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Em defesa das antigas árvores

CB, Cidades, p. 21
26 de Dez de 2007

Em defesa das antigas árvores
Documento com estudo que defende manutenção de espécies exóticas será entregue à Justiça e à direção da reserva ecológica. Associação de amigos luta contra cortes de mangueiras e goiabeiras

A Associação dos Amigos e Freqüentadores do Parque Nacional de Brasília (Afam) vai preparar um relatório técnico para proteger as espécies exóticas. A idéia é apresentar o documento para a Justiça e para a direção da reserva ecológica a fim de evitar que as árvores sejam cortadas. Há três meses, o diretor da Água Mineral, Darlan Alcântara de Pádua, mandou retirá-las porque não fazem parte do bioma do Cerrado e substituí-las por plantas nativas. O problema é que nem todas as árvores tombadas são prejudiciais ao ecossistema e algumas ainda ajudam na manutenção da fauna, segundo o argumento da diretora executiva da Afam, Silvia Nogueira. "Várias frutíferas, algumas delas bastante adaptadas à mata do parque, servem de alimento para pássaros, macacos e micos", comenta.

Outras árvores cumprem papel paisagístico ao enfeitar o local e fornecer sombra para os usuários.
"Ouvimos de funcionários que iriam tirar todos os cambuís do estacionamento. Lá, não há prejuízo para a flora porque as plantas estão cercadas de asfalto", completa a psicóloga Maria Auxiliadora Lima Alves, que freqüenta há 10 anos o parque e também faz parte da Afam. A associação se antecipou ao boato de que os cambuís seriam cortados na véspera de Natal, quando o movimento da reserva é pequeno, e entrou com uma medida cautelar na Justiça contra a retirada da espécie na tarde de domingo. Além dos cambuís, na lista de árvores condenadas estão goiabeiras, mangueiras, pitangueiras e magnólias (veja o quadro).

No dia em que estava previsto o corte das árvores, a juíza da 12ª Vara de Justiça Federal, Polyana Rodrigues de Almeida Lima, fez um pedido de informações para a direção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e à União, responsáveis pela direção e gerência do Parque Nacional. A juíza deu um prazo de 72 horas - após o recebimento do documento - para que as autoridades dêem uma resposta. Após esse período, ela vai decidir se indefere, ou não, o pedido de suspensão.

Até a noite de ontem, a gerência do parque ainda não havia recebido a notificação judicial. "Estou esperando o fim do recesso para receber o documento e ver como vamos proceder nesse caso", afirma o diretor de Manejo da reserva, Paulo Amozir. "O corte começou há três meses com um projeto feito por especialistas e aprovado pelo Ibama. Não é um ato indiscriminado", justifica. Na manhã de hoje, o diretor vai se reunir com técnicos do órgão federal para antecipar a justificativa que será entregue à Justiça.

Enquanto espera a resposta dos órgãos públicos, a associação de usuários do parque resolveu se antecipar mais uma vez. E, a partir de hoje, também vai se reunir com engenheiros florestais da Universidade de Brasília (UnB) para justificar a manutenção das plantas. "Fomos acusados de sermos leigos preocupados apenas com o estacionamento ou com bobagens. Vamos provar que as árvores que ele quer cortar não causam danos ambientais", garante Sílvia. "Além disso, existem inúmeras áreas dentro do parque que podem ser um espaço exclusivo de cerrado. Não é necessário causar danos à natureza que, mais do que um patrimônio ambiental, é área de lazer para milhares de brasilienses que não têm onde curtir com a família", completa.

O cineasta Armando Lacerda explica que insatisfação da entidade não está no plantio de espécies nativas do cerrado, mas sim da retirada das exóticas. "Não entendemos porque não plantar as árvores nativas, esperá-las crescer e somente após transplantar, e não derrubar, aquelas que hoje nos dão sombra e abrigo para animais", defende. "Freqüento o parque há mais de 20 anos e tenho me impressionado com a troca dos sons dos pássaros pelo barulho da motoserra. Isso, definitivamente não combina com uma reserva", afirma.

AMEAÇADAS

Cambuís
Árvore de médio porte presente em muitas áreas da capital, a planta floresce entre novembro e janeiro e combina o amarelo forte da floração com o verde das folhas. Nativos da Mata Atlântica, os cambuís estão em vários pontos da cidade como na praça em frente ao Palácio do Buriti. A espécie atinge, em média, 20m de altura e abre uma copa larga o que a torna apreciada pela sombra que produz. Depois de cinco anos já dão a primeira florada.

Goiabeiras
É uma planta perene, de porte arbustivo, com 3 a 7m de altura, e está disseminada por todo o mundo. Pertencente à família Myrtaceaea, é originária de alguma região da América Tropical, situada entre o México e o Brasil. As frutas fazem sucesso com os pássaros e são variáveis em tamanho, forma, sabor, peso e coloração de polpa, que pode ser branca, creme, amarela, rosa ou vermelha. A goiaba é rica em vitamina C.

Mangueiras
É uma árvore frutífera pertencente ao gênero Mangifera, que inclui cerca de 35 espécies de árvores nativas do sul e do sudeste asiático desde o leste da Índia até às Filipinas, e introduzidas com sucesso no Brasil e em outros países tropicais. As mangueiras são grandes árvores, atingindo até 40 m de altura, com um raio de sua copa próximo de 10 m. Suas folhas são perenes e, quando jovens, são rosa-alaranjadas. As sementes da manga, quando jogadas em solo fértil e bem irrigado, podem germinar com facilidade e originar novas árvores de crescimento rápido nos primeiros anos.

Pitangueiras
De porte médio, com no máximo 12 m, é de desenvolvimento moderado e dotada de folhagem perene. É originária da região que se estende desde o Brasil Central até o norte da Argentina, sendo distribuída geograficamente ao longo de quase todo o território nacional, devido à sua adaptabilidade às mais distintas condições de clima e solo. Apresenta um sistema radicular profundo, com uma única raiz maior e numerosas raízes secundárias.
Magnólias
Árvore que alcança até 25 metros de altura, com copa medindo até 12 metros de diâmetro. Possui ramos vigorosos que se mantêm verdes o ano inteiro. Gosta de solo argiloso, com boa drenagem e rico em matéria orgânica. Ela chama atenção pelo caráter ornamental e, entre a primavera e o verão, cobre-se de grandes flores brancas, muito perfumadas, num formato que lembra uma taça. A magnólia pertence a um gênero muito antigo de árvores. Acreditase até que sejam cultivadas há cerca de 1.400 anos. Trata-se de uma árvore indicada para locais com bastante espaço.

Ficus
Também são conhecidas como gameleira e caxinguba, faz parte de uma família de mais de mil espécies que se adaptam especialmente em climas tropicais e subtropicais. A mais cultivada no Distrito Federal é a Benjamina, originária da Índia. É comum vê-la em vasos, com porte baixo e copa podada, mas é uma planta que pode ultrapassar os 20 metros de altura e suas raízes podem destruir muros e pavimentos com facilidade. Exatamente por isso, não é indicado que se cultive essa planta perto das casas.

CB, 26/12/2007, Cidades, p. 21

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