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Estudantes indígenas vão a escolas para falar de suas lutas e cultura

Jornal Cruzeiro do Sul https://www.jornalcruzeiro.com.br/
Autor: Daniela Jacinto
13 de Abr de 2018

Com a proximidade do 19 de abril, o Dia do Índio, as escolas e a mídia em geral voltam seus olhares aos indígenas, mas reproduzindo em muitos casos as visões do "homem branco" sobre esses povos. A começar pelos termos "índios" e "indígenas", que tentam dar uma unidade a algo distinto, já que há atualmente 304 etnias diferentes e cerca de 280 dialetos. Se alguma coisa os une, é a visão de mundo. Para esses povos, a terra não lhes pertence, pelo contrário, eles é que pertencem à terra. E apesar de terem sido tirados dela, eles continuam "persistindo, insistindo e resistindo" em ocupar seus espaços, um deles na universidade.

É o que tem feito Rosangela Batalha Braga, cujo nome na língua kambeba é Potira (que significa flor). Estudante universitária da UFSCar, ela afirma que é cada vez maior o número de indígenas nas universidades.

Um grupo de estudantes formado por ela e outros indígenas, que representam as etnias omagua kambeba, atikum-umã, bakairi, guarani, piratapuia, ticuna, tupi-guarani, tuyuka e xavante, tem ido até as escolas de Sorocaba por meio do Programa de Educação Tutorial (PET).

"As escolas geralmente têm ensinado sobre aquele índio de 1500. O brasileiro não tem noção da nossa realidade, da diversidade dos povos e como vivem hoje", observa.

Rosangela conta que durante a visita às escolas, muitos alunos se surpreendem ao saber que a maioria dos indígenas levam uma vida inseridos na sociedade, envolvidos com estudos e trabalho. "Eles não têm conhecimento das nossas lutas, aliás, o brasileiro não sabe nada sobre si próprio, se a gente pergunta se são descendentes de índios, eles acham que não são."

Ainda de acordo com Rosangela, uma das primeiras coisas que o grupo tenta passar para os estudantes é a verdade sobre a história do Brasil. "Falamos que não foi descoberto. Que já tinha gente vivendo aqui, que eram os povos tradicionais indígenas. Falamos que o Brasil foi invadido, explorado".

Outra visão que já não corresponde aos dias de hoje, diz Rosangela, é aquele conceito de que indígenas têm cabelos bem lisos, cortados em forma de cuia, olho espichado e pele parda. "No nordeste, a maioria tem cabelo crespo, pele mais negra. São afro indígenas e a gente quer tentar mudar esses conceitos."

Para ela, o que deve ter nas escolas é uma disciplina que aborde a questão étnico-racial. "E apenas aqueles que realmente estudam isso deveriam ser os professores, como os estudiosos dos povos africanos, dos indígenas, dos quilombolas... É importante nossa presença nas escolas", disse ressaltando que assim são divulgadas as informações corretas.

Resistência

Hylio Laganá Fernandes, professor da UFSCar de Sorocaba na área da Educação, afirma que é importante pouco a pouco os professores irem divulgando a seus alunos a realidade indígena. "Para desconstruir na cabeça da criançada que os indígenas estão no meio do mato comendo mandioca", disse, lembrando de que acordo com o antropólogo Eduardo Batalha Viveiros de Castro, todos nós somos indígenas. O antropólogo esteve recentemente em Sorocaba, participando de palestra no Sesc sobre os povos indígenas.

O professor Hylio lembra que infelizmente há exemplos tristes como a miséria vivida por muitos povos indígenas e também os assassinatos. "Mesmo assim há resistência e eles estão conseguindo manter sua própria cultura. Aliás, está cada vez mais forte, mais viva."

Conforme Hylio, etnias quase extintas se refizeram. "A resistência está em continuar existindo, firmando suas identidades. Eles são indígenas mas também são brasileiros e essa questão é que deve ser mostrada nas escolas."

Programação Sesc e UFSCar

O Sesc Sorocaba realiza, desde o início do mês, em parceria com o Centro de Convivência Indígena (CCI) da UFSCar Sorocaba, o projeto Povos Sagrados: Expressões Indígenas, com ciclo de palestras e debates sobre temas indígenas.

Os encontros são gratuitos, livres para todos os públicos e acontecem no teatro da unidade. Os interessados devem retirar os ingressos com uma hora de antecedência, na central de atendimento.

No dia 18, quarta-feira, às 20h, o tema será "Eu, tu, eles: os índios por eles mesmos". Marcondy Maurício de Souza, Eronilde de Souza Fermin e Cristóvão Tserero"odi Tsõrõpre debatem sobre a diversidade de povos, etnias e línguas indígenas, e sobre como isso ainda é incompreendido por grande parte da população e imprensa. No encontro, representantes de diferentes povos indígenas discutem os preconceitos e estereótipos que ainda impedem a compreensão da riqueza cultural dos povos indígenas que resistem no Brasil.

O tema que fecha o ciclo é "Muito além do sinal de fumaça: a relação entre culturas tradicionais e as tecnológicas", no dia 25, quarta, às 20h. No encontro, Cristino Wapichana, Eduardo Maiawai e Daniel Rodrigues Teles debatem sobre como a relação dos indígenas com as tecnologias apresenta inúmeros avanços nas comunidades. Representantes de diferentes regiões do país apresentam como desenvolveram seus trabalhos e ampliaram sua atuação nas últimas décadas com o uso de diferentes tecnologias.

Além do ciclo de palestras e debates, o Sesc promove, amanhã, às 17h30, um ritual de cura feito por índios da tribo xavante Etenhorepré, na Área de Convivência da unidade. A apresentação será seguida por uma roda de conversa. A entrada é gratuita.

O Sesc Sorocaba fica na rua Barão de Piratininga, 555. Informações: (15) 3332-9933.

Programação UFSCar

A UFSCar de Sorocaba, por meio do Centro de Convivência Indígena, realizará de 17 a 19 de abril a I Semana Indígena.

No dia 17 será realizada, às 12h30, em frente ao refeitório, a apresentação do Hino Nacional da LínguaTicuna. Às 14h terá pintura corporal no pátio do At-Lab. Dia 18 de abril, às 12h, terá o Ritual de Pajelança, no auditório do At-Lab. Das 15h30 às 16h30, no auditório do CCGT, terá exibição de filme indígena e bate-papo sobre o tema, com degustação da bebida caíçuma. Por fim, no dia 19 de abril, será realizada a apresentação Dança da Bucuri, das 18h30 às 19h, no pátio do At-Lab. Nessa data ainda haverá, no auditório do At-Lab, das 19h às 20h, mesa redonda sobre Educação Indígena, com participação da premiada pedagoga Eronilde Fermim, da etnia omáguas/kambeba e bate-papo com degustação da bebida caxiri.

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