VOLTAR

Eletrobras perdeu R$ 186 bi em 15 anos, diz 3G Radar

Valor Econômico, Empresas, p. B3
27 de Jul de 2017

Eletrobras perdeu R$ 186 bi em 15 anos, diz 3G Radar

Camila Maia

A Eletrobras teve, nos últimos 15 anos, cerca de R$ 186 bilhões em valor destruído, devido ao mau uso da companhia por motivos políticos e por ineficiências, de acordo com cálculos da gestora 3G Radar, que tem 5,13% das ações preferenciais da companhia. Apenas a participação da estatal na construção das megausinas hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antonio, e também no projeto da usina nuclear de Angra 3, resultaram em destruição de valor de R$ 40 bilhões para a estatal.
A 3G Radar foi fundada em 2013 pela 3G Capital - de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira - como uma casa de gestão especializada em fundos de ações de companhias locais.
Em carta aos investidores, a gestora disse calcular que a participação da Eletrobras na construção das hidrelétricas da região Norte, chamadas de "projetos estruturantes", levou a uma destruição de valor de R$ 20 bilhões para a companhia, considerando sua participação proporcional nos ativos. Já Angra 3 destruiu outros R$ 20 bilhões, e a usina nuclear sequer tem data para entrar em operação.
No caso dos projetos estruturantes, a 3G Radar destaca que, desde o princípio, as obras de Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira (RO) e de Belo Monte, no rio Xingu (PA), envolviam altos riscos de engenharia e comerciais, elevados custos de transmissão e, consequentemente, dificultavam a obtenção de financiamento.
Os projetos acabaram custando muito mais do que o previsto inicialmente, em cerca de 20% a 25% em média. Outros problemas sofridos pelas usinas são o risco hidrológico (medido pelo fator GSF, na sigla em inglês), atrasos, além das investigações de corrupção relacionadas à Operação Lava-Jato. No total, a 3G Radar calcula que os projetos destruíram R$ 47 bilhões em valor aos sócios, sendo R$ 20 bilhões à parcela correspondente da Eletrobras.
Já o projeto da usina nuclear de Angra 3, que deveria ter entrado em operação neste ano, está paralisado depois de receber investimentos de R$ 10 bilhões. Estima-se que a conclusão demandará mais R$ 16 bilhões, somando R$ 26 bilhões no total. Quando o projeto foi aprovado, o capex aprovado somava R$ 16 bilhões.
Para a gestora, não está claro quando a equação da termelétrica será resolvida. Para que as obras possam ser concluídas, é necessário uma tarifa de R$ 360 por megawatt-hora (MWh), aumento de 56% ante a tarifa atual.
Uma solução, segundo a gestora, seria permitir que parte da energia de Angra 3 seja negociada em dólar, como acontece com a energia de Itaipu, além da facilitação da entrada de investidores estrangeiros com acesso a financiamento mais barato.
Esses não são os únicos problemas que destruíram valor na companhia. O prejuízos acumulados pelas distribuidoras da Eletrobras nos últimos 10 anos levaram à perdas de R$ 41 bilhões, segundo a gestora.
Além disso, a estatal foi obrigada a capitalizar as empresas, e atrasou pagamentos a fornecedores de combustíveis para geração de energia. Isso gerou uma dívida de R$ 16 bilhões, concentrada principalmente na Petrobras.
Outras ineficiências destruíram R$ 85 bilhões na estatal nos últimos 15 anos. Para chegar nesse número, a 3G Radar calculou que os custos operacionais da estatal poderiam ser R$ 4,1 bilhões menor a cada ano em comparação com seus pares privados. Esse montante, acumulado em 15 anos e ajustado pelo custo de capital, chega nos R$ 85 bilhões.
As perdas crescem mais quando se considera o impacto da Medida Provisória (MP) 579, que, em 2012, obrigou a Eletrobras a renovar as concessões de um terço de sua potência instalada em troca de uma receita pela operação e manutenção dos ativos apenas. A gestora calcula que os efeitos da MP 579 causaram perdas de outros R$ 20 bilhões à estatal, levando o total destruído em 15 anos a R$ 186 bilhões, quase 10 vezes o valor de mercado atual da companhia, de cerca de R$ 20 bilhões.
Considerando o valor de mercado da Eletrobras de R$ 67 bilhões ao fim de 2002, o custo médio da dívida brasileira calculado pela Selic e os dividendos distribuídos pela companhia no período, além de aumentos de capital, a alocação de capital na estatal custou cerca de R$ 228 bilhões ao Brasil em 15 anos. Segundo a gestora, o valor é equivalente a 4% do PIB brasileiro e a 7% da dívida pública líquida.

Valor Econômico, 27/07/2017, Empresas, p. B3

http://www.valor.com.br/empresas/5055694/eletrobras-perdeu-r-186-bi-em-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.