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Evento debate necessidade de regulação para biodiversidade estimular negócios

Valor Econômico, Brasil, p. A4
Autor: CHIARETTI, Daniela
12 de Ago de 2014

Evento debate necessidade de regulação para biodiversidade estimular negócios

Daniela Chiaretti
De São Paulo

Para que a biodiversidade impulsione a economia de países como Brasil, Peru, Bolívia e Colômbia, é preciso marcos regulatórios claros que tragam segurança jurídica às empresas, destinar fortes investimentos em pesquisa e inovação e criar demanda interna.
A importância da biodiversidade para os negócios foi tema de seminário realizado em São Paulo pela União para o BioComércio Ético (UEBT, na sigla em inglês) em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes), da Fundação Getulio Vargas.
No evento foi divulgado o "Radar de Mercados na América Latina", estudo inédito que investigou a importância da biodiversidade para produtores de alimentos, cosméticos e fármacos no Brasil, Peru, Bolívia e Colômbia. Ouviu 300 empresários, levou dois anos para ser realizado e teve apoio da International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial.
O relatório tinha por objetivo identificar oportunidades para promover o uso sustentável da biodiversidade como fonte de inovação e abastecimento nesses setores da economia e revelou dados interessantes. No setor de fármacos, por exemplo, o número de moléculas sintéticas de genéricos é hoje muito pequena, o que revela o potencial da biodiversidade.
No Brasil, 97% dos entrevistados do setor alimentício afirmaram que a biodiversidade faz parte da estratégia de negócios dos próximos dez anos, mas apenas 47% disseram que suas empresas têm políticas implementadas.
O setor de alimentos é importante para os quatro países: respondeu por 23% do PIB brasileiro em 2013 e por 11,5% do colombiano, cresceu 5,5% em 2012 no Peru e é um mercado estratégico também na Bolívia. É o setor que mais se abastece de biodiversidade.
As contradições surgem adiante, em questões de mais profundidade. "O empresário muitas vezes não tem claro o que é biodiversidade e relaciona o conceito apenas à biodiversidade nativa do país", diz Cristiane de Moraes, representante da UEBT na América Latina.
O estudo perguntou, por exemplo, qual a importância da biodiversidade para os empresários e qual a importância do ingrediente natural para suas empresas. A resposta dada para a última questão teve índices bem superiores aos da relevância de se trabalhar com biodiversidade. "Muitos não enxergam que trabalhar com laranjas, por exemplo, é trabalhar com biodiversidade", afirma Cristiane.
Nos quatro países, o agronegócio tem pouco envolvimento com biodiversidade. "Há necessidade de se ter uma forte conscientização do setor sobre este tema. "Se conseguirmos que esta visão seja mudada no curto ou médio prazo será bastante positivo", afirma Cristiane.
No Brasil, a bancada ruralista impediu recentemente que o país ratificasse o Protocolo de Nagoya. O Brasil corre o risco de ser mero observador na próxima conferência sobre o tema, em outubro, na Coreia, perdendo o protagonismo que tradicionalmente tem nesses eventos e a oportunidade de defender suas posições.
"Temos que entender que biodiversidade é uma agenda estratégica para o país e que temos que alocar recursos para pesquisa e inovação", defende Annelise Vendramini, coordenadora de projetos de pesquisa em finanças sustentáveis no GVces. "A China vem fazendo isso. Dizem que, em 30 anos, a China será a grande potência verde do mundo", continuou. "Não avançaremos se a ciência não estiver muito próxima."
Segundo Annelise, é preciso aumentar a demanda interna para produtos do chamado biocomércio ético. "Bioeconomia e biodiversidade são questões muito contemporâneas, que precisam de debate ativo na sociedade e legislação para avançar. Não se criam mercados sem um mínimo de segurança jurídica", diz ela.
"Os consumidores estão cada vez mais conscientes e interessados nos ingredientes dos produtos obtidos de forma ética. As empresas precisam se posicionar nesse mercado", disse Rik Kutsch Lojenga, diretor-executivo da UEBT.
O seminário reuniu representantes de 40 empresas, como Natura, Native, Aché, Unilever, HSBC e Givaudan, além de 16 ONGs.

Valor Econômico, 12/08/2014, Brasil, p. A4

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