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Especialistas cobram transparencia da Sabesp

OESP, Cidades, p.C3
10 de Set de 2004

Especialistas cobram transparência da Sabesp
Empresa é criticada por não ter divulgado antes o "volume morto" nas represas
Moacir Assunção e Silvana Guaiume
O especialista em águas subterrâneas da Universidade de São Paulo (USP) Aldo Rebouças criticou ontem a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) por não divulgar a dimensão do chamado "volume morto" de água do Sistema Cantareira. Ele classificou de "ato de esperteza política" o fato de a Sabesp ter omitido que as represas do Cantareira tinham 212 milhões de metros cúbicos de água a mais que o nível divulgado.
Para Rebouças, ao indicar para a sociedade uma situação mais grave que a verificada nos reservatórios, a Sabesp pretendia garantir a realização de obras. "Eles (Sabesp) deviam ter divulgado antes a extensão da reserva técnica para que não fôssemos forçados a trazer água até do Vale do Ribeira para consumo na região metropolitana", comentou. Para o técnico, ligado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o desconhecimento sobre a extensão da reserva não ajuda no esforço de economia de água.
A reserva técnica, acumulada nas Represas de Jacareí e Jaguari, só foi incorporada aos dados da Sabesp sobre o nível dos seus sistemas de abastecimento no dia 1.o. A medida foi determinada pelo governo federal após a renovação da outorga (concessão de uso da água) do sistema.
As cidades da região de Campinas abastecidas pelo Cantareira, por exemplo, sabiam da existência da reserva estratégica, mas ignoravam detalhes sobre o volume de água que ela representava. "Sabíamos apenas de uma reserva que não poderia ser usada por razões estratégicas", disse ontem o membro do Grupo de Trabalho do Cantareira e consultor da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) de Campinas, Paulo Tínel.
O consultor considera que a Sabesp não agiu de má-fé, mas alegou que os municípios do interior poderiam ter enfrentado menos problemas de abastecimento se a quantidade total de água fosse conhecida. Tínel afirmou que a captação de água do Cantareira para a Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abastecem 4,5 milhões de pessoas na região de Campinas, poderiam ter sido maiores. "Com vazões baixas, os municípios acabaram gastando mais para captar e tratar a água." Ontem a bacia recebia 4,6 metros cúbicos por segundo de água por segundo do Cantareira e, de acordo com as normas da outorga, tinha direito a 5,9 metros cúbicos.
Prejuízo - O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e hoje economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, disse que a omissão de informação por parte da Sabesp prejudica a imagem da empresa mais com os consumidores do que com os investidores. "É uma prática ruim, uma vez que empresas de capital aberto devem ser sempre transparentes, tanto com os investidores como com os consumidores. Mas é uma questão que não chega a prejudicar as relações com detentores de ações exceto se tiverem impacto na perda de receita e no seu lucro."
Numa primeira avaliação da sua área técnica, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), uma espécie de "xerife" do mercado de capitais, não detectou nenhuma conexão do caso da omissão da Sabesp com as suas atribuições. Mas o setor técnico ficará alerta e, se algum acionista da Sabesp se sentir lesado, a CVM poderá agir.
Procurada, a Sabesp não quis se manifestar sobre o caso da reserva técnica.
Mas a empresa forneceu informações sobre a economia de água obtida nos últimos quatro meses graças à campanha Olha o Nível!, lançada pelo gofverno do Estado. Metade dos consumidores fizeram jus ao bônus de 20% de desconto nas contas. (Colaborou Carlos Franco)

OESP, 10/09/2004, p. C3

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