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Hábitos alimentares indígenas - 1

Gazeta Digital - http://www.gazetadigital.com.br/
Autor: Elias Januário
29 de Abr de 2011

Entre os povos indígenas existe um rico acervo de tradições e costumes, que são transmitidos de geração para geração ao longo dos séculos. Dentre essas práticas culturais vamos destacar em nossa conversa de hoje, sobre os hábitos alimentares, que em sua maioria estão cercados de lendas, rituais e tradições, bem como de restrições e rituais para o preparo de alguns alimentos.

Estamos realizando um estudo com as etnias de Mato Grosso, onde a mestranda Gabrielle Balbo Crepaldi tem se dedicado especificamente a este tema como pesquisa, no sentido de compreendermos melhor uma parte considerável das concepções cosmológicas e práticas ritualísticas que envolvem o preparo e consumo de alimentos entre as comunidades indígenas de Mato Grosso.

Neste texto de hoje, vamos abordar a questão das restrições alimentares existentes entre algumas das etnias de Mato Grosso, que envolvem valores matérias e espirituais da cultura de cada povo.

Ao sair para caçar um indígena leva consigo não só arco, flechas e outros instrumentos, mas também uma série de direitos e obrigações ligados à sua cultura. Que animais caçar, como procurar, quem na sua aldeia pode ou não comer determinado animal, que animais podem ou não serem abatidos, quais as consequências de suas ações rituais anteriores à caçada e uma série de outras preocupações.

A obtenção da alimentação não está, portanto, reduzida a uma simples ação comercial. Ao contrário, ela é revestida de valores culturais que dizem respeito ao código simbólico no qual essa sociedade encontra-se inserida.

As cosmologias indígenas, ou seja, os mitos e concepções de origem de tudo que existe naquele povo, representam modelos complexos e integrados que fazem parte da sociedade humana.

Não existe na natureza algo que afirme que não se deve comer carne de gambá, nem que na puberdade de um adolescente, não se pode comer carne de tatu que trará problemas no desenvolvimento da pessoa e dos familiares. Essas práticas na verdade são ditadas por regras culturais que são estabelecidas e adotadas na história de cada sociedade.

Na verdade essas práticas nada mais são do que a tradução de uma linguagem simbólica para um processo de seleção do que deve ser aproveitado do meio ambiente, seleção essa que é praticada por todas as sociedades humana, cada uma a sua maneira.

Gabrielle Crepaldi entrevistando alguns indígenas obteve informações de que entre o povo Aweti (Parque Indígena do Xingu), quando a mulher está gestante, ela não pode comer nenhum tipo de mamífero ou ave, nem peixe grande, se alimenta apenas de peixe pequeno. Se não seguir essa restrição a criança pode nascer com defeitos no corpo. Esta dieta também se estende ao marido. Já entre os Apiaká, a mulher que está de bebê recém-nascido não pode comer peixe liso e pimenta, se não tem fortes hemorragias. Também não pode comer nenhuma espécie de pato, porque prejudica a saúde da criança.

Para o povo Mebengokre, a mulher que está grávida não pode comer o peixe piranha, se não a criança nasce preta. Ela tem que comer carne de paca para que a criança nasça bonita. Entre os Bororo, a mulher estando grávida não pode comer carne de onça parda, se não tem complicações com o feto, podendo até levar a um aborto. Para os Xavante, a criança pequena não pode comer mingau de milho e nem tatu, se não adoece e tem sérios problemas de saúde.

Podemos perceber nestes exemplos, que os povos indígenas de Mato Grosso possuem várias restrições alimentares, em sua maioria relacionados ao período de gravidez e aos jovens em rituais. Essas práticas fazem parte de um importante patrimônio imaterial da cultura de nosso estado, que necessita ser conhecido e preservado pelas futuras gerações.

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