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Empresario enviou US$ 10 milhoes sem avisar BC

OESP, Nacional, p.A14
19 de Set de 2004

Empresário enviou US$ 10 milhões sem avisar BC
Transação do MTB Bank para o Brasil, de Cecílio do Rego Almeida, é a maior operação feita por pessoa física no banco americano
Leonel Rocha
BRASÍLIA - As análises contábeis feitas até agora pelos especialistas da Polícia Federal e do Ministério Público no banco de dados do MTB Bank, de Nova York, apontaram o empresário Cecílio do Rego Almeida como o responsável pela maior operação financeira feita por pessoa física no banco americano. No dia 9 de abril de 1998, o dono da empreiteira C.R.
Almeida autorizou uma transação de US$ 10.999.982,50 na conta General Star Corp., administrada por doleiros. O destino do dinheiro era o Brasil.
De um total de 534 mil operações registradas nas 44 contas de doleiros do MTB, somente 39 foram de valores mais elevados que os de Almeida. Mesmo assim, todas foram feitas por instituições financeiras ou empresas.

De acordo com as análises financeiras iniciais feitas no banco de dados - revelado pelo Estado - por assessores da CPI e por peritos da Polícia Federal, o empreiteiro autorizou a remessa do dinheiro dos Estados Unidos para o Brasil, onde, pelo câmbio paralelo, como foi transacionado, chegou valendo quase R$ 13 milhões.

O dinheiro do empresário entrou no País sem o conhecimento do Banco Central (BC), que, por lei, tem de ser informado de todas as entradas e saídas de moeda estrangeira no Brasil.

O chefe do Departamento Jurídico da CR Almeida, Sandro Martins, informou que Almeida está internado num hospital, recuperando-se de uma cirurgia cardíaca, e não pôde ser contatado para dar nenhuma orientação aos advogados da empresa sobre as movimentações no MTB. Martins acrescentou que não pode falar do assunto porque o depósito está em nome da pessoa física do empresário, não da empresa.

Grilagem - Almeida já esteve envolvido em algumas polêmicas. Costuma fazer ameaças e nunca rejeita uma disputa judicial. Há cerca de três anos, chegou a ser incluído no cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) como um dos maiores grileiros de terras do País. O cadastro, chamado de "livro branco da grilagem de terras", foi elaborado sob a coordenação do ex-ministro da Reforma Agrária do governo Fernando Henrique, Raul Jungmann, que por isto foi processado pelo empresário.

O dono da CR Almeida comprou 4,7 milhões de hectares no Pará. Era uma extensão de terras tão grande que tinha 28 rios médios que cortavam os domínios da propriedade, onde planejava criar jacarés, peixes e tartarugas.

Na época, inquérito da Polícia Federal apontou o empresário como grileiro, por ter comprado e ocupado terras da União. Juntamente com Falb Saraiva de Farias, chegou a ter a prisão sugerida pelo então ministro Jungmann.

Privatização - Em 1998, o empresário tentou participar do processo de privatização da telefonia celular e arranjou outra briga. Através da empresa Primav, que fazia parte do conglomerado da CR Almeida, se associou ao consórcio Tess, vencedor do leilão de privatização no interior de São Paulo, vendeu por US$ 31 milhões a sua participação no consórcio e depois entrou na Justiça contra os ex-sócios. Ele pretendia reintegrar a Primav no consórcio e chegou a obter uma liminar na Justiça, cassada posteriormente.

Até 1992, Almeida aparecia na lista da revista americana Forbes como um dos empresários mais ricos do Brasil. Começou a vida como telegrafista dos Correios e chegou a ser dono da maior empreiteira do País, até o início dos anos 90. No final do governo Collor, o empreiteiro convocou a imprensa para acusar a construtora OAS, de familiares do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), de transformar as licitações públicas do governo federal em um grande balcão de negócios.

OESP, 19/09/2004, p. A14

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