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Homenagem dos povos das florestas

CB, Brasil, p. 8
24 de Set de 2007

Homenagem dos povos das florestas
Integrantes de grupos indígenas plantam árvores no Jardim Zoológico em lembrança às vítimas do acidente da Gol, ocorrido há quase um ano

Renato Freire
Da equipe do Correio

O forte calor e o tempo seco da manhã de ontem interromperam uma homenagem às vítimas da segunda maior tragédia da aviação brasileira. Representantes da Aliança dos Povos da Floresta e do Banco Mundial não conseguiram plantar as 154 mudas de espécies nativas do cerrado em uma área do Jardim Zoológico de Brasília. O número é igual ao de mortos no acidente com o Boeing 1907 da Gol, que colidiu com um jato particular em setembro do ano passado. "Infelizmente, só pudemos plantar 16 mudas. O clima está muito seco. Terminaremos quando as chuvas voltarem", afirmou o ambientalista Adilson Vieira, secretário-geral da organização não-governamental Grupo de Trabalho Amazônico.
O ato simbólico fez parte do último dia do Segundo Encontro Nacional dos Povos das Florestas. Nenhum dos familiares dos mortos no acidente da Gol esteve presente. O principal homenageado foi o ambientalista Ricardo Tarifa, uma das vítimas do desastre aéreo. "Ele conhecia a fundo a problemática ambiental e vivia aquilo em que acreditava", disse o também ambientalista Marcelo Coelho. Ele trabalhou com Tarifa durante 11 anos no Banco Mundial.
De Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o pai do ambientalista agradeceu a homenagem.
"Fico muito grato por isso. Quando for a Brasília, irei ao local.
Plantar árvores é sempre muito importante", afirmou Orlando Tarifa, que não foi informado sobre o ato. Ricardo Tarifa já havia recebido homenagem semelhante em outubro do ano passado, 11 dias depois da tragédia, que aconteceu no dia 29 de setembro. Na ocasião, cerca de 100 pessoas se reuniram em meio ao verde do Jardim Botânico de Brasília. As cinzas do engenheiro foram jogadas nos pés de dois ipês, plantados em uma área reservada do parque de conservação.
Desta vez, as mudas foram plantadas em uma área degradada do zoológico, onde ficava o antigo cemitério de animais. Para ajudar na recuperação do espaço, foram escolhidas espécies do cerrado resgatadas de ambientes modificados pela agricultura ou inundados por reservatórios hidrelétricos. "Queremos representar a diversidade dentro da espécie", explica Thomas Ludewigs, especialista ambiental do Banco Mundial. Mais de 200 mudas serão colocadas ali. A iniciativa também pretende alertar a população para a conservação das florestas.
Relatório
De acordo com a organização do Segundo Encontro Nacional dos Povos da Florestas, 5.044 pessoas, membros de cerca de 80 grupo indígenas, participaram do evento.
A previsão inicial era que 10 mil comparecessem. Foram discutidas políticas públicas de desenvolvimento sustentável da Amazônia, propostas para o combate à pobreza nas comunidades da floresta e problemas decorrentes das mudanças climáticas que ocorrem em outros biomas, como caatinga, mata atlântica e cerrado, além do pampa e do pantanal.
Depois de seis dias de mobilização, os representantes escreveram uma declaração com propostas de ações para os assuntos debatidos. O relatório, chamado de pacto sócio-econômico ambiental, deve ficar pronto dentro de um mês e será entregue ao governo federal. A primeira edição do encontro, que teve o ambientalista Chico Mendes com um dos inspiradores, aconteceu em 1989. Na época, as principais reivindicações eram o reconhecimento oficial dos povos das florestas e a defesa das terras dessas populações.

CB, 24/09/2007, Brasil, p. 8

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