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21 de Fev de 2024
À espera de licença ambiental, Belo Monte tem estudo para demonstrar que emite menos gases que usinas da Amazônia
Pesquisa da Coppe/UFRJ sobre hidrelétrica mostra eficiência e impacto no clima. Empresa espera renovação de autorização do Ibama
Vinicius Neder
21/02/2024
Com a renovação da licença ambiental de operação sob análise do Ibama desde novembro de 2021, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, está para divulgar um estudo que mostra que a unidade é a mais eficiente da Amazônia, em termos de emissões de gases do efeito estufa (GEE).
Considerando as emissões por quantidade de eletricidade gerada, o empreendimento, em operação desde 2019, fica atrás apenas de hidrelétricas no Sul e no Sudeste, construídas há mais tempo.
As conclusões são de um projeto de medição de emissões, contratado pela Norte Energia - concessionária que opera Belo Monte e tem a Eletrobras como principal acionista. O estudo foi feito por pesquisadores da Coppe, o instituto de pós-graduação e pesquisa em engenharia da UFRJ.
Para comparar as hidrelétricas, foi usado o "índice de intensidade de emissão", que mede a quantidade de GEEs emitidos (em CO2 equivalente) por eletricidade gerada (em quilowatts por hora, ou kWh). Belo Monte, a segunda maior hidrelétrica do país, com 11,2 gigawatts (GW) de capacidade, emite 29,1 gramas de gás carbônico equivalente por kWh, nas contas do estudo.
Em termos líquidos, ou seja, quando se desconta as emissões medidas na área antes da construção da hidrelétrica, o índice de intensidade é de 19,48 gramas de gás carbônico equivalente por kWh. Significa que a usina triplicou as emissões de GEEs no local.
Tamanho do reservatório
Ainda assim, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins, também no Pará, com 8,4 GW de capacidade, emite 48,7 gramas de gás carbônico equivalente por kWh, mais do que o dobro de Belo Monte. Também no Rio Tocantins, mas em Goiás, a Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, com 1,3 GW de capacidade, emite liquidamente 69 gramas de gás carbônico equivalente por kWh, o equivalente a 3,5 vezes o patamar de Belo Monte.
Para fazer as comparações, o estudo da Coppe/UFRJ usou levantamento do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), do Ministério de Minas e Energia, sobre as emissões das hidrelétricas.
O professor Marco Aurélio dos Santos, que liderou o estudo da Coppe/UFRJ, lembrou que a decisão de voltar a construir usinas na Amazônia - com os projetos de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, e Belo Monte - gerou polêmicas em torno do impacto ambiental dos reservatórios de água. Pela capacidade instalada, Belo Monte exigiria um lago muito grande.
Por isso, a decisão foi desenhar as hidrelétricas no modelo conhecido como "a fio d'água", ou seja, em que as turbinas são movidas pelo fluxo do próprio rio, sem um grande lago alagado artificialmente. Santo Antônio e Jirau seguiram esse modelo. Belo Monte teve solução intermediária, com reservatório de 500 quilômetros quadrados, ao lado da calha do Rio Xingu.
- O reservatório menor pode gerar emissões menores. Belo Monte tem uma emissão por unidade de energia muito baixa, porque também tem uma potência instalada muito grande - disse Santos.
O lago de Belo Monte é pequeno diante do reservatório da maior usina do país, a Hidrelétrica de Itaipu - 14 GW de capacidade, no Rio Paraná, na fronteira com o Paraguai -, que ocupa 1.350 quilômetros quadrados. O reservatório da usina de Serra da Mesa tem 1.800 quilômetros quadrados.
A obra de Belo Monte foi polêmica desde o início, no começo da década de 2010. Críticos da construção de grandes hidrelétricas alertavam que o caráter renovável da eletricidade não compensaria impactos socioambientais, incluindo os indiretos, como o crescimento populacional desordenado.
Segundo André Oliveira Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências da USP e membro do Observatório da Volta Grande do Xingu, mesmo a quantidade de emissões de GEE das hidrelétricas depende de fatores como o tipo de rio - características físico-químicas da água, temperatura e o quanto de matéria orgânica recebe - e a geografia - em regiões tropicais, como o Brasil, as usinas emitem mais.
- Ninguém sabe exatamente quanto são as emissões reais - afirmou o professor.
Estudo de professores do Instituto de Geociências da USP, publicado em 2021 na Science Advances, chegou a números semelhantes aos medidos pela equipe da Coppe. No artigo, os professores confirmam que "reduzir as áreas alagadas e priorizar a densidade de geração" reduz a "pegada de carbono" das usinas, mas alertam que "as emissões totais de GEEs são substanciais até mesmo nessa usina a fio d'água (Belo Monte)". "Isso é um argumento a favor de evitar a expansão de hidrelétricas na Amazônia", diz o texto.
No total, Belo Monte consumiu R$ 47,5 bilhões, segundo a Norte Energia, com pouco menos da metade custeada pelo financiamento do BNDES, de R$ 22,5 bilhões, o maior da história do banco. O montante de compensações também foi inédito: a Norte Energia informa que investiu R$ 6,8 bilhões em ações socioambientais - R$ 3,2 bilhões do empréstimo do BNDES foram para esse fim.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/02/21/a-espera-de-licenc…
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