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Etanol vai criar 12 milhões de empregos até 2030

OESP, Economia, p. B17
25 de Set de 2008

Etanol vai criar 12 milhões de empregos até 2030
Segundo a OIT, no período serão investidos US$ 630 bi em todo o mundo em projetos de energia renovável

Jamil Chade

O etanol deve criar 12 milhões de empregos no mundo até 2030, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que chama a atenção para o fato de que, no Brasil, milhares de pessoas que atuam no setor ainda sofrem com salários e condições de trabalho degradantes. A entidade prevê uma consolidação do etanol no Brasil nos próximos anos e o surgimento de sete grandes grupos no setor no País.

Os dados fazem parte de um relatório sobre o impacto das novas tecnologias ambientais para o emprego divulgado ontem pela OIT. Energias renováveis, entre elas o etanol, vão gerar 20 milhões de empregos até 2030 no mundo.

A entidade acredita que os governos terão de buscar investimentos para incentivar a retomada da economia afetada pela crise financeira e, aposta, o setor ambiental será um dos mais relevantes. As estimativas indicam que US$ 630 bilhões em projetos serão investidos em energia renovável até 2030. Isso geraria 2,1 milhões de postos de trabalho em energia eólica e 6,3 milhões na energia solar.

O Brasil é o país com o maior número de trabalhadores no setor do etanol. Segundo a OIT, são 500 mil pessoas que dependem diretamente do produto. Nos Estados Unidos, são 312 mil e na China, 266 mil. Na Alemanha, o biodiesel gera 95 mil empregos e 10 mil na Espanha.

Em 20 anos, o número de pessoas empregadas no setor será multiplicada por dez e o Brasil continuará sendo um dos líderes. A OIT quer garantir que os novos empregos respeitem direitos trabalhistas. Uma das preocupações é o uso de trabalho semi-escravo nos canaviais. O próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em Genebra, admitiu que o trabalho degradante existe no setor do etanol.

Na Europa, autoridades avaliam a criação de um selo social para o etanol, garantindo que não haverá importação de combustível produzido com trabalho degradante.

Segundo a OIT, as condições de trabalho nos canaviais não são adequadas, com falta de higiene e até violência usada pelas empresas contra trabalhadores, que ganham 30% menos que os que trabalham em usinas de etanol. Com a mecanização, um problema tem sido o desemprego dessa parcela da população. Em 1992, os cortadores de cana eram 620 mil. Em 2008, não devem superar 300 mil.

CONSOLIDAÇÃO

A OIT estima que haverá uma consolidação do setor do etanol nos próximos anos no Brasil. Hoje, são 250 empresas e, segundo a entidade, as aquisições podem fazer com que apenas sete grandes sobrevivam e se tornem potências.

Os 20 milhões de novos empregos serão superiores ao que o setor petroleiro gerará em 20 anos. A Venezuela poderá empregar 1 milhão de pessoas se aprovar lei que prevê a mistura de 10% de biocombustível na gasolina. Na Nigéria, a OIT estima que 200 mil postos de trabalho possam ser criados para o etanol. Na Índia, seriam 900 mil até 2025 em biomassa.

Os empregos não ficarão restritos à energia. No Brasil, gestão de lixo e reciclagem empregam 500 mil. Na China, 10 milhões. Na Europa e Estados Unidos, 3,5 milhões de empregos devem ser criados em tecnologias ambientais de construção.

Demanda deve crescer 150%
País vai consumir 63,9 bi de litros em 2017, diz EPE

Mônica Ciarelli

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê crescimento de 150% na demanda de etanol no Brasil até 2017, que passaria dos 25,5 bilhões de litros para 63,9 bilhões de litros. Para atingir esse volume, serão necessários, segundo a EPE, investimentos entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões, valor que toma como base a construção de 246 usinas.

O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, não vê dificuldades para que o montante seja alcançado. Isso porque as unidades para produzir quase a metade do volume necessário para atingir a meta estão em construção ou já foram instaladas.

Ele explica que o uso do etanol no setor automotivo será o principal fator que sustentará o incremento da demanda. O estudo prevê que o etanol represente em 2017 80% do volume total de combustíveis líquidos consumidos nos veículos leves no País. Hoje, esse porcentual gira na casa dos 30%.

Segundo o presidente da EPE, o resultado do estudo sobre a previsão de oferta e demanda de etanol mostra que o governo foi conservador no Plano Nacional de Energia - 2030, lançado no ano passado. No estudo anterior, o País só demandaria 63 bilhões de litros de etanol em 2030, a meta para 2017 ficava em 45 bilhões de litros.

Tolmasquim afirma que o etanol vai continuar competitivo. O trabalho, explicou, leva em conta um barril do petróleo, em média, de US$ 85 até 2017. "O álcool é vantajoso para o consumidor se custar até 70% do preço da gasolina. Atualmente, pela média nacional, custa 59%. Não considero que vai ficar muito diferente disso."

A previsão de crescimento da demanda por etanol se sustenta na expansão da frota de veículos biocombustíveis no País. Segundo as projeções, a frota de veículos leves passará de 23,2 milhões em 2008 para 37,5 milhões em 2017.

O estudo prevê que as exportações de etanol dobrem no período, passando de 4,2 bilhões de litros para 8,2 bilhões de litros. "Quem vai puxar demanda externa é o Japão. Desses 8 bilhões, 3 bilhões serão para o Japão e achamos que se trata de projeção conservadora."

OESP, 25/09/2008, Economia, p. B17

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