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Faltam recursos para pesquisa sobre o Aquífero Alter do Chão

Notícias da Amazônia - www.noticiasdaamazonia.com.br
Autor: Camila Fiorese
07 de Jul de 2010

Apesar de revelar números impressionantes sobre a quantidade de água potável armazenada no Aquífero Alter do Chão, o Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Pará - UFPA precisa de recursos para continuar as pesquisas. Localizado sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá, o Aqüífero guarda algo em torno de 86,4 quatrilhões de litros de água potável. Os números foram revelados com base em pesquisas realizadas pelo professor André Montenegro Duarte - do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - como resultado da sua tese de Doutorado em Geociências, que investigou a potencialidade das águas na Amazônia. A tese, orientada pelo professor Francisco Matos de Abreu, do Instituto de Geociências da UFPA, indicou números preliminares que ainda precisam de confirmação.

Em fase preliminar, a pesquisa precisa agora de investimentos para confirmar os dados obtidos até agora. As informações iniciais tiveram como base o cruzamento de dados provenientes da perfuração de poços para a pesquisa petrolífera e poços de extração de água construídos em Santarém, Manaus e outras localidades.

De acordo com os pesquisadores, Alter do Chão é mais um item que se junta ao gigantismo dos números amazônicos. "Para ficarmos apenas na água, no balanço hídrico da região a Amazônia transfere 8 trilhões anuais de litros de água que sustentam um PIB agrícola de aproximadamente 50-60 bilhões de dólares, base do agronegócio que em 2007 correspondeu a cerca de US$ 315 bilhões, ou aproximadamente 20% do PIB brasileiro. Sem as águas da Amazônia isso não seria possível. O Brasil tem ainda um potencial de produção de alimentos para atender a demanda do mundo inteiro, como também de produzir energia a partir da biomassa, do que dão conta a produção e os negócios do setor sucro-alcooleiro".

O Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da UFPA é integrado pelos professores Francisco Matos, André Montenegro e ainda pelos pesquisadores Milton Mata (UFPA), Mário Ribeiro (UFPA) e Itabaraci Nazareno (Universidade Federal do Ceará/UFC). De acordo com o professor Francisco Matos, um investimento em torno de R$ 500 a 600 mil seria suficiente para estruturar um Sistema de Informações Geográficas sobre o Aquífero Alter do Chão. O trabalho duraria cerca de oito meses e teria o objetivo de formar um banco de dados do Aquífero.

"O levantamento seria concebido de dados já existentes e serviria como base para um trabalho mais longo, de aproximadamente quatro anos. Assim seria conhecida a verdadeira situação da qualidade da água, das recargas, dos riscos e potencialidades de usos", explica o professor. Para essa segunda etapa Matos não define valor de investimento, mas garante que a pesquisa teria caráter estratégico para o país, dada a importância das águas da Amazônia.

Na opinião de Matos as águas amazônicas têm um valor estratégico - para o Brasil e o mundo - ainda pouco compreendido pelos gestores, e precisam ser entendidas na sua integralidade, dentro do que os especialistas chama de Ciclo Hidrológico. Mesmo longe das áreas mais desenvolvidas, as águas da Amazônia têm uma influência indiscutível sobre todas as regiões do Brasil e têm que ser entendidas nesse contexto.

O aqüífero mais conhecido do Brasil - identificado como o maior do mundo - é o Guarani, que está sob oito estados e quatro países. Mas segundo pesquisadores que desenvolvem estudos na região Pará, o chamado aquífero Alter do Chão detém impressionante reserva de água, indicando que pode ser o maior aqüífero do mundo, superando, inclusive, o Aquífero Guarani, cujas reservas são estimadas em 45mil Km³. Matos destaca que nas pesquisas realizadas no aqüífero Guarani, concluídas no ano passado, foram investidos cerca de R$ 35 milhões com o apoio do Banco Mundial.

"Depósitos de água subterrâneas como o Alter do Chão, Guarani, e outros menos conhecidos, como é o caso de Pirabas, no nordeste do Pará - reserva estratégica para mais de 50% da população paraense, mais de 3,7 milhões de pessoas - precisam ser melhor conhecidos para que possam ser usados com sustentabilidade, protegidos e preservados, por se constituírem patrimônio inalienável da nação brasileira mas nem por isso, também reservas de interesse mundial", defendem os pesquisadores.

A quem pedir
O Grupo de pesquisa em Recursos Hídricos da UFPA ainda não formalizou nenhum pedido de verba aos governos Federal ou Estadual, ou a qualquer banco porque, segundo Francisco, "não se sabe a quem pedir". "Se não for feito nenhum tipo de investimento na pesquisa, o Grupo andará a passos de tartaruga", afirma o professor.

Uma das possíveis fontes de financiamento citadas pelo professor é o Fundo Amazônia mas, segundo ele, é um fundo restritivo, pois contempla apenas a questão da preservação da floresta e não da água. Outra seria o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ, que fomenta pesquisa. O problema, segundo Matos, é que Centro não tem uma linha específica para financiar um projeto de desenvolvimento de um sistema de banco de dados do Aquífero Alter do Chão. O Grupo tem buscado parcerias com diferentes instituições para viabilizar a pesquisa.

Para Matos, é uma pena que os números apresentados de Alter do Chão só chamem a atenção pela sua grandeza. "Talvez por isso mesmo ofusque a sua real importância estratégica, que só pode ser mensurada com pesquisas e avaliações econômicas precisas, cujo ferramental tecnológico e expertise regional já se encontram disponíveis", diz.

Investimentos
Avaliar o potencial de aqüíferos na Amazônia já está nos planos da Agência Nacional de Águas (ANA). Segundo o gerente de águas subterrâneas da instituição, Fernando Roberto Oliveira, para o próximo ano está prevista a contratação de estudos para avaliar o Aquífero Alter do Chão e também outros da região.

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