudança, derivada daquela que o transformou em meca do agronegócio. Essa elite que produz a principal fonte de pujança econômica do país chegou ao poder na política e também ali vem quebrando alguns tabus e impondo novos paradigmas.
À frente da nova revolução está justamente o "rei da soja" do Brasil, o gaúcho Blairo Maggi, 47 anos, eleito no primeiro turno em 2002, depois de ter vencido o grupo do até então considerado imbatível ex-governador Dante de Oliveira (PSDB). Sem passado político, sem identidade partidária e com um discurso baseado em quatro "pilares" - eficiência, ousadia, transparência e honestidade -, Maggi decolou de pouco mais de 3% nas intenções de voto em agosto para uma vitória acachapante. No último debate, já praticamente eleito, cunhou a expressão que mais se aproxima da elite política por ele representada, que tem planos de se tornar hegemônica no Estado: a "turma da botina".
Maggi foi eleito pelo PPS, sigla para designar Partido Popular Socialista, herdeiro, ora vejam, do Partido Comunista Brasileiro. Algo irônico para o maior agrocapitalista do Brasil, mas nada que o faça se perder em tergiversações. Maggi não dá a mínima para o rame-rame da vida partidária, filiou-se ao PPS um ano antes da eleição, convencido por um prefeito, produtor rural, como ele, e saca uma explicação surpreendente para dizer por que está no partido certo: assim como sempre fez como empresário, seu objetivo no governo é "socializar os lucros".
Ou, em outras palavras: investir, investir e investir. O Mato Grosso, depois de 11 meses da gestão Maggi, é um canteiro de obras. Mais especificamente, de estradas. Primeira Leitura viajou até o Estado para acompanhar um dia de trabalho do governador. Um dia corno ele gosta: fora do gabinete, visitando o interior do Estado. Às 8h, dois jatinhos alugados deixaram o hangar do governo, em Cuiabá, rumo a Poconé, a porta mato-grossense para o Pantanal. Lá, o governador entregou mais de 200 títulos de casas populares para pessoas que esperavam os documentos havia 20 anos, deu a largada na construção da Vila André Maggi - assim batizaria em homenagem ao seu pai - e visitou as obras de terraplenagem e cascalhamento da rodovia Transpantaneira.

O ESTILO DO GOVERNADOR
Maggi leva o pragmatismo do agronegócio para a política

Pé na estrada
0 governador lançou o governo itinerante no início do mandato. Desde que assumiu, já percorreu o Xingu de barco, visitou reservas indígenas, percorreu a Transpantaneira de carro e passou a vistoriar obras pessoalmente.
Momento de reflexão
Todas as terças-feiras, às 8h, o gabinete do governador é aberto aos funcionários e secretários para a realização de um culto, com representantes de várias religiões. Maggi é católico e ex-coroinha.
O "antipolítico"
0 governador diz não estar interessado na briga entre o ministro Ciro Gomes (Integração) e o presidente do PPS, Roberto Freire. Apesar de ser um capitalista, se filiou, por conveniência local, ao Partido Popular Socialista. Primeira Leitura o viu recusar convites políticos para cumprir horário e inaugurar obras ao lado de prefeitos que foram seus adversários na campanha.
Transgênicos
O governador é favorável à liberação da soja transgênica, mas baixou um decreto que proíbe seu plantio e sua comercialização no Estado.
MST
Maggi acha que o presidente Lula deveria pedir ao MST a lista de todos os acampados, assentá-los de unia vez, fornecer estrutura para os assentamentos e, depois, dar a reforma agrária por encerrada.
Ambientalistas
Vive comprando briga com ambientalistas. Defende a expansão da Amazônia legal e causou constrangimento ao dizer, num evento no qual estava a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), que os 24 mil km` desmatados em 2002 não eram "nada".

No discurso de rigor, ele prometeu entregar outros 45 mil títulos semelhantes e disse que o fará até 2004, "para que nenhum cidadão possa mais fazer política com o que é um direito das pessoas". Metódico, recusou dois convites do prefeito local para visitar obras que não estavam no percurso e poderiam atrasar a apertada agenda que ainda teria a cumprir.
A Transpantaneira é uma das 62 frentes de trabalho em estradas que estão em plena atividade no Estado. Não pode ser asfaltada, por proibição do Ibama, mas teve as pontes de madeira recuperadas, e o leito, regularizado. Donos de hotéis da região teceram loas à iniciativa, que, consideram, vai incrementar o turismo local.
A obra está sendo tocada em parceria com o 9o BEC (Batalhão de Engenharia e Construção) do Exército, que ajudou a abrir a maior parte das estradas do Estado, nos anos 70, mas que se preparava para deixar o Mato Grosso por não ser acionado pelos governos anteriores ao atual. A participação do Exército barateia a obra porque elimina a necessidade de empreiteira.
A construção de estradas é o carro-chefe da administração e, não coincidentemente, o principal pleito dos produtores, como o próprio Maggi. Ao fim deste 2003, o governo terá construído 509 quilômetros de asfalto novo, recuperado outros 2 mil e melhorado 9 mil quilômetros de estradas não asfaltadas. Maggi justifica a prioridade dizendo que, na campanha, em todos os lugares aonde ia e perguntava qual deveria ser sua prioridade, ouvia sempre: "Em primeiro lugar, estrada; em segundo, estrada, e, em terceiro, estrada".
Por isso, ele colocou à frente da Secretaria de Transportes uni de seus dois homens de confiança: o administrador Luiz Antônio Pagot, até então superintendente da Hermasa, a rentável hidrovia do Grupo Amaggi. Como o salário de secretário era pequeno, o governador instituiu o primeiro de seus polêmicos métodos de gestão: continua pagando a Pagot e ao outro secretário de confiança, Valdir Teis (Fazenda) unia participação nos lucros das empresas das quais eram executivos.
O uso da fortuna pessoal a serviço da política foi inaugurado na eleição. Maggi foi o maior financiador da própria campanha, empregando no projeto, como pessoa física, nada menos de R$ 3,2 milhões. Outros R$ 2,9 milhões vieram do Grupo Amaggi, e mais R$ 600 mil foram doados pela mãe, Lúcia Borges Maggi. No total, sua campanha somou R$ 10,39 milhões, o que fez dela a terceira mais cara para governos estaduais, atrás apenas dos gastos de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG), que disputavam em colégios eleitorais infinitamente maiores.
As cifras são polpudas, ruas singelas perto do império de soja ostentado pelo Grupo Amaggi. O governador é, hoje, o maior produtor individual do grão no mundo. O faturamento estimado das empresas para 2003 é US$ 550 milhões (veja quadro nesta edição sobre os negócios da família).

1 ISTO É BLAIRO MAGGI
"Sei que vou ser eleito, porque acabou o tempo da turma do tênis. Chegou o tempo da turma da botina."
No encerramento do último debate da campanha, em 2002
"Não se deixem impressionar com os mais recentes números sobre o avanço do desmatamento na Amazônia. Esses 24 mil quilômetros quadrados não representam absolutamente nada."
Em julho, durante seminário de meio ambiente em Alta Floresta, na presença da ministra Marina Silva
"Para mim, um aumento de 40% do desmatamento não significa nada e não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui. É claro que não sinto. Eu sou uni cidadão brasileiro, um governador que precisa defender o emprego e a renda neste país:'
Em entrevista ao jornal The New York Times, em setembro, ao responder sobre e avanço do desmatamento
"Agricultor rico, como eu, precisa ser fiscalizado, para cumprir a lei. E precisa só que o governo não atrapalhe."
Em discurso em 2/11, em Terra Nova do Norte, divisa com o Pará
"Meu pai nunca foi de esperar que as coisas acontecessem. Ele ia na frente, abrindo a picada. Sigo seus passos sem medo de errar."
Em discurso em Poconé (MT), no dia 17/11
"Não quero ver ninguém fazendo política em cima de uma coisa que é obrigação do Estado"
Em Poconé, ao distribuir 200 títulos de terras atrasados

A oposição diz que há conflito de interesses, e há uma ação judicial em curso contra a prática de completar o salário dos secretários. Também há acusações de que as obras que Maggi faz em estradas teriam corno objetivo beneficiar as terras de sua família. Pode até ser. Ocorre que, para que nenhuma de suas propriedades fosse, de algum modo, beneficiada, só mesmo não fazendo estrada nenhuma... Afinal, seus domínios se espalham por praticamente todas as regiões do Estado.
A verdade é que o estilo "mãos à obra" adotado nos primeiros meses pegou a oposição no contrapé e tirou o discurso do PSDB, o principal (e único) adversário de Maggi no Estado. Na mesma velocidade em que as obras começavam, os tucanos perdiam deputados, prefeitos e vereadores para os partidos que apóiam o governador - uma salada na qual cabem PPS, PFL, PP... E quem mais vier. Na campanha, Maggi tinha o apoio de apenas 20 dos 139 prefeitos do Estado. Hoje, contam-se nos dedos os que ainda resistem à sua liderança.
GOVERNAR É... Em outra parada, acompanhado por Primeira Leitura, o governador pôde mostrar à reportagem um dos primeiros resultados concretos dessa vasta rede de aliados. Maggi vistoriou as obras do primeiro de 11 consórcios fechados com prefeitos e produtores para a pavimentação de rodovias - o carro-chefe do programa Estradeiro. Em seis meses, foram asfaltados 65 dos 95 quilômetros da rodovia da Mudança, que liga as prósperas cidades de Lucas do Rio Verde e Tapurah. "Abrir estrada é levar felicidade", costuma dizer o governador, reinventando o slogan do presidente Washington Luís ("Governar é abrir estradas"), que, muito a propósito, virou nome de... estrada em São Paulo. Para um Estado que depende da malha viária, ainda precária, para escoar grãos numa quantidade maior a cada ano, a divisa deixa de ter aquele certo ranço algo alienante com que a frase entrou para a história para assumir uma dimensão realmente prática.
Tanto é assim que o modelo de parceria com municípios e produtores chamou a atenção do governo federal. Depois de uma visita a Cuiabá, o ministro José Dirceu (Casa Civil) convidou Maggi a apresentar o sistema ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que ele seria usado na formatação do PPP, o programa de Parcerias Público-Privadas lançado no mês passado.
O ex-sindicalista Lula, aliás, adora o ruralista Maggi. Em junho, o presidente esteve em Rondonópolis, sede do Grupo Amaggi, onde conheceu um conjunto habitacional e um terminal rodoviário construídos pelo grupo. Com o mesmo voluntarismo com que, como empresário, substitui o Estado, Maggi começou a ocupar o lugar que estaria reservado ao governo federal enquanto o dinheiro não vem: está recuperando rodovias federais para receber o reembolso algum dia, quando o arrocho passar.
Para Maggi, o grande produtor não precisa do Estado. "Precisa apenas ser fiscalizado. O Estado deve agir para o pequeno", diz. Uma de suas principais promessas é fazer o "ajuste social" no Estado. Que, para começar, contou também com uma boa dose de ajuste fiscal clássico, à moda de Palocci. O governo renegociou contratos com empreiteiras e fornecedores e instituiu o pregão eletrônico para todas as compras. No Detran, cassou centenas de senhas que davam acesso ao sistema e, logo no primeiro mês, a arrecadação explodiu, crescendo mais de 100%.
Nos primeiros 11 meses, o aumento geral de receitas chega a 18%. Depois de assumir com o 13" dos funcionários de 2002 atrasado, Maggi se gaba de que vai terminar de pagar o benefício deste ano no dia 22 de dezembro, depois de quitar todos os passivos. Mesmo com o ritmo de investimentos em alta, o Estado vai encerrar 2003 no azul.
PRESIDÊNCIA? Com tudo isso, já há quem conte com um longo período de domínio da turma da botina na política mato-grossense. O feito de 2002 não foi pequeno. Maggi era um neófito na política. Tinha sido suplente do senador Jonas Pinheiro (PFL), mas só se convenceu a disputar o governo depois de convencido pelo presidente do PPS, Roberto Freire, e por políticos locais ligados ao agronegócio, como o prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta. O ex-governador Dante de Oliveira tinha uma aprovação de mais de 80% e costumava dizer que elegeria "um poste" se assim o decidisse. Lançou para sua sucessão o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que começou cumprindo a profecia, com quase 50% das intenções de voto.
O horário eleitoral começou a mudar o quadro, e, diante da ameaça, os tucanos partiram para o ataque. Num dos programas, apresentado pelo próprio governador, os tucanos fizeram acusações contra o pai de Maggi, morto havia poucos meses. Nesse dia, o então candidato do PPS teria perguntado aos aliados: "Tem jeito de derrotar também o Dante para o Senado?". Começou, então, a inflar a candidatura da petista Serys Shlessarenko. Maggi levou o governo do Estado, e Serys fez o que parecia ainda mais difícil: venceu Dante.
Os aliados do governador não escondem que seu projeto é, um dia, disputar a Presidência da República. Os planos ambiciosos são de arrepiar não só os tucanos como também os ambientalistas e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que vivem em rota de colisão não só com a expansão desenfreada do agronegócio como também com a defesa desabrida que Maggi faz dela.
Em junho, o governador constrangeu a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) ao dizer, num seminário sobre ecologia, em Alta Floresta, que o aumento de 40% do desmatamento da Amazônia no ano anterior não representava "nada". Declaração semelhante provocou estardalhaço mundial ao ser publicada cm entrevista pelo jornal norte-americano The New York Times.
Maggi defende a exploração do cerrado dentro dos limites permitidos por lei e o avanço da agricultura sobre a Amazônia Legal. Também prega a redução das reservas indígenas, que ocupam boa parte do território do Mato Grosso, e tem uma receita de como o presidente Lula deveria lidar com o MST: pegar uma lista de todos os acampados, assentá-los de uma só vez e depois dizer um sonoro "Agora chega, vão trabalhar".
Para não dar margens a ataques de adversários, o governador baixou um decreto que proíbe o cultivo e a venda de soja trangênica no Estado - embora seja favorável à sua liberação no país - e recebeu o MST poucas horas depois de o movimento ter acampado na frente do Palácio Paiaguás. Pegos de surpresa, os sem-terra disseram que ainda não tinham pauta de reivindicação. Resposta de Maggi: "Azar deles, fizessem a pauta antes para depois acampar. Agora, vou recebê-los".
Eis o estilo da turma da botina.

l Programa Estradeiro - Consórcios rodoviários
É o carro-chefe do governo, com investimentos de R$ 115 milhões. 0 governo tem 62 frentes de trabalho em rodovias e está trabalhando em 9 km de rodovias não pavimentadas e em 2 mil km de rodovias pavimentadas. Neste ano, fará 509 km de asfalto novo, mais que a soma dos demais Estados. Parte das obras é feita em consórcios com municípios e produtores ou em parceria com o Exército. Deve custear parte da recuperação das estradas federais. A previsão de investimento em quatro anos é de R$ 564,8 milhões.
Programa Meu Lar
Também executado pela Secretaria de Transportes (que terá o nome mudado para Infra-Estrutura). 0 governo vai investir R$ 43 milhões neste ano na construção de casas, em várias modalidades (casas de alvenaria, casas de madeira etc.). A previsão para os quatro anos são 31 mil casas populares.
Programa "Tequenfim"
0 nome esquisito é unia corruptela da expressão "até que enfim". Trata-se de um projeto de regularização fundiária para a entrega de 45 mil títulos de propriedade em quatro anos pelo Intermat (Instituto de Terras de Mato Grosso). Neste ano, serão entregues 8 mil. Alguns dos títulos estavam parados há mais de 20 anos. Trata-se de um programa barato - estima-se o custo em R$ 20 por título.
Programa Nossa Terra, Nossa Gente
Programa fundiário implementado em conjunto pelo Intermat e pelo Incra. 0 governo dá 2 hectares com casa, água e esgoto, fornece sementes e garante uma via de comercialização
para famílias sem-terra. Cada unidade custa R$ 5,5 mil. Já há unidades em construção em três municípios.
Programa Natal sem Fila
Lançado no início do mandato, com a meta de zerar a fila para cirurgias, que era de 2,6 mil pacientes quando o governador assumiu. A meta já foi cumprida antes mesmo do Natal. 0 programa Saúde da Família dobrou o número de equipes desde o início
do mandato.
Novas viaturas
Graças ao aumento de arrecadação do Detran, foram compradas 340 novas viaturas para as polícias Civil e Militar. A nova receita também foi usada para comprar máquinas para pavimentação, que foram doadas ao 9` BEC (Batalhão de Engenharia e Construção) do Exército.
Pregão eletrônico e renegociação de contratos
0 pregão virtual foi instituído para todas as compras governamentais. Na compra de medicamentos, propiciou uma economia de 620/o. As secretarias também chamaram todos os fornecedores e empreiteiros para renegociar os contratos. Um contrato de R$ 27 milhões, para o asfaltamento da MT-326, baixou de R$ 27 milhões para R$ 5,5 milhões.
Pagamento em dia do funcionalismo
0 governador assumiu com o 13o. de 2002 do funcionalismo em atraso. Fechará o ano tendo pago 14 salários para todas as categorias. 0 131 deste ano será finalizado em 22 de dezembro.

A TURMA DA BOTINA
Quem é quem no novo grupo que dá as cartas na política de Mato Grosso

BLAIRO MAGGI (PPS) - GOVERNADOR
Aos 47 anos, o governador de Mato Grosso ostenta o título de maior produtor individual de soja do mundo. Graças ao grão, carro-chefe do grupo que presidia até assumir, amealhou um patrimônio pessoal de mais de R$ 20 milhões. A experiência política anterior à vitória foi a suplência do senador Jorras Pinheiro (PFL), ele 1994 a 2002. Venceu o grupo do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB) no primeiro turno, com um discurso mudancista. No governo, prioriza estradas e se cercou de aliados do mundo do agronegócio.

LUIZ ANTÔNIO PAGOT - SECRETÁRIO DE TRANSPORTES

Responsável pela área em que o governo mais investe, acumula, além dos Transportes, as áreas de Habitação e Energia Elétrica. Administrador de empresas formado pela Universidade do Paraná, gaúcho como Maggi, trabalhou no Grupo André Maggi desde 1995, quando começou a construir a Hermasa Navegação, da qual era superintendente até assumir a secretaria. É um dos dois homens de estrita confiança do governador - que complementa seu salário com participação nos lucros das empresas.

WALDIR JÚLIO TEIS - SECRETÁRIO DE FAZENDA
Segundo pilar do governo, também migrou diretamente do Grupo André Maggi, do qual era diretor jurídico, para o secretariado de Maggi. Foi o primeiro secretário anunciado pelo governador. Sua missão na pasta era aumentar a arrecadação, comprometida por sonegações. Conseguiu ampliar o volume de receitas de forma vertiginosa, a ponto de permitir ao Estado investir e comemorar o fim do ano sem déficit. Também tem o salário complementado pelas empresas do governador.

ROBERTO FRANÇA - PREFEITO DE CUIABÁ
Ex-aliado do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB), com o qual rompeu ao ser preterido para a disputa do governo do Estado. Atualmente em segundo mandato, filiou-se ao PPS em 2002, depois de ter saído do PSDB. Sua mulher, Iraci, é secretária do governo Maggi, no qual França ainda tem várias áreas de influência.

OTAVIANO PIVETTA - PREFEITO DE LUCAS DO RIO VERDE

Prefeito de uma das cidades mais prósperas do norte do Estado, que concentra a produção de soja e de outras culturas, foi um dos responsáveis pela decisão de Maggi de entrar de vez na política. Foi unia espécie de modelo para o governador, pois também é um grande produtor que entrou para a política. Convenceu o governador a se filiar ao PPS, partido no qual ingressara pouco antes. O grupo dos prefeitos aliados se completa, ainda, com o de Rondonópolis - sede do Grupo Amaggi -, Percíval Muniz. que também é presidente estadual do PPS, e o de Várzea Grande, Jaime Campos (PFL).

Marcha para o cerrado
Saga da família Maggi tem contornos épicos e cifras espantosas; grupo tem hidrovia, hidrelétrica e porto privados e paga 14o. salário a funcionários
NO MATO GROSSO - A trajetória da família Mago e de outras tantas que fazem o milagre do agronegócio no Mato Grosso lembra, pelos contornos épicos, a conquista do Oeste norte-americano. Aqui como lá, os pioneiros abriram estradas à faca, compraram, muitas vezes, a preço de banana, terras que depois valeriam milhões e construíram cidades onde antes só havia, no caso, o cerrado considerado infértil.
Foi na década de 70 que o então pequeno produtor gaúcho André Maggi, radicado desde os anos 60 no Paraná, decidiu fazer como milhares de famílias do Sul do país e atender ao chamado do governo militar, que incentivava a interiorização do Brasil como estratégia de integração nacional. Era a época do Projeto Rondon e do lema "integrar para não entregar". Primeiramente, os Maggi se fixaram na chapada dos Parecis, a noroeste do Estado, onde fundaram o vilarejo de Sapezal, base para o que viria a ser uni império da soja. Foi a família que abriu as nuas, construiu a maioria das casas, instalou a rede elétrica, antes de qualquer ação do Estado chegar por lá. Não por acaso, André Maggi foi o primeiro prefeito do município, eleito em 1996.
A soja foi e continua a ser o cano-chefe do grupo, que domina todas as etapas de sua produção, desde o desenvolvimento de sementes até a exportação
própria. Para melhor escoar o que produz, em I995 o grupo projetou e construiu uma empresa de transporte fluvial, a Hermasa, composta hoje de um terminal em Porto Vento, um porto em Itacoatiara (AM), 45 balsas, três rebocadores, duas lanchas de pesquisa e dez empurradores. Do nada, graças a investimentos próprios e a financiamentos da Sudam e do BNDES, a Hermasa hoje tem USA 160 milhões em ativos.
Blairo Maggi era o diretor-presidente do Grupo Amaggi até ser eleito, no ano passado. Foi substituído no comando por Pedro Jacyr Bonjiolo, uni executivo que não faz parte da família. O grupo, cujo faturamento global deve chegar a US$ 550 milhões neste ano, financia a construção de casas para funcionários, paga 14o salário e tem unta política de participação nos lucros.
Há alguns anos, Maggi passou a ostentar o título nada modesto de maior produtor individual de soja do mundo, herdado de Olacyr de Moraes - de quem o grupo comprou também uma fazenda, a Itamaraty Norte. Seu patrimônio pessoal é estiolado em R$ 20 milhões. A produção de grãos, antes baseada quase exclusivamente na soja, inclui milho e algodão, ambos com produtividade e rentabilidade crescentes. As cifras do grupo são sempre espantosas. A produção própria de grãos deve atingir 162 mil hectares na safra 2(X)3/2004. Dali sairão 5,50 mil toneladas de grãos, 40% mais que na safra anterior. Em três anos, o objetivo é chegar a 200 mil hectares plantados e 7(X) mil toneladas colhidas.
Além de ter uma hidrovia e uni porto privados, o Grupo Amaggi construiu a própria usina hidrelétrica, a Santa Lúcia, que abastece não só a fazenda Tucunaré como toda a cidade de Sapezal e as demais propriedades da região. A sede do grupo foi transferida há alguns anos para a cidade de Rondonópolis, mais ao sul do Estado. - VM
O REI DA SOJA
Patrimônio pessoal estimado - R$ 20 milhões

EMPRESAS DO GRUPO ANDRÉ MAGGI
Amaggi Exportação e Importação
É a empresa líder do grupo, fundada em 1977. Cuida da exportação dos grãos produzidos pelo grupo e da produção de sementes. Atua em seis Estados.

Agropecuária Maggi
As primeiras fazendas da família foram no Paraná. Hoje, a área de cultivo chega a 162 mil hectares.
Hermasa Navegação da Amazônia Ltda.
.Empresa de transporte fluvial que atua na hidrovia Madeira-Amazonas e escoa a produção pelo porto de Itacoatiara. Totalmente privada, é uma sociedade entre o Grupo Amaggi e a BR Distribuidora, que tem 10,5% do empreendimento, cujos ativos chegam a US$ 160 milhões.

Maggi Energia
0 grupo tem uma usina hidrelétrica privada, a Santa Lúcia, com capacidade para gerar 12,5 megawatts. Abastece não só as fazendas como toda a cidade de Sapezal, construída pelo pai do governador, André Maggi.

O IMPÉRIO EM NÚMEROS
Área plantada na safra 2003/2004 - 162 mil hectares (128 estádios rio Maracanã)
Previsão de colheita na safra - 550 mil toneladas, distribuídas entre soja (370 mil toneladas), milho (180 mil toneladas) e algodão (15 mil toneladas). É um crescimento global de 40% em relação à safra 2002/03
Faturamento estimado para 2003 - US$ 550 milhões (foram US$ 400 milhões em 2001)
Previsão de exportação da safra - 2,5 milhões de toneladas de soja (o grupo também comercializa lavouras de outros produtores)
Valor previsto para as exportações - US$ 400 milhões

Primeira Leitura, n. 22, dez. 2003, p. 54-61

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