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Ha mais agua nas represas do que a Sabesp dizia

OESP, Cidades, p.C1
09 de Set de 2004

Há mais água nas represas do que a Sabesp dizia
Empresa é obrigada agora a revelar quanto tem de 'volume morto', uma reserva
Mauro Mug
Não chove na cidade há 51 dias. Mesmo assim, o nível do Sistema Cantareira subiu 17 pontos porcentuais de uma hora para outra. Em 31 de agosto, o reservatório estava com 22% de sua capacidade e, no dia 1.o, passou para 38,6%. Milagre? Não.
O acréscimo ocorreu porque a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) foi obrigada a divulgar o verdadeiro volume de água do sistema.
Antes, a empresa não falava sobre a reserva de 212 milhões de metros cúbicos das Represas Jaguari e Jacareí. Só para citar um exemplo, em 1.o dezembro de 2003, a Sabesp informou que o nível estava em apenas 1,6%. Mas a quantidade era 17 pontos porcentuais superior.
Para o diretor do Departamento de Engenharia Ambiental do Instituto de Engenharia (IE) de São Paulo, João Francisco Soares, a Sabesp dramatizou o problema na época. "A situação era difícil, mas não caótica. Esse volume (212 milhões de m3) é suficiente para abastecer a Grande São Paulo durante dois meses, com economia."
A existência da reserva - volume morto, no vocabulário dos técnicos - foi revelada após estudos do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado (Daee) e da Agência Nacional de Água (ANA). Esses trabalhos fizeram parte do processo de concessão da outorga, licença para captar água de rios, lagos, represas e aqüíferos. Os dois órgãos são os responsáveis pela permissão. O contrato da Sabesp, com prazo de 30 anos, havia vencido em 6 agosto e acabou sendo renovado.
Parte da água que forma o Cantareira vem da Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. O sistema abastece 39 municípios da Grande São Paulo e 58 do interior, na região da Bacia. Nos últimos anos, porém, a Sabesp e o Comitê da Bacia iniciaram disputa por mais água.
Cidades como Piracicaba e Campinas alegavam que não recebiam volume suficiente. A Sabesp, por sua vez, argumentava que a capital e a Grande São Paulo corriam risco de racionamento. O Cantareira abastece 9 milhões de pessoas da região metropolitana e 4,5 milhões da Bacia do Piracicaba.
"Por 30 anos, a Sabesp nos escondeu os dados", critica o presidente do Comitê da Bacia, Cláudio Antônio Mauro. "Imagino que a empresa omitia as informações para não dar mais água para os municípios da Bacia do Piracicaba."
O coordenador de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, Rui Brasil, nega que a empresa tenha escondido informações. Ele garante que o que houve foi uma mudança de regras de operação, após a realização de um novo estudo hidrológico. "A alteração permite que o sistema seja operado com maior segurança, além de recuperar e manter os níveis do reservatório."
Nessa polêmica, a solução foi adotar o meio-termo. A Grande São Paulo pode ficar com vazões entre 24,3 e 31 metros cúbicos de água por segundo. Já a Bacia do Piracicaba poderá retirar entre 3 e 5 m3/s. As quantidades variam de acordo com o nível do reservatório.
Uma portaria do Daee definiu ainda que a Sabesp acrescente o volume morto de 212 milhões de metros cúbicos ao total armazenado. As duas partes aprovaram a solução.
Racionamento - A Sabesp, por enquanto, não fala em risco de racionamento e informa estar esperando as chuvas de primavera.
Já Soares, diretor do Departamento de Engenharia Ambiental do IE, diz que isso pode ocorrer se os índices continuarem baixos. No Cantareira, choveu apenas 0,6 milímetros em agosto, quando a média histórica é de 41,3 milímetros.

OESP, 09/09/2004, p. C1

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