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Espreitando o Brasil

JB, Outras Opiniões, p. A12
Autor: SILVA, Gilberto Alves da
05 de Set de 2005

Espreitando o Brasil

Gilberto Alves da Silva Professor

A crise política que vem assolando o Brasil não está permitindo a nossa sociedade observar o que está espreitando a nação. Ela tornou-se o principal objetivo da mídia e paralisou o Congresso desde maio, portanto há oito meses.
O seu envolvimento nas três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), a dos Correios, a do Mensalão e a dos Bingos, que investigam as denúncias de corrupção que envolve a maioria dos partidos políticos que compõe o poder Legislativo, incluindo o do Executivo, empresas públicas e privadas, resultou que, somente, dois assuntos de repercussão nacional foram aprovados desde o início de julho: o referendo sobre a venda de armas, marcado para outubro, e a PEC para a Previdência Social, no Senado.
Informações circulando na mídia indicam que, entre 1o de maio e 5 de agosto, foram realizadas 112 sessões na Câmara dos Deputados, e somente em 54 - nas 22 sessões ordinárias e nas 32 extraordinárias - houve votação. Nas outras sessões, os parlamentares dedicaram-se a atos solenes (30 sessões) e debates (28 sessões). Das 132 propostas para votação pautadas pela mesa diretora nas 10 últimas sessões, somente 50 foram aprovadas.
Temas importantes como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que deveria ser aprovada até julho, está esperando a avaliação dos parlamentares. As reformas política, sindical e tributária, que dariam maior transparência ao trato da coisa pública e dinamizariam, mais, a economia, ficaram aguardando votação. Além destas, estão na fila para apreciação os projetos de lei que tratam do trabalho escravo, do nepotismo, da lei geral das micro e pequenas empresas, do regulamento dos serviços de saneamento básico e das reformas processuais.
Todas as atenções estão voltadas para mensalão, Delúbio, Waldomiro e tantos outros, ofuscando as grandes ameaças potenciais que estão nos rondando. Há muito temos chamado a atenção sobre a cobiça internacional pela nossa Amazônia. A investida mais recente, ocorrida ainda este ano, foi a do senhor Pascoal Lamy, ex-comissário de comércio da União Européia e, atualmente, diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), que defende que ''os bens públicos mundiais são os bens que ela, governança global, teria por objetivo promover ou defender coletivamente em nome do interesse de todos, e dentro deste contexto estariam as florestas tropicais como um todo, as quais devem ser submetidas à gestão coletiva, ou seja, gestão da comunidade internacional''.
É divulgado, também, pela mídia que há em torno de 500 ONG's, a maioria internacional, dentro desta região ditando normas, hostilizando brasileiros e ocupando espaços, e mais, a existência de 20 bases dos Estados Unidos nas fronteiras com os países limítrofes, com o pretexto de combate ao narcotráfico e o cerco seria fechado com a posse da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão.
Não tendo completada a sua estratégia no Cone Sul, esta potência militar elegeu o Paraguai como seu aliado estratégico na América do Sul, com o pretexto de estar preocupado com a instabilidade política da Bolívia, Venezuela e Equador e, também, em face da crescente presença da China no Mercosul.
A instalação dos americanos na base militar de Mariscal Estigarriba tem enorme importância estratégica. Esta unidade fica a 100km do poço de gás natural Independência 1 do Paraguai que se comunica, subterraneamente, com a maior reserva de gás natural do mundo em Tarija, na Bolívia e, além disto, foi descoberto um enorme lençol de petróleo embaixo deste gás, ainda não avaliado.
No que concerne ao Brasil, chama a atenção a proximidade do maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo, o Aqüífero Guarani. Este ocupa uma área de 1,2 milhões de km2, estendendo-se pelo Brasil (840.000km2), Paraguai (58.500Km2), Uruguai (58.500km2) e Argentina (255.000km2). Sua maior ocorrência é no nosso país, com 2/3 da área total. A própria ONU diz que daqui a 20 anos as guerras não serão mais por petróleo e sim por água.
Por tudo que relatamos, anteriormente, devemos estar alertas, pois temos muitas coisas que despertam cobiça. Precisamos resolver os nossos problemas internos, que são de caráter ético, para que tenhamos coesão no país, de modo que possamos enfrentar as ameaças externas que são de caráter estratégico.
Gilberto Alves da Silva Professor , Ex-Subsecretário de C,T&I do Estado do Rio de Janeiro

JB, 05/09/2005, Outras Opiniões, p. A12

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