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Espécies ''surgem'' em uma era de extinção

OESP, Vida, p. A25
29 de Jul de 2009

Espécies ''surgem'' em uma era de extinção
Desenvolvimento leva o homem a descobrir novos tipos de animais

Natalie Angier,
The New York Times

No Museu Nacional de História Natural do Smithsonian Institute, Kristofer M. Helgen, diretor do departamento de mamíferos, abriu um dos milhares de armários de metal, mostrando uma dezena de roedores secos. Abre outros, com morcegos com cara de raposa, um mamífero do tamanho de uma doninha e outro morcego com asas translúcidas e manchadas, como um paraquedas. Esses animais vieram de Nova Guiné, Ilhas Salomão, Sulawesi,Quênia, mas todos têm um traço comum: são espécies novas para a ciência, algumas tão novas que nem têm nome. E esses espécimes no Smithsonian são apenas parte de algo muito mais amplo.

Fabio Rohe, da Wildlife Conservation Society, em Nova York, e seus colegas anunciaram a descoberta de um novo macaco no Amazonas, um sagui, de pelo cinzento e pintas douradas batizado de sagui-de-cara-suja de Mura. Outros cientistas descobriram recentemente novos primatas na Bolívia, Índia e Tanzânia.

Desde o último recenseamento de mamíferos, em 2005, computando cerca de 5,4 mil espécies conhecidas, cerca de 400 novas foram acrescentadas. "Estamos em plena era de descobertas de mamíferos", disse Helgen. Mas estamos também numa era de extinção de animais e nós, humanos, somos os grandes culpados. As estimativas sobre a perda anual das espécies variam, mas muitos pesquisadores concordam que, por causa da destruição do hábitat, da volatilidade do clima, do uso de pesticidas, do lixo jogado nos oceanos, das espécies invasivas e outros efeitos "antropogênicos" sobre o ambiente, a taxa de extinção é muitas vezes superior ao que seria uma extinção crônica da natureza.

Uma razão de os cientistas descobrirem espécies em número maior do que há algumas décadas é que, com o desenvolvimento, lugares antes impenetráveis foram abertos. Scott E. Miller, do departamento de ciências do Smithsonian, chama a atenção para o fato de que as flores colhidas hoje no Quênia podem chegar à sua floricultura amanhã, trazendo larvas de espécies não caracterizadas e possivelmente indesejáveis. "As próximas espécies de insetos invasivos podem vir de qualquer local", afirma.

Mas, se é por meio das alterações no hábitat que muitas novas espécies são descobertas, cientistas argumentam que seu reconhecimento formal pode ser a salvação de uma espécie debutante. Jean Boubli, que dirige os programas da Wildlife Society no Brasil, pretende usar o sagui recém-descoberto como argumento em favor da sua luta para impedir a construção de estradas pavimentadas na região ainda virgem da floresta amazônica, a cerca de 100 quilômetros de Manaus. "Foi um feliz acaso descobrir essa subespécie agora e provar para as autoridades que a abertura de novos acessos para a floresta será um desastre", disse.

Naturalmente, a maioria dos habitantes misteriosos são insetos e outros invertebrados. Dos 85 milhões de espécimes biológicos que se encontram no Smithsonian, 35 milhões são de insetos, e esse número vem aumentando. "Essa coleção cresce em 500 mil a cada ano."

Além disso, insetos e seus parentes artrópodes sofrem com a perda do seu hábitat. Como observou May Berenbaum, da Universidade de Illinois, é difícil para as pessoas se identificarem com uma criatura que tem os ossos do lado de fora. "Se encontrarmos uma nova espécie de besouro ou mesmo uma família inteira, quem se importa?", diz Boubli. "Mas macacos são grandes, bonitos e peludos."

"No geral, estamos perdendo muitas espécies", diz John Robinson, vice-presidente da Wildlife. "Mas também estamos conseguindo manter espécies grandes. Há muitos conservacionistas empenhados em garantir que não seja perdida a nossa megafauna simbólica e culturalmente importante, muitas próximas da extinção."

Mesmo nossos mascotes mais queridos - como pandas e baleias - ainda são um mistério para nós. "Achamos que conhecemos muito bem os mamíferos, mas temos informações mais básicas só de 6% deles", diz Miller. Os conservacionistas também estão empenhados em descobrir onde e em que condições essa megafauna preciosa sobrevivente estará daqui a 5, 10 ou 50 anos. "Se você não sabe o que existe em termos de biodiversidade, como vai conservá-la?", diz Vick A. Funk, curadora do National Herbarium. Talvez em conservas, cuidadosa e eternamente mantidas em arquivos.

OESP, 29/07/2009, Vida, p. A25

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