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Falta de estratégia do governo para conter desmatamento na Amazônia preocupa ambientalistas

G1 - https://g1.globo.com/natureza/blog/amelia-gonzalez/post/
Autor: GONZALEZ, Amelia
20 de Nov de 2019

Escreve sobre sustentabilidade e debate temas ligados a economia, meio ambiente e sociedade
Falta de estratégia do governo para conter desmatamento na Amazônia preocupa ambientalistas

Por Amelia Gonzalez

Nenhum brasileiro se admira mais com as respostas pouco respeitosas dos membros do governo federal às perguntas dos jornalistas. Tornou-se também um mantra, e aqui me refiro especificamente à área ambiental, responsabilizar os governos passados e as ONGs pelos desastres que vêm acontecendo. Instado a responder sobre este último, que revela o aumento do desmatamento na Amazônia - em apenas doze meses foram derrubados 9.762 km² de florestas na região, um aumento de quase 30% com relação ao mesmo período anterior, segundo dados do Prodes (Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite) divulgados na segunda-feira (18) - o presidente Bolsonaro se limitou a direcionar a imprensa. Que os jornalistas perguntassem ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Este, por sua vez, responsabilizou as pressões econômicas e disse que é preciso estratégias para conter o problema. Não disse quais.

Sim, houve dois momentos preocupantes nos governos do ex-presidente Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando o desmatamento alcançou níveis elevados, até mais do que agora. Mas, bastou que os dados fossem revelados, equipes foram convocadas para resolver a questão, como mostra esta reportagem de Guilherme Mazui. E conseguiram. O documento "Amazônia Brasileira: desafios para uma efetiva política de combate ao desmatamento" mostra outras estratégias que deram certo. A primeira providência deve ser ouvir e não negar os dados.

Hoje a situação é outra. Estamos registrando a maior taxa de desmatamento em 11 anos, e a expectativa do próprio Deter é que aumente em 2020. O prognóstico é pessimista.
A falta de ações que possam inibir extração ilegal de madeiras e árvores da maior floresta tropical do mundo é preocupante e um dos motivos para a falta de esperança de que as coisas vão se ajeitar. Escancara o já ultrapassado caminho escolhido pela equipe governamental, do desenvolvimento a qualquer custo. Países que estão num patamar superior ao nosso já se preocupam muito com a destruição dos bens naturais e trilham para a economia de baixo carbono, que prevê a preservação de cada área verde que se tenha, porque árvores sequestram o carbono do ar. Até mesmo a China, país mais poluidor do mundo, está procurando uma solução, começando a se juntar à União Europeia, já que o pacto que fizera com os Estados Unidos de Obama foi por água abaixo depois que o negacionista Donald Trump assumiu o poder.

"Os efeitos do desmatamento das florestas serão provavelmente o primeiro desastre global gigantesco que nos saudará na próxima década ou dentro de duas décadas", escreveu James Lovelock, cientista que recém completou 100 anos de idade, em seu livro "Gaia, um planeta doente".

O Brasil, portanto, na contramão, estará ajudando a maximizar este desastre global gigantesco. As árvores são arrancadas, os bichos são mortos, e uma população de 24 milhões de pessoas que vivem na região da Amazônia sofrem as consequências - ar mais poluído e mais calor - para atender a interesses da agricultura, do setor madeireiro e da mineração. Sejam eles legais ou não. E sem fiscalização.

E vejam que paradoxo: mesmo em meio a uma crise econômica forte, o desmatamento cresceu quase 30% em relação a 2018. A organização ambientalista WWF explica o fenômeno de forma sucinta: "O corte raso da floresta ocorre principalmente para dar lugar à pecuária extensiva, de baixo retorno por hectare e, muitas vezes, motivada pela tentativa de garantir a posse da terra. Outras atividades alardeadas como de grande importância econômica para a região, como mineração e petróleo, não geram empregos para a população local, quando desenvolvidas em escala industrial".

Diretor-executivo do WWF Brasil, Mauricio Voivodic expressa a preocupação dos ambientalistas com o que está acontecendo atualmente:

"Se o Governo Federal não modificar profundamente sua postura em relação ao tema, o desmatamento tende a crescer ainda mais no próximo ano, fazendo com que o país retroceda 30 anos em termos de proteção à Amazônia".

Infelizmente, não é muito difícil acreditar nisto. Uma rápida pesquisa nas últimas declarações e ações do presidente Bolsonaro e equipe mostram outra disposição. Em agosto deste ano, por exemplo, os servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) divulgaram uma carta aberta ao presidente em que alertam: a queda de 24% no número de fiscais do órgão entre 2018 e 2019 vai criar um colapso na gestão ambiental.

Dois meses depois, em outubro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, declarou que a Casa Civil está analisando a proposta do governo federal para regulamentar atividades econômicas, como mineração e agricultura, em terras indígenas. É claro que, se o governo federal propõe, os produtores agrícolas e mineradores se sentem à vontade para agir, mesmo antes de a proposta ser oficializada. Sobretudo aqueles que não têm responsabilidade alguma com o bem estar social.

Já em novembro, inspirados pelas declarações de Bolsonaro, agricultores decidiram se manifestar contra a Moratória de Soja. Este acordo, criado há dez anos, proíbe a compra de grãos da soja em áreas desmatadas da Amazônia após 2008. Ao mesmo tempo, o governo revogou decreto que colocava limites para a expansão da produção de cana na Amazônia e no Pantanal.

E assim viramos notícia nos sites internacionais. O "The Guardian" deu destaque aos 29,5% de desmatamento nos últimos meses, que chamou de "ataque ao maior sumidouro de carbono terrestre do planeta por grileiros, agronegócios mineradores e madeireiros". E disse que está se acelerando.

Carlos Rittl, ambientalista doo Observatório do Clima, comentou no site britânico:

"Propostas como legalizar a apropriação de terras, mineração e agricultura em terras indígenas, além de reduzir os requisitos de licenciamento para novas infraestruturas mostrarão que os próximos anos serão ainda piores. A questão é quanto tempo os parceiros comerciais do Brasil confiarão em suas promessas de sustentabilidade e cumprimento do acordo de Paris, à medida que as florestas caem, os líderes indígenas são mortos e as leis ambientais são quebradas."

Recebi, por e-mail, notícia de uma reunião da sociedade civil que aconteceu segunda-feira (18) em Altamira, no Pará. Intitulada "Amazônia: Centro do Mundo", reuniu centenas de guardiões da floresta, indígenas e seus líderes, representantes de comunidades ribeirinhas, quilombolas e os jovens europeus do "Extinction Rebellion" que estão participando da Conferência da Floresta organizada pelo Instituto Socioambiental (ISA).

A ideia, segundo a mensagem da ONG WWF, "é elaborar um manifesto florestal que colocaria a natureza e a Amazônia no centro do debate internacional sobre a crise climática e biodiversidade". Houve protestos tensos entre dezenas de agricultores e proprietários de terra que tentaram interromper a reunião e foram repelidos por indígenas e outros grupos. Voivodic sugere , do WWF, sugere uma união entre empresas internacionais compradoras de soja, instituições financeiras e demais atores:

"É preciso apoiar as empresas brasileiras sérias, a sociedade civil e os demais setores no encontro de soluções emergenciais que, em última instância, possam evitar o boicote à produção do país e impactos à nossa economia", afirma ele, manifestando outro prognóstico pessimista caso o governo federal persista inativo diante da destruição florestal.

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