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Governo da Russia aprova Protocolo de Kioto

JB, Ciencia, p.36
01 de Out de 2004

Governo da Rússia aprova Protocolo de Kioto
MOSCOU. Após muita relutância, o governo da Rússia finalmente aprovou ontem a adesão do país ao Protocolo de Kioto. Agora, Kioto precisa apenas ser ratificado pelo Parlamento — o que é esperado, já que o governo tem uma confortável maioria de dois terços. A decisão russa foi saudada como uma chance de salvar o acordo mundial sobre mudanças climáticas, que estava fadado ao fracasso desde que o governo de George W. Bush decidiu, em 2001, que os Estados Unidos não o ratificariam.
Como os EUA são os maiores poluidores do mundo — emitem 25% de todo o dióxido de carbono lançado na atmosfera do planeta — o Protocolo de Kioto corria sério de risco de jamais sair do papel. O tratado prevê a redução das emissões de países industrializados de gases associados ao efeito estufa.
A adesão da Rússia, um dos grandes poluidores, era essencial para que Kioto entrasse em vigor. Para o protocolo ser implementado, precisaria ser ratificado por países que respondessem, juntos, por 55% das emissões mundiais de gases-estufa. A Rússia sozinha responde por 17% dessas emissões. Kioto já havia sido ratificado por 122 países, mas estes representavam apenas 44% das emissões mundiais. Com a Rússia, o percentual necessário será alcançado.
— Estamos muito animados. A perspectiva de sucesso é boa — disse a comissária de Meio Ambiente da União Européia, Margot Wallstrom.
A adesão do governo de Vladimir Putin foi vista como uma tentativa de Moscou de barganhar o apoio da União Européia à entrada no país na Organização Mundial do Comércio, o que deve conseguir. Porém, a Rússia não esconde o temor do impacto que os cortes das emissões representarão para sua economia.
Grupos ambientalistas disseram ontem que a adesão da Rússia aumentará a pressão sobre os Estados Unidos e a Austrália, outro país industrializado que se recusa a participar.

O acordo do clima
O que é o Protocolo de Kioto?
É um acordo internacional que prevê a redução das emissões dos países industrializados dos chamados gases do efeito estufa, principalmente dióxido de carbono. Esses gases foram associados ao aquecimento global, o aumento da temperatura da Terra que pode ter conseqüências catastróficas. O protocolo foi criado em 1997, a partir de preceitos acordados na Rio-92.
Quais são suas metas?
Os países industrializados devem se comprometer a cortar suas emissões combinadas em 5% abaixo dos níveis de 1990. A meta deveria ser alcançada entre 2008 e 2012. Cada país tem uma meta específica. Os países europeus reduziriam as emissões a um nível 8% menor; o Japão, 5%.
Por que a adesão da Rússia é tão importante?
Porque o país é um dos maiores poluidores do mundo. A Rússia espera ganhos políticos junto à União Européia, a maior defensora do acordo.
O acordo pode realmente resolver o problema climático?
Não. Se integralmente cumprido, o que será difícil, terá efeitos paliativos. Mas é consenso que sem ele a situação será muito pior.

Opinião
Um passo
A aprovação do Protocolo de Kioto pelo governo russo só depende agora do Parlamento, onde o Kremlin terra urna maioria confortável.
Era a adesão que faltava para a entrada em vigor do tratado, e representará forte pressão sobre os Estados Unidos, que ficam assim cada vez mais isolados em sua atitude de se recusar a enfrentar o problema do aquecimento global.
É razão para modesto otimismo numa área em que até agora, por todos os motivos, imperou o pessimismo.

O Globo, 01/10/2004, p. 36

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