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Fiscais são mortos durante emboscada em Minas

OESP, Cidades, p. C1 e C7
29 de Jan de 2004

Fiscais são mortos durante emboscada em Minas
Auditores e motorista do Ministério do Trabalho fiscalizavam lavouras na região de Unaí

EDSON LUIZ
Enviado especial

UNAÍ -Três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho foram mortos com tiros na cabeça, ontem pela manhã, quando realizavam vistorias a 50 quilômetros de Unaí, na região noroeste de Minas.
A Polícia Federal, que assumiu a investigação, acredita que eles foram executados. A região é conhecida pelas denúncias de trabalho escravo.
Os quatro servidores do ministério estavam há dois dias em Unaí. O caso inicialmente foi atendido por uma patrulha rural, que recebeu informações de que um homem havia sido recolhido, ferido, por uma caminhonete. Tratava-se do motorista, Ailton Pereira de Oliveira, de 52 anos. Ele foi o primeiro alvo dos dois assassinos, que fecharam a pista em um Fiat Strada e impediram a passagem da caminhonete do Ministério do Trabalho. A dupla anunciou um assalto.
Ataque - Oliveira levou um tiro, mas ficou com a bala alojada no maxilar e não morreu instantaneamente. Ao recobrar os sentidos, viu que os fiscais Nelson José da Silva, de 53 anos, João Batista Soares Lage, de 51, e Eratóstenes de Almeida Gonçalvez, de 43, haviam sido assassinados com tiros na cabeça.
Os pistoleiros levaram apenas os telefones celulares. "Havia dinheiro, lanterna e vários outros objetos pessoais de valor que não foram tocados.
Por isso, é grande a possibilidade de eles não terem sido mortos por assaltantes e sim por matadores profissionais", afirma um policial que investiga o caso.
Segundo outro policial de Unaí, mesmo ferido o motorista conseguiu dirigir cerca de 10 quilômetros até a Rodovia LMG 628 - ligação com Buritis -, onde acabou socorrido. Oliveira seguiu para o Hospital de Unaí, de onde foi transferido para o Hospital de Base de Brasília, onde chegou morto.
Os três fiscais, que receberam tiros de pistolas, não tiveram nem chance de sair do carro, morrendo na hora. Eles atuavam em 19 municípios da região e algumas vezes recebiam ameaças de "gatos" (pessoas que contratam mão-de-obra para trabalhar na lavoura de forma escrava). "Era fiscalização de rotina e não com alvo determinado", afirmou o delegado regional do trabalho em Minas, Carlos Calazans.
"Essa região sempre foi muito complicada", afirmou a secretária de Fiscalização do Ministério do Trabalho, Ruth Vilela. Ela revelou que, no ano passado, o fiscal Nelson José da Silva, um dos executados ontem, recebeu ameaça de morte. Dos assassinados, era o único conhecido na região, por ser lotado em Paracatu - os demais tinham Belo Horizonte como base operacional.
Segundo a secretária, o servidor não teria levado a sério as ameaças, porque essas costumam ser constantes - na maioria das vezes ocorrem de forma indireta - e acabam não se cumprindo. "É um fato inédito", lamentou.
Os ministros do Trabalho, Ricardo Berzoini, e dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, estiveram no local e anunciaram a criação de uma força-tarefa para tentar encontrar os assassinos e os mandantes do crime. "É uma questão de honra para o Estado, que não vai permitir que essa ação intimide os auditores fiscais", afirmou Berzoini.
Repercussão - O presidente em exercício, José Alencar, divulgou nota, indignado. "A serviço da lei e da Justiça, esses brasileiros foram vítimas de insanidade e violência inadmissíveis num país que cultua os valores do direito e da liberdade", ressalta no texto.
"Essa brutalidade não ficará impune, pois todos os recursos foram mobilizados para a identificação dos criminosos."
O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Francisco Fausto, pediu esclarecimento o mais rápido possível das mortes. Com base em informações da PM, o ministro afirmou que havia suspeitas de que o crime era uma retaliação de fazendeiros envolvidos com trabalho escravo.
Quem também divulgou nota de repúdio foi o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Grijalbo Coutinho. "A chacina mostra que muito há por fazer, sob pena de não conseguir o Estado mostrar à Nação que consegue proteger o seu próprio povo de assassinos que não temem enfrentá-lo." (Colaboraram Sandra Sato e Katia Azevedo

Morte de fiscais preocupa Lula e Alencar vai a MG Governo federal garante que assassinos de auditores não ficarão impunes
JAMIL CHADE Correspondente
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, garantiu que os assassinatos dos fiscais do Ministério do Trabalho em Unaí, Minas, serão apurados. "A Polícia Federal está atrás. O Ministério do Trabalho está lá e a Secretaria de Direitos Humanos. Vamos apurar quem fez isso", afirmou o presidente em sua chegada em Genebra, onde hoje participa de uma reunião com investidores, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mesmo tendo viajado mais de sete horas entre a Índia e a Suíça, Lula demonstrou estar informado sobre o assunto. Ao chegar ao hotel, o presidente explicou com detalhes o que havia acontecido ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que vinha de Brasília. "Uma pessoa parou eles, atirou na cabeça do motorista e matou outros três. Agora é apurar", afirmou, visivelmente preocupado com o caso.
Essa chacina ocorre na véspera de um encontro entre o governo federal e investidores de todo o mundo. A suspeita de que o trabalho escravo esteja envolvido no crime não ajuda a imagem do País, que há anos é acusado no exterior por não dar solução para o problema. Ontem, Lula ainda conversou sobre o assunto com o presidente em exercício, José Alencar, que embarca hoje às 10 horas para Belo Horizonte, onde participará do velório de dois dos auditores fiscais.
Por meio de nota oficial, Alencar assegurou, em Brasília, estar totalmente indignado com o fato. "A serviço da lei e da Justiça, esses brasileiros foram vítimas de insanidade e violência inadmissíveis num país que cultua os valores do direito e da liberdade", ressaltou. "Essa brutalidade não ficará impune, pois todos os recursos foram mobilizados para a identificação dos criminosos."
O velório será na sede do Conselho Regional de Engenharia.
Acompanham o presidente em exercício os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do Trabalho, Ricardo Berzoini, e o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. Este fez ontem um relato da situação em Unaí para Alencar.
Repercussão - O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Francisco Fausto, pediu ontem esclarecimento o mais rápido possível das mortes. Com base em informações recebidas da Polícia Militar, o ministro afirmou que havia suspeitas de que o crime era uma retaliação de fazendeiros envolvidos com trabalho escravo.
Quem também divulgou nota de repúdio foi o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Grijalbo Coutinho. "A chacina mostra que muito há por fazer, sob pena de não conseguir o Estado mostrar à Nação que consegue proteger o seu próprio povo de assassinos que não temem enfrentá-lo." (Colaborou Sandra Sato)

OESP, 29/01/2004, p. C1 e C7

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