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É uma resposta burra para o desafio energético

OESP, Economia, p. B3
02 de Fev de 2010

É uma resposta burra para o desafio energético
Para Marcelo Furtado, do Greenpeace, problema não é só ambiental, e sim de visão de desenvolvimento

Alexandre Gonçalves

"É uma resposta burra para o desafio de fazer crescer a matriz energética do País". Esta é a opinião do diretor executivo do Greenpeace no Brasil, Marcelo Furtado, sobre a construção da Usina de Belo Monte, cuja licença prévia foi autorizada ontem pelo Ibama. "Produziremos energia na Amazônia para depois levar por milhares de quilômetros ao Sul e ao Sudeste com uma ineficiência enorme."
Para ele, o problema não é só ambiental, mas também de visão de desenvolvimento. Furtado recorda um estudo divulgado pela entidade em 2007 sobre o futuro da produção de energia no País até 2050.
Em um dos cenários,foram descartadas as grandes hidrelétricas e usinas nucleares propostas pelo governo. Utilizou-se preferencialmente energia eólica, pequenas hidrelétricas e biomassa. "Neste cenário, apenas 12%da matriz energética precisou ser completada com gás."
Ele acredita que valeria a pena direcionar investimentos para centrais eólicas no Nordeste.
"Geraríamos energia perto dos locais onde poderia ser consumida e atrairíamos investimentos para a região", argumenta.
Ele também afirma que a construção de usinas envolve "cimento e aço", mas não agrega novas tecnologias. "Vamos na contra mão do esforço para conquistar tecnologias limpas realizado pela maioria dos países desenvolvidos", diz Furtado.
A cifra de R$ 1,5 bilhão que terá de ser desembolsada para reduzir os impactos ambientais e sociais na região não foi suficiente para convencer o Instituto Socioambiental (ISA), um dos maiores críticos da usina. Segundo a organização não-governamental (ONG), o processo está sendo atropelado desde o início dos estudos de viabilidade do empreendimento. Isso sem contar a falta de transparência.
Até agora, afirma a ONG, o governo não apresentou previsão de impactos ambiental e social. Só assim é possível apresentar programas para mitigar os riscos. "Existe um problema sistêmico no processo de licenciamento que não está funcionando direito", diz o ISA.
Para a diretora do Programa Amazônia da Conservação Internacional, Patrícia Baião, "os danos ambientais e socioculturais serão enormes". "E há dúvidas sobre a necessidade de produzir tanta energia naquele lugar." A ONG tem um projeto com os índios caiapós na região. Segundo Patrícia, a entidade participou das audiências públicas sobre Belo Monte. "Desejaríamos estudos mais aprofundados sobre o impacto da hidrelétrica na fauna,especialmente nos peixes."
Colaborou R.P.

OESP, 02/02/2010, Economia, p. B3

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