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Duvidas quanto ao consorcio

CB, Brasil, p.12
02 de Abr de 2005

Promotor de Justiça que apura assassinato da missionária diz que não há elementos que confirmem tese de que Bida agiu em grupo. Mas CPI acredita nessa hipótese
Dúvidas quanto ao consórcio
O promotor de Justiça do Pará, Lauro Freitas, afirmou ontem que ainda não existem elementos que comprovem a formação de um suposto consórcio de mandantes para financiar o assassinato da missionária Dorothy Stang. O Bida (o fazendeiro VitalmiroBastos de Moura) cita algumas pessoas que estariam envolvidas nesse consórcio (Laudelino Délio Fernandes Neto e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão), mas a única relação que ele estabelece com essas pessoas em seu depoimento é uma relação comercial”, afirmou. O promotor aguarda a conclusão do inquérito que apura a suposta formação de consórcio, que deverá ser concluído ainda este mês.
A possível existência de um grupo de empresários que teriam encomendado o assassinato da missionária voltou à tona após o primeiro depoimento de Bida. Ele foi acusado pelos executores da freira de ter sido o mandante do crime. Em depoimento à Polícia Federal, o fazendeiro disse que outras pessoas estariam envolvidas no assassinato.
Um bilhete ditado por Bida, que é semi-analfabeto, ao irmão citou a suposta participação do fazendeiro Luiz Ungaratt no crime. Ele também está sendo investigado pela Polícia Federal. A CPI da Terra, criada pela Câmara e Senado, realizou ontem, em Altamira, as audiências públicas com o objetivo de fazer um diagnóstico sobre a estrutura fundiária e os conflitos pela posse da terra na região. Apesar das declarações do promotor Lauro Freitas, os parlamentares ainda suspeitam da existência de uma espécie de consórcio para financiar a morte da missionária. A CPI pediu a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos depoentes, mas ainda não obteve resposta.

Impunidade no Pará
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura crimes no campo, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), afirmou ontem que a CPI não tem condições de esclarecer a denúncia. Nós não temos muitos instrumentos para aprofundar as investigações. Nesse terreno criminal, cabe mais à polícia a investigação completa e mais aprofundada, que pode elucidar todas as duvidasse suposições existentes. O que podemos concluir é que há muita impunidade na região”, afirmou o senador.
Ele acredita que a polícia terá dificuldade e muito trabalhopara concluir as investigaçõessobre a morte da irmã Dorothy. Não há diferenças nos depoimentos. Todos se referem, basicamente, ao desconhecimento dos fatos. Alegam inocência absoluta e dizem que são vítimas de injúria. Não há, nesse tipo de depoimento, qualquer avanço em relação à responsabilização do crime. Por isso, creio que a polícia terá muito trabalho para concluir os procedimentos”, disse o presidente da CPI.
Os depoimentos colhidos até o momento pouco acrescentam ao esclarecimento do crime. "Nós já ouvimos diversos depoentes, alguns suspeitos de participação em crimes,e já com passagem pela polícia, mas ouvimos sempre a negativa”, disse Álvaro Dias.Ele comentou que ninguém assume responsabilidades. Não há confissão e isso acrescenta pouco. É uma música só, são todos inocentes, vítimas de calúnia e difamação”, disse o parlamentar. Dias atribui a violência no campo, que tem se tornado freqüente no estado do Pará, à falta de autoridades civis e militares capazes de combater o crime na região. Precisamos restabelecer autoridades em todo o interior do Pará, especialmente na região oeste, para que esse processo de violência e impunidade seja contido”, afirmou. Segundo o senador, depois que o relator da CPI, deputado João Alfredo (PT-CE), concluir o relatório final da comissão, o Ministério Público poderá aprofundar as investigações e responsabilizar civil e criminalmente as pessoas identificadas como responsáveis pelos crimes.

CB, 02/04/2005, p. 12

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