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Expedição acha vestígios de isolados

OESP, Nacional, p. A14
17 de Jan de 2010

Expedição acha vestígios de isolados
Equipe viajou sete dias de voadeira e mais seis dias a pé para encontrar ''quebradas'' e ''varadouros'' no Amazonas

Roberto Almeida

A expedição da Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, comandada pelo indigenista Rieli Franciscato, encontrou vestígios de índios isolados, não contactados, a cerca de 40 quilômetros dos limites da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. São quebradas, varadouros e varadouros de caça, que indicam que há perambulação do grupo isolado próximo à nascente do Rio Boia, onde ainda há mata virgem. Para Franciscato, os índios saem da área do Jandiatuba e cruzam os limites da terra indígena em busca de caça e pesca.

A Terra Indígena Vale do Javari foi demarcada em 2000, mas nunca havia sido realizada uma expedição profunda nas cabeceiras do Rio Boia. A equipe da Frente de Proteção, composta por 11 pessoas, levou sete dias em voadeiras para chegar ao ponto de entrada na mata.

Em seguida, foram mais seis dias de caminhada em terreno encharcado, onde foram encontrados os vestígios. Quando perambulam em busca de caça, os índios deixam as quebradas - ou pequenas árvores dobradas com a mão para abrir passagem. Uma sequência de quebradas sem rumo definido configura um varadouro de caça. E uma sequência de quebradas com direção e caminho demarcado é um varadouro, ou seja, delimita o trajeto percorrido pelos isolados.

O grupo de isolados do Rio Jandiatuba já é conhecido. Por meio de sobrevoos, a Funai constatou a existência de malocas e roças. Até hoje, eles não têm contato direto com não-índios, não se sabe quantos membros são e sua área de perambulação não foi delimitada.

Franciscato, que marcou em um localizador via satélite as coordenadas de cada vestígio, não acredita que os indícios sejam suficientes para pedir uma nova demarcação de terra, mas vê como essencial que a área seja monitorada. Fora da terra indígena, o grupo está desprotegido e pode sofrer com ação de garimpeiros, que exploram ilegalmente o Rio Boia. Suas margens estão devastadas e há enormes bancos de areia, do tamanho de 30 campos de futebol, subproduto do garimpo.

No final de dezembro, a expedição encontrou cinco grandes balsas de garimpo de ouro e encaminhou a informação à Polícia Federal para que fossem tomadas providências.

MORTES

O objetivo inicial da expedição era investigar boatos de que índios isolados de um grupo desconhecido teriam matado dois moradores da região em 2004 e 2008. As histórias correram pelas comunidades ribeirinhas.

A primeira morte foi da mulher de "seu Heleno", madeireiro que explorava a área. Em 2008, uma criança teria sido morta, de acordo com relatos de índios kanamaris.

No entanto, os poucos vestígios encontrados não colaboram para a tese. A expedição esperava por uma área de perambulação com mais sinais dos isolados, o que indicaria presença constante na área, a fim de protegê-los do contato com não-índios.

Grupo tem de caçar para sobreviver
Em dias de caminhada forte, alimentação precisa ser reforçada

Roberto Almeida

Sem a possibilidade de levar alimentação por longos períodos na mata, a expedição Vale do Javari é obrigada a caçar para sobreviver. Nos moldes de subsistência, a caça é permitida e alimenta os 11 membros da equipe nas caminhadas. Os índios da expedição - são ao todo cinco - acreditam que o macaco-aranha e o macaco-barrigudo têm a melhor carne para comer. Dura e com sabor forte, no entanto, ela não é a preferida entre os não-índios.

Nas duas entradas na selva, o grupo alimentou-se basicamente de peixes, aves, arroz e farinha de mandioca. Por vezes, a pesca não foi suficiente. Então, mutuns, jacus e inambús, espécies comuns no sudoeste do Amazonas, serviram como base para a sobrevivência. Só em ocasiões atípicas, em dia de caminhada forte e pouca vida na floresta, foram abatidos macacos, jabutis, pacas e uma anta. A necessidade de caça é regrada, basicamente, pela necessidade dos índios membros da expedição de se alimentar. Eles não têm o hábito de comer rações, como as servidas pelo Exército.

Os índios trabalham como mateiros e têm um olhar apurado sobre a floresta. Foi um deles, Wilson Kanamari, que encontrou o primeiro vestígio dos isolados, que passaria despercebido para alguém até com boa experiência de mata. O vestígio era uma quebrada, ou pequena árvore dobrada com a mão por um índio de passagem nas cabeceiras do Rio Boia, onde a selva ainda é densa e virgem.

EXPEDIÇÃO

A expedição, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, partiu no dia 1o de dezembro de Tabatinga, prevendo duas grandes entradas na mata.

A primeira ocorreu para verificar se uma clareira encontrada na área do Rio Boia fora realizada por índios isolados. A hipótese foi refutada em meados de dezembro. A segunda, para investigar mortes supostamente ocorridas por ação dos isolados, o que restou inconclusivo.

Caso fossem encontrados vestígios nas duas entradas, o objetivo seria de catalogá-los como provas de sua existência nas duas áreas exploradas e elaborar um projeto para protegê-los do avanço do garimpo, da extração de madeira e do tráfico de drogas.

OESP, 17/01/2010, Nacional, p. A14

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