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Funai cobra estudo de efeitos do Rodoanel

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: AFRA BALAZINA
21 de Abr de 2005

Órgão cobra análise dos efeitos que podem ser causados pela obra do governo do Estado em áreas indígenas

O trecho sul do Rodoanel, cuja construção será feita em uma área de mananciais e deve destruir quase 300 hectares de florestas, recebeu críticas até da Funai (Fundação Nacional do Índio).
Uma das maiores obras do governo Geraldo Alckmin (PSDB), o Rodoanel tem o objetivo de desafogar o trânsito de São Paulo -quando concluído, a expectativa é tirar 58% dos caminhões que transitam nas marginais. O trecho sul, com 57 km, atravessará Embu, Itapecerica da Serra, São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Ribeirão Pires e Mauá.
Segundo o indigenista e biólogo Júlio César de Moraes, não foi feito, conforme o combinado, um estudo étnico-ambiental na região em que ele passará. Seu traçado fica perto de duas áreas indígenas de povos guarani, chamadas de krukutu e guarani da barragem, em Parelheiros (zona sul paulistana). "O traçado ficará a 8 km da aldeia e a 3 km da área usada pelos índios, em linha reta."
O responsável pela área ambiental da Dersa, José Fernando Bruno, 51, afirmou que as aldeias estão fora da área de influência direta do Rodoanel. Entretanto, disse que, se o pedido de estudo for feito oficialmente pela Funai, será atendido imediatamente.

Insatisfação
Outras entidades também se mostraram insatisfeitas com as análises realizadas até agora: 15 delas elaboraram um documento em que pedem estudos complementares de impacto ambiental.
As manifestações ocorreram em audiência que durou mais de seis horas, anteontem, marcada por ordem da Justiça. Foi exigida a participação do Ibama (órgão ambiental federal) nas discussões sobre o Rodoanel, e o instituto deve dar um parecer ao final de 90 dias sobre três questões: áreas indígenas, reserva da biosfera e mata atlântica.
A gerente-executiva do Ibama em São Paulo, Analice de Novais Pereira, 43, afirmou que o instituto pretende ouvir as entidades que se manifestaram -entre elas SOS Mata Atlântica, SOS Mananciais, Instituto Pólis e Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental). "Não tomaremos qualquer decisão a toque de caixa. São temas delicados e podemos causar impactos irreversíveis."
Para Marussia Whately, coordenadora do programa Mananciais, do ISA (Instituto Socioambiental), faltou fazer uma análise das alterações causadas pelo trecho oeste, que foi inaugurado em 2002. "Precisamos saber concretamente quais são os problemas e vantagens gerados por ele. A partir disso, seria importante fazer uma reflexão em conjunto com a sociedade para evitar repetir os erros e melhorar o que deu certo."

Traçado
As entidades criticam não o Rodoanel em si, mas a forma como seu planejamento tem se dado e o traçado que foi escolhido. De acordo com o diretor de projetos do Instituto Acqua (Instituto Ação Cidadania Qualidade Urbana e Ambiental), Fabio Vital, o traçado é ruim porque compromete "compartimentos ambientais frágeis" e passa pelo maior parque municipal regional, o do Pedroso (Santo André).
Segundo o presidente do Subcomitê de Bacia da Billings-Tamanduateí, Virgílio Alcides de Farias, 50, a obra acabará com uma grande biodiversidade e causará erosão e assoreamento dos rios na região. "Por lei, quem faz a gestão dos recursos hídricos são os comitês de bacias. Mas a discussão do Rodoanel está passando por fora do subcomitê."
Segundo o presidente do Proam, o movimento ambientalista está coeso em uma posição contrária ao Rodoanel conforme está proposto agora.

Impactos reduzidos
De acordo com o secretário-adjunto dos Transportes, Paulo Tromboni de Souza Nascimento, 47, o traçado escolhido para o trecho sul do Rodoanel foi o de menor impacto ambiental e social -tentou-se evitar a remoção de famílias das áreas. O projeto foi feito pensando em cortar fragmentos de florestas isolados em vez de grandes blocos, disse.
O geólogo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Antonio Marrano, 49, disse que as vias que circundam as metrópoles são uma tendência mundial. "Elas existem em grandes cidades européias. No Brasil, pode ser vista em Curitiba e em Belo Horizonte."

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