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Hora de retomar o programa nuclear

O Globo, Opinião, p. 19
Autor: FRANCO, Albano
18 de Jul de 2015

Hora de retomar o programa nuclear
A energia termonuclear é limpa e uma opção economicamente viável, já que o preço do megawatt/hora comercializado por Angra 1 e Angra 2 é inferior a todas as fontes térmicas

ALBANO FRANCO

Passado o trauma do acidente de Fukushima, motivado por um terremoto, fenômeno geológico tão comum no Japão e praticamente inexistente no Brasil, é hora de se retomar o programa nuclear com a instalação de usinas nas proximidades dos grandes centros consumidores, sendo que duas no Nordeste, como forma de diversificar a matriz energética a partir de fontes alternativas ambientalmente limpas, a exemplo da energia termonuclear.
É sempre bom lembrar que 85% da geração de eletricidade no Brasil provêm de fontes hidráulicas, que geram cada vez menos energia em decorrência da redução do volume dos reservatórios por conta das prolongadas secas. Com efeito, desde a década de 1980, a taxa de crescimento do volume de água vem sendo bastante inferior à potência hídrica instalada. Como consequência, o crescente suprimento adicional é basicamente realizado por usinas térmicas à base de gás, óleo combustível, carvão e biomassa, fontes poluidoras e de custos elevados.
Nesse contexto, a energia termonuclear, além de limpa, apresenta-se como uma opção economicamente viável, já que o preço do megawatt/hora comercializado pelas usinas Angra 1 e Angra 2 é inferior a todas as fontes térmicas. De fato, enquanto o preço da energia dessas usinas foi homologado, em 2015, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em R$ 162,09/MWh, o último leilão, ocorrido em 2015, teve preço médio de R$ 183,66/MWh, sendo R$ 182,25/MWh para as hidrelétricas, R$ 205,65/MWh para as pequenas centrais hidrelétricas, R$ 276,50/MWh para as térmicas e R$ 277/MWh para as usinas a biomassa. Vê-se que o preço da energia das usinas nucleares é inferior aos preços de todas as térmicas que venderam eletricidade no leilão de energia nova neste ano.
Convém ressaltar que as usinas de Angra 1 e Angra 2 têm respondido com excelente desempenho às demandas do Operador Nacional do Sistema (ONS), com sucessivos recordes de produção tanto em termos de energia gerada, com fatores de capacidade superando 90%, como em termos de potência máxima instantânea. Isso coloca o pequeno parque nuclear brasileiro em posição de destaque no ranking mundial, apresentando o quarto melhor desempenho no triênio 2011-2013, sendo o segundo melhor em 2012, de acordo com os dados da Agência Internacional de Atômica (Aiea).
Incluído no ranking das dez maiores economias do mundo, o Brasil é o país que menos possui usinas nucleares: apenas duas em operação e uma em construção, muito embora detenha uma das maiores reservas de urânio do planeta, estimadas em 310 mil toneladas. Basta lembrar que, no âmbito do Brics, a Rússia tem 34, a China 23 e a Índia 21 usinas. Já os Estados Unidos, país que mais gera energia nuclear, possui 99 usinas, seguido da França com 58 e do Japão com 48 usinas.
Enfim, este é o momento de o país retomar a construção de novas usinas nucleares, numa parceria entre governo e iniciativa privada, sob pena de ficarmos cada vez mais dependentes da energia térmica, poluente e de elevados custos, o que poderá comprometer o crescimento futuro da economia brasileira. E, em razão, do esgotamento hidrelétrico e da rápida deterioração do Rio São Francisco, o Nordeste emerge como prioridade impostergável para a imediata instalação de uma primeira usina - e o estado de Sergipe apresenta as melhores condições de infraestrutura, linhas de transmissão e localização privilegiada, já que está a meio caminho dos grandes mercados regionais.

Albano Franco é membro do Conselho Superior de Economia da Fiesp e conselheiro emérito da CNI

O Globo, 18/07/2015, Opinião, p. 19

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