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Eletricidade trava desenvolvimento do Amapá

OESP, Especial, p. H6
03 de Dez de 2009

Eletricidade trava desenvolvimento do Amapá
Isolamento ajudou Estado a se tornar o mais preservado do Brasil, mas impediu o crescimento

Alcinéa Cavalcante, Macapá

O Amapá é o Estado mais preservado do Brasil, mas também é um dos menos desenvolvidos. Rico em recursos naturais, a falta de energia elétrica é o gargalo que impede seu desenvolvimento. "A falta de energia elétrica é um problema que provoca a estagnação econômica e social do Amapá", disse o deputado estadual Camilo Capiberibe em audiência pública da Comissão da Amazônia da Câmara dos Deputados, mês passado.

Com ele concorda o secretário especial de governadoria do Amapá, Alberto Góes. "A energia é um insumo basilar para o processo industrial. Não temos condições de exigir que empresas que venham se instalar aqui atuem na verticalização, ou seja, na agregação de valor."

Além da falta de energia, outros fatores entravam o desenvolvimento do Amapá. Entre estes, Góes cita o isolamento geográfico. O Amapá é um ilha, onde só se chega e se sai por via aérea e marítima. "Esse isolamento, ao mesmo tempo que foi muito importante para proteger o Amapá das frentes de ocupação, também nos isolou das rotas de investimento em infraestrutura de suporte à atividade econômica", avalia Góes.

Tanto na avaliação de Alberto Góes como do deputado Camilo Capiberibe a redenção do Amapá só virá quando o Estado estiver ligado ao sistema nacional de energia. O que pode começar a ocorrer em 2011, quando está prevista a conclusão das obras do Linhão de Tucuruí.

A gerência regional da Eletronorte assegura que não falta energia no Amapá. Mas nesse período de seca a geração na hidrelétrica Coaracy Nunes cai de 78 megawatts (MW) para 25 MW. As térmicas geram 116 MW, ou seja, somando as duas são 141 MW para uma demanda de 176 MW. No início deste mês, o Amapá passou por uma semana de racionamento porque houve problema nas balsas que transportam diesel para as térmicas. A solução foi comprar energia de um produtor independente, a SoEnergy, que gera 45 MW. Com a chegada do diesel e mais a geração da SoEnergy, há sobra de 10 MW. Isso, segundo a Eletronorte, é suficiente para as indústrias que queiram se instalar no Amapá.

O engenheiro florestal e ambientalista Alcione Cavalcante, ex-secretário da Agricultura do Estado, diz que o problema de energia não é o maior gargalo, pois muitas atividades econômicas podem ser desenvolvidas sem alto consumo de energia. Na avaliação dele, o que falta é investir em educação, saneamento, pesquisa científica e tecnológica e infraestrutura de apoio nas unidades de conservação e respectivos entornos

Segundo Cavalcante, o Amapá não tem espaço que garanta a escala para o modelo de desenvolvimento regional, baseado na expansão da fronteira agrícola para o plantio de grãos e pecuária, experimentado pela Amazônia nas últimas décadas. "Exceção, e em escala modesta, é o caso do cerrado amapaense, onde a fruticultura e silvicultura poderiam ser viabilizadas."

Alberto Góes concorda que uma das alternativas para desenvolvimento do Amapá é o aproveitamento dos recursos naturais. Rico em pescado, o Estado não tem indústrias de transformação. Empresas do Maranhão, Pará e Ceará pescam na costa do Amapá, mas não se instalam no Estado porque faltam energia, tecnologia e mão de obra qualificada.

Como o Amapá tem grande potencial hídrico, quando estiver interligado ao sistema nacional de energia poderá atrair investidores no setor. O governo, segundo Góes, já analisa propostas de investidores que querem construir pequenas e médias hidrelétricas quando o linhão chegar. É que o Estado passará da condição de comprador para vendedor de energia.

OESP, 03/12/2009, Especial, p. H6

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