VOLTAR

Geografia da crise mostra as diferencas no pais

GM, Internacional, p.A12
06 de Jun de 2005

Geografia da crise mostra as diferenças no país
A crise boliviana deixa em evidência a ampliação da brecha entre a zona andina e a planície. O mapa dos protestos no país de 1.1 milhão de quilômetros quadrados ampliou-se de La Paz ao restante do país, com bloqueios nas estradas, incluindo as que levam aos países vizinhos da Argentina, Chile, Peru e Paraguai.
O protesto original surgiu da reivindicação nacional pelos recursos naturais, mas com o passar dos dias somaram-se a isso duas correntes opostas: a dos distritos andinos, de maioria indígena, a favor da realização de uma Assembléia Constituinte, e outra das províncias do leste, que contêm a maior riqueza do país, a favor de um referendo pela autonomia. Essa não é uma disputa teórica porque está em jogo o manejo dos recursos, muito mais generosos nos distritos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija que brigam pela autonomia, em detrimento de La Paz, Chuquisaca, Potosi, Cochabamba e Oruro, que preferem uma Assembléia Constituinte.
Diante desse conflito, o presidente da Bolívia, Carlos Mesa, decidiu, na sexta-feira, pela fórmula de convocar na mesma data de outubro as duas coisas, uma decisão que não dissipou a tensão acumulada, pois ainda não está claro como as duas propostas vão coexistir. De fato, já na sexta-feira, Santa Cruz desafiou Mesa e disse que convocará o referendo autonômico em 12 de agosto. Tudo isso só faz confirmar essa brecha entre os dois blocos, cujos dirigentes se confrontaram em público, em termos duros, nos últimos dias.
Mais grave, em Santa Cruz, a capital que lidera a campanha por autonomia, ocorreu, na semana passada, choque entre os camponeses e os indígenas associados ao grupo do influente dirigente de plantadores de coca Evo Morales, que marchavam e um grupo de uma organização chamada Unión Juvenil Cruceñista (UJC). Mesmo algumas versões dando conta de que houve ataque direto da UJC contra a marcha indígena-camponesa, em Santa Cruz algumas vozes se levantaram em sua defesa.
"A Unión Juvenil Cruceñista não está só", disse na quinta-feira Germán Castedo, vice-presidente do Comitê pro-Santa Cruz, uma organização que propõe que o distrito comece a implementar um regime autônomo. Enquanto isso, as organizações rurais qualificaram os unionistas de "fascistas" e "racistas".
Para o analista Antonio Socuro, os protestos que se multiplicaram na região andina em favor de uma Assembléia Constituinte é a conseqüência de que os grupos indígenas rurais "intuitivamente compreendem que isso poderá frear a expansão e a autoridade campestre".
"Sua luta é reivindicatória, é uma luta de classes e, em última instância, étnica, embora no país já não existam nem índios nem brancos. É um luta cultural em que estão em jogo formas de vida, hábitos e aspirações", disse Socuro.

GM, 06/06/2005, p. A12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.