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Estudo vê riscos em Fernando de Noronha

FSP, Cotidiano, p. C5
03 de Mai de 2009

Estudo vê riscos em Fernando de Noronha
Pesquisa aponta que ilha gera poluentes em excesso lançados por veículos e gerador de energia; água potável é escassa
Instituto ligado ao Ministério do Meio Ambiente indica o uso de energia renovável e a redução do consumo de combustíveis no local

Sofia Fernandes
Sucursal de Brasília

Em um lugar onde a emissão de gás carbônico per capita supera a taxa dos EUA (20,14 toneladas por ano), quase toda energia elétrica é gerada à base de óleo diesel e a água potável disponível dá conta de menos da metade da sua população.
O retrato de ruína ambiental é justamente do paraíso ecológico mais festejado do Brasil, Fernando de Noronha.
O Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, coordenou estudo inédito de capacidade de suporte da ilha e constatou sérios equívocos no modelo atual de gestão de Noronha.
O último vestígio de mata atlântica insular está sujeito a um processo de degradação de seus recursos naturais. O grande vilão, de acordo com pesquisadores, é a forma de obtenção de energia.
Um gerador movido a diesel é a fonte quase única que provê a ilha de 12 km2. A unidade geradora consome cerca de 2.000 toneladas do combustível fóssil por ano, liberando grande parte das 50 toneladas de gás carbônico per capita de Noronha.
A emissão de poluentes dos quase mil carros em circulação completa a paradoxal contribuição do arquipélago para o efeito estufa.
O estudo estabelece como meta o uso de 30% de energia renovável em três anos e queda pela metade do consumo de combustíveis fósseis no mesmo período.
Um dos grandes consumidores da energia suja produzida em Noronha é o dessalinizador de água. Dele, sai praticamente toda água potável -ainda muito salgada- consumida na ilha.
A oferta de água per capita é considerada muito pequena. A água que sai do dessalinizador é suficiente para 630 pessoas -a ilha comporta diariamente uma média de 4.000.
De acordo com parâmetros da OMS (Organização Mundial de Saúde), a situação é de ameaça à sobrevivência na ilha.
A bióloga e moradora da ilha Cristina Polentino Campos, 27, diz que a oferta de água já foi pior, mas ainda é escassa e pode ser o motivo dos problemas de hipertensão registrada entre moradores.
Ela bebe da água dessalinizada, mas, para sua filha de cinco meses, compra água mineral, a R$ 3 a garrafa de 1,5 litro. São R$ 300 por mês.
Medidas como coleta de água da chuva e reaproveitamento poderiam minimizar o problema da escassez.
São produzidas, por ano, 3,5 toneladas de lixo -por dia, na cidade de São Paulo, são 9.500 toneladas. Orgânico e seco, vai tudo misturado para o lixão, onde se gasta tempo e dinheiro separando e embalando lixo seco para ser enviado, de navio, para Recife.
De acordo com o administrador da ilha, Romeu Baptista, são gastos R$ 200 mil por mês para tratar e enviar lixo até o continente.
O problema poderia ser evitado com coleta seletiva e veto de entrada de produtos como garrafas pet, avalia Guilherme Abdala, coordenador-geral do estudo, da consultoria Elabore.
Muito do lixo permanece na ilha, e boa parte dele vem dos turistas, que não recebem orientação devida. Em 2006, desembarcaram 86 mil pessoas em Fernando de Noronha.
Quando a viagem é feita de navio, chegam a desembarcar mais de 600 pessoas de uma só vez, em uma só praia, mesmo com a restrição legal de 400 pessoas por dia. Para passear com os turistas, filas com mais de cem bugues se formam.
O diretor de Ecossistemas do instituto, Ricardo Soavinski, diz que não é só uma questão de restringir entrada. Com uma gestão adequada é possível, inclusive, aumentar a capacidade de Noronha.
Nesta semana, Soavinski se encontra com o administrador da ilha e com pessoas do governo de Pernambuco para decidir como fazer as mudanças que o estudo aponta como urgentes.

FSP, 03/05/2009, Cotidiano, p. C5

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