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Em Natal, aumento de 1.324% em uma década

O Globlo, O País, p. 10
22 de Dez de 2011

Em Natal, aumento de 1.324% em uma década
Número de moradores em habitações precárias passou de 5.112, em 2000, para 80.774 no último censo

PAULO FRANCISCO

Com população de 803.739 mil habitantes, Natal tem 10% dos moradores vivendo em aglomerados subnormais: favelas, invasões e loteamentos sem titulação. Segundo o IBGE, a capital do Rio Grande do Norte tem 80.774 pessoas vivendo nessas condições. No censo de 2000, Natal tinha 5.112 pessoas morando em favelas para uma população de 712.317 habitantes. O percentual correspondia a 0,71% dos moradores da cidade. O aumento em uma década foi de 1.324%, o maior entre as capitais do país: Florianópolis vem a seguir com 643%, seguida de São Luis (550%) e Macapá (543%).
Segundo o IBGE, Natal tem 22.561 domicílios em áreas dos aglomerados subnormais. A segunda cidade do Rio Grande do Norte, Mossoró, com 249.122 habitantes, tem 5.944 pessoas morando em favelas.
A secretaria municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb) informou que os dados do IBGE podem estar subdimensionados em relação ao censo de 2000. Para a Semurb, o Censo de 2010 não contabilizou a reurbanização de várias favelas nos últimos anos.
- O IBGE, no censo de 2000, não considerava algumas aéreas de Natal como assentamentos precários, por isso essa diferença agora. Mas não houve este salto quantitativo de assentamentos precários - disse Rosa de Fátima, arquiteta da Semurb.
Segundo o mapa de favelas elaborado pela Semurb, Natal tinha até 67 assentamentos precários até 2010 - 25 na Zona Oeste, a região com maior concentração desse tipo de habitação.
Num desses locais, o Anatalia de Souza, no bairro de Guarapes, vivem cerca de 200 famílias, como a de Maciel Ferreira de Souza. Ele deixou o interior porque não achava trabalho. Mora com a mulher e o filho Maxuel, de 6 anos, num casebre de taipa: são dois cômodos, cozinha e quarto. Possui TV, geladeira e equipamento de som. Trabalha na reciclagem de lixo e faz fretes com duas carroças. Ganha cerca de R$400 por mês. A mulher trabalha como cabeleira em casa.
- No interior, ganhava dez contos para cortar mato, mas nem todo dia tinha trabalho. Aqui, só hoje, ganhei 30 (reais) fazendo um frete.

Em Pernambuco, 852 mil pessoas moram em 'aglomerados subnormais'
Na capital do estado, são 109 áreas dominadas por moradias precárias

LETÍCIA LINS

De acordo com o IBGE, em Pernambuco há 852 mil pessoas morando em aglomerados subnormais, como os morros de Casa Amarela e a Favela de Afogados, em Recife. Pela pesquisa, 23,2% deles ficam na região metropolitana recifense. Além da capital, as quatro outras cidades com maior número de população favelada também ficam na região metropolitana (Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Olinda e Paulista).
A pesquisa do IBGE não surpreendeu a prefeitura de Recife quanto ao número de moradias precárias. É que o estudo divulgado ontem indica 109 áreas naquela situação na capital, mas, de acordo com o secretário municipal de Habitação, Sebastião Rufino, a cidade possui "400 aglomerados de baixa renda".
O maior aglomerado subnormal de Pernambuco, segundo o IBGE, fica no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte, reunindo 53.129 moradores que se concentram em morros. Segundo Rufino, o bairro todo possui 500 mil habitantes, um terço da população recifense, com ilhas de classes média alta e alta residindo em edifícios de luxo.
Os altos do bairro de Casa Amarela, no entanto, não chegam a ser os mais precários da capital, pois quase todas as suas casas são construídas em alvenaria, ao contrário do que ocorre em favelas como a dos Coelhos (no centro) ou Caranguejo Tabaiares (no bairro de Afogados), pontilhadas de palafitas, erguidas em papelão, zinco e pedaços de madeira. Distante do rio, Casa Amarela cresceu sobre os morros da Zona Norte e, segundo os moradores ouvidos ontem, a sua maior dificuldade é a falta de saneamento e o lixo acumulado pelas ruas.

Esgoto a céu aberto escorre por ladeiras de morros
O GLOBO constatou o problema em ruas inclinadas como Alto do Buriti 1 e Alto do Buriti 2, que ligam o topo dos morros à avenida principal que corta a localidade de Nova Descoberta. Ao lado das escadarias construídas pelo poder público, há valas pelas quais o esgoto a céu aberto desce as ladeiras até um canal infecto que margeia as calçadas do bairro e no qual proliferam insetos. O mau cheiro exala o tempo todo.
-- Isso aqui é um horror. Esta água que escorre ladeira abaixo deveria ser só de banho e pia, mas vem tudo junto lá de cima, todo tipo de dejeto. Em todas as ruas, o sistema é esse, desce tudo e deságua nas canaletas aqui embaixo - reclama a cambista Eliene Teixeira de Melo.
Morador do local há 35 anos, o ambulante José Pedro de Lima já chegou a passar mal limpando o esgoto que corre na frente da residência.
- Há quatro anos esteve gente do governo aqui dizendo que ia sanear, mas está tudo do mesmo jeito. É muita porcaria descendo lá de cima. É muita sujeira, que vem de pia, banheiro.

O Globlo, 22/12/2011, O País, p. 10

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