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Governador do Pará promete desmatamento zero até 2020

O Globo, Especial, p. 7
15 de Jun de 2012

Governador do Pará promete desmatamento zero até 2020

Cristina Tardáguila
cris.tardagui1a@oglobo.com.br

O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB-PA), surpreendeu a plateia reunida ontem no Forte de Copacabana ao anunciar que seu estado vai trabalhar para ter desmatamento líquido zero até 2020, ou seja, que cada terreno legalmente desflorestado na região (para construção de rodovias, por exemplo) promova um replantio de árvores nativas num território de tamanho equivalente. Hoje, o Pará tem 33 milhões de hectares desmatados, um espaço equivalente ao tamanho de São Paulo. Em sua imensa maioria, esse território é explorado pela pecuária.
- Mas o que acontece é que no Pará há 18 milhões de cabeças de gado, menos de uma por hectare - destacou o governador. - Isso prova que ou há uma sub-utilização enorme da terra ou que elas estão abandonadas. E é isso que vamos combater.
Em tom acalorado, Jatene prometeu ainda trabalhar para modernizar a atividade. Ele quer que a pecuária paraense se torne mais produtiva e ocupe menos espaço. O Pará é o terceiro estado com mais gado no país, perdendo apenas para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

- Falar de desmatamento agora é irracional porque não precisamos de mais terra. Há terra para trabalhar! O que devemos é mudar a forma como isso é feito, que tem se mostrado ineficiente. Basta ter coragem para assumir a situação, mostrar os números e atuar.
Recentemente, o Pará aderiu ao acordo nacional que estabelece como meta reduzir o desmatamento do país em 80% até 2020. Jatene se mostra disposto a buscar os 100%.
- A Amazônia tem que experimentar o que chamo de tripla revolução: uma pelo conhecimento, porque sem ele não vem nem tecnologia nem produtividade; uma pela produção em si; e outra por novas formas de gestão e governança, em que aqueles que vivem da atividade participem da tomada de decisões.
O procurador do Ministério Público Federal do Pará Daniel Azeredo, que compôs a mesma mesa que apresentou o Programa Municípios Verdes, que já envolve 91 cidades paraenses, concordou com Jatene.
- Algumas ONGs que estão aqui na Rio+20 andam dizendo que a época do ouro da defesa da Amazônia acabou em 2009, que estamos diante do desmantelamento das políticas de governo para a floresta. Mas, paradoxalmente, o desmatamento no Brasil cai em níveis históricos. Como se explica isso? Para mim, pelo movimento dá base que acontece no Pará, por exemplo. Até a chegada do Programa Municípios Verdes, o desmatamento era uma questão do governo federal. Agora é o local que opina e decide.
A geógrafa Bertha Becker, especialista em desenvolvimento da Amazônia e membro da Academia Brasileira de Ciências, porém, disse que precisaria de dados mais contundentes para poder acreditar que haverá desmatamento zero no Pará.
- Já existem estudos que mostram que o desmatamento está sendo substituído pela degradação. Corta-se a árvore só até a metade e os satélites não pegam porque é de cima para baixo. Mas eu sou otimista.
Na segunda mesa de ontem do evento Humanidades 2012, o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD-AM), destacou que a Amazônia brasileira está a serviço da Humanidade, mas que os brasileiros não devem permitir que nenhum outro país venha ajudá-los a preservá-la.
- Nós sabemos fazer nosso dever de casa - afirmou. - Aquele US$ 1 bilhão doado pela Noruega e a Alemanha ao Fundo Amazônia e os US$ 30 bilhões que a comunidade internacional vem pensando em nos repassar não fazem falta ao Brasil. Nós não precisamos disso.
Segundo Aziz, o primeiro passo para a sustentabilidade em seu estado é a "urgente regulamentação da questão fundiária", por meio do programa federal Terra Legal.
- Não existe sustentabilidade sem regulamentação fundiária porque o indivíduo que está sem uma terra legal não pode ter acesso a crédito, por exemplo. Precisamos pedir celeridade ao governo Dilma. Venho à Rio+20 para isso também.
Criado em 2009, o Programa Terra Legal busca regularizar as ocupações legitimas (não grileiros) na Região Norte do país.

O Globo, 15/06/2012, Especial, p. 7

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