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Enterrar CO2 ganha destaque no G-8

OESP, Vida e Sustentabilidade, p. H4
31 de Jul de 2009

Enterrar CO2 ganha destaque no G-8
Países ricos prometem mais investimento em projetos de sequestro de carbono; Brasil entra na corrida pela técnica

Carolina Stanisci

Os países do G-8, reunidos na Itália no mês passado, fecharam o compromisso de lançar 20 grandes projetos para enterrar os gases do efeito estufa até 2010. Esse pontapé das nações mais ricas voltará as atenções de empresas para técnicas de captura e armazenamento de carbono. E, agora, o Brasil poderá integrar o rol dos países que diminuem suas emissões com a tecnologia - a Petrobrás conseguiu, no mês passado, guardar grande quantidade de CO2 no subsolo da Bacia do Recôncavo, na Bahia.

Ainda inviável em larga escala, principalmente pelo alto custo da captura do gás, a tecnologia, conhecida como CCS (sigla em inglês que significa captura e estocagem de carbono), vem sendo testada há pelo menos dez anos, em projetos piloto mundo afora. Na Europa, a pioneira é a petrolífera norueguesa Statoil, que vem injetando desde 1996 cerca de 1 milhão de toneladas de gás carbônico no Mar do Norte por ano. No Canadá, a EnCana enterra 3 milhões de toneladas de CO2 no subsolo do país. Gigantes do setor petrolífero, como Texaco, Shell e British Petroleum, investem pesado para se livrar do carbono.

Seria a panaceia para as emissões? "É parte da solução", afirma o engenheiro australiano David Hone, consultor da Shell para Mudanças Climáticas. Ele estará no Brasil na próxima quarta-feira no 3o Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece em São Paulo. Para o professor Alexandre Szklo, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), com a CCS será possível a utilização dos combustíveis fósseis por mais tempo.

Por outro lado, Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental (ISA), é cético sobre o assunto: "É como enxugar gelo, pois continuamos jogando uma quantidade estúpida de gás carbônico na atmosfera". Sozinha, a CCS não combate os efeitos maléficos das emissões de carbono. Mas traz uma vantagem extra: a produtividade dos poços de petróleo pode aumentar com a pressão do gás injetado - uma das razões pelas quais as empresas continuam investindo no sequestro geológico de carbono. Nos EUA, desde a década de 60, a CCS é usada com esse fim. "Nenhuma empresa faz uso da CCS integralmente. Partes da tecnologia estão em operação em diversos lugares", diz o consultor da Shell.

O custo da fase da captura do gás é o maior entrave. Capturar uma tonelada de CO2 jogado na atmosfera pelas indústrias que queimam combustível fóssil, como refinarias, siderúrgicas e termelétricas, chega a US$ 120 (cerca de R$ 230). "O problema é que as emissões de gás carbônico no mundo chegam a 25 bilhões de toneladas por ano", lembra o coordenador do Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac) da PUC-RS, João Marcelo Ketzer.

Além disso, o CO2 que sai da chaminé da indústria está misturado a outros gases, e o método mais usado para selecioná-los é a absorção química por meio de um solvente cuja base é a amina. "Além de ter os custos elevados, a eficiência da captura é baixa", diz o gerente-geral do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), Luis Fernando Mendonça, à frente do projeto da Petrobrás na Bacia do Recôncavo baiano, no Rio Pojuca.

NA BAHIA

No Recôncavo, a Petrobrás já injetava gás carbônico desde a década de 80 em alguns poços. O objetivo era aumentar sua produtividade. Agora, a empresa aposta em projetos para reduzir o passivo ambiental no futuro. No mês passado, depois de seis meses de injeção diária de 50 toneladas de CO2 em um aquífero salino, uma das formações geológicas ideais para armazenar carbono, a empresa concluiu que a experiência foi bem-sucedida. A ideia era saber como o gás se comportaria debaixo da terra.

"Funcionou muito bem. Por enquanto, o gás está paradinho lá", afirma Mendonça. De acordo com o gerente do Cenpes, antes de testar a viabilidade de sua captura e transporte, cujo custo operacional é elevado, a Petrobrás desejava monitorar se o CO2 se movimentaria no subsolo ou vazaria.

A Petrobrás já investiu, desde 2006, cerca de R$ 21 milhões na CCS. Mais da metade dessa verba foi destinada ao Cepac, onde 55 pesquisadores têm se debruçado para examinar a viabilidade do sequestro geológico no País, estudando formações geológicas brasileiras, como os aquíferos salinos, os poços de petróleo desativados e os campos de gás, alvos preferidos para enterrar o dióxido de carbono, e capacitando profissionais para trabalhar na área.

"Para reduzir as emissões de carbono, qualquer tecnologia desenvolvida hoje tem que pensar nos combustíveis fósseis", diz Ketzer. "A energia do mundo vem do carvão e petróleo." Diminuir o passivo ambiental será vital para a Petrobrás, depois da descoberta da camada de pré-sal. Em especial, em campos como o de Tupi, na Bacia de Santos, onde foi comprovado o alto teor de CO2. "A empresa terá que lidar com isso", diz Szklo.

Embora não seja possível prever a quantidade de CO2 emitido na camada pré-sal, a empresa estuda realizar um projeto de CCS no campo. "Os otimistas acreditam que todas as equações envolvendo o custo da captura serão rapidamente solucionadas", diz Szklo. Para o professor, não é possível fazer previsões de quando a técnica será viável em escala comercial. A Petrobras também diz ser cedo para saber. "Estamos no início da escalada", afirma Mendonça. A empresa prossegue com outro projeto de CCS, no Campo de Miranga (BA).

BIOCOMBUSTÍVEL

Contra ou a favor da CCS, todos concordam que levará tempo para que sejam desenvolvidos combustíveis com base em energias renováveis para uma possível transição no futuro. No Brasil, a pesquisa capitaneada pela Petrobrás, em parceria com universidades, é inteiramente voltada ao sequestro geológico. Essa é apenas uma das maneiras de armazenar o carbono - as outras são o sequestro por biomassa e oceânico. No sistema por biomassa, o gás é sugado da atmosfera por plantas, sendo usado no processo da fotossíntese. No oceânico, o CO2 é absorvido na fotossíntese de organismos marinhos. A engenheira Isabella Vaz Leal da Costa, doutoranda do programa de Planejamento Energético da Coppe, estuda se é viável a instalação de CCS em usinas de álcool. "Durante a fermentação do caldo da cana-de-açúcar para a produção do biocombustível, é liberado CO2. A ideia é capturá-lo e transportá-lo para uma formação geológica próxima à usina", explica Isabella. Seria como unir o sequestro geológico ao por biomassa, pois as plantações de cana sequestram carbono. "O balanço de carbono seria negativo."

OESP, 31/07/2009, Vida e Sustentabilidade, p. H4

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