Eletrobras e grupo chinês vencem leilão de linhão de Belo Monte

Eletrobras e grupo chinês vencem leilão de linhão de Belo Monte
Empresas oferecem deságio de 38% e Dilma diz que luz terá desconto

RONALDO D'ERCOLE
ronaldod@sp.oglobo.com.br
ROBERTA SCRIVANO
roberta.scrivano@oglobo.com.br

-SÃO PAULO- O consórcio IE Belo Monte, formado pela estatal chinesa State Grid e pela Eletrobras (representada pelas subsidiárias Eletronorte e Furnas), foi o vencedor do leilão de concessão da linha de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, realizado ontem na BM&FBovespa, em São Paulo. Com um deságio de 38% sobre o teto fixado pelo governo de R$ 701 milhões para a Receita Anual Permitida (RAP, que é o valor que a concessionária receberá anualmente para operar o sistema), o grupo ofereceu uma RAP de R$ 434,6 milhões, arrematando os dois lotes ofertados: o A, composto por duas estações conversoras e duas subestações, e o B, que é a própria linha de transmissão. Em comentário no Twitter, a presidente Dilma Rousseff comemorou o resultado do leilão, afirmando que o deságio de 38% permitirá um desconto na conta de luz:
"Como houve deságio de 38%, haverá um desconto maior na conta de luz. #BeloMonte", escreveu Dilma no Twitter.
A obra é considerada uma das mais importantes para o sistema elétrico brasileiro, já que vai escoar a eletricidade da usina ao maior centro de consumo do país. O "linhão" de Belo Monte vai passar por 78 municípios dos estados de Pará, Tocantins, Goiás e Minas Gerais e consumirá 25 mil quilômetros de cabos.
Pelo edital do leilão, o consórcio vencedor terá de investir cerca de R$ 5,1 bilhões no projeto, que além das estações e subestações, prevê a construção de 2.092 quilômetros de linhas ligando a usina, que fica no Rio Xingu, à cidade de Estreito, na divisa de Minas Gerais com São Paulo. A linha deve ser concluída em 46 meses.
Será a segunda maior linha de transmissão do país, atrás apenas do "linhão do Rio Madeira", que terá 2.400 quilômetros ligando as usinas de Jirau e Santo Antônio aos centros consumidores do Sudeste.
Outros dois consórcios participaram da disputa. O grupo for formado pela Taesa (braço da Cemig) e pela Alupar ofereceu desconto de 4,93%, equivalente a uma RAP R$ 666,482 milhões. A espanhola Abengoa, que entrou sozinha na disputa, propôs deságio de 11,49%, ou RAP de R$ 620,423 milhões.

ELETROBRAS TERÁ 49%
O sistema de transmissão de Belo Monte será a primeira linha do país a funcionar com tensão de 800kv, que possibilita menor perda da energia. Segundo o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, o deságio agressivo oferecido pela estatal em parceria com a chinesa só foi possível graças à "união das experiências das empresas" na transmissão em tensão elevada (extra tensão). Costa informou também que o consórcio dividiu a linha em oito lotes, que serão executados por construtoras diferentes já contratadas. Os conversores e as estações serão fornecidos pela Siemens, cujo contrato envolve R$ 2 bilhões.
- Negociamos com as construtoras, e o custo total do projeto deve ficar em R$ 4,5 bilhões, e não nos R$ 5,1 bilhões (previstos no edital) - disse Costa, ao explicar que apesar do alto deságio o grupo terá boa taxa de retorno.
Indagado sobre se um eventual acordo prévio com bancos chineses teria ajudado no cálculo do desconto, Costa negou. Segundo ele, entre 50% e 55% do financiamentos das obras deverão vir do BNDES, ao passo que os chineses da State Grid entrariam com cerca de 10% de capital próprio.
Os chineses lideram o consórcio vencedor, com 51% de participação, enquanto a Eletrobras tem 49% (sendo 24,5% de Furnas e 24,5% da Eletronorte). Segundo Costa, há um acordo de acionistas que permitirá à Eletrobras, mesmo minoritária, participar das decisões do grupo. - As decisões serão tomadas por consenso - garantiu.
O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, comemorou o resultado do leilão, que foi o primeiro do setor em 2014. Para ele, o resultado "demonstra um sinal de otimismo" no momento atual.
- Estamos satisfeitos com o deságio. Como sempre, a agência reguladora buscou a modicidade tarifária - afirmou o diretor da Aneel.
A chinesa State Grid é a maior empresa de transmissão de energia do mundo, com faturamento anual de US$ 298,4 bilhões e está no Brasil desde 2010. As relações da empresa com o Brasil se estreitaram depois da visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim, em 2012.

"Negociamos com as construtoras e o custo do projeto deve ficar em R$ 4,5 bilhões, e não nos R$ 5,1 bilhões (do edital)"
José da Costa Carvalho Neto -
Presidente da Eletrobras

"Como houve deságio de 38%, haverá um desconto maior na conta de luz"
Dilma Rousseff Presidente do Brasil, em comentário no Twitter

O Globo, 08/02/2014, Economia, p. 36

http://oglobo.globo.com/economia/consorcio-formado-por-chineses-pela-el…