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Direito ao diploma

Globo Rural
15 de Abr de 2008

Lideranças indígenas de Rondônia buscam junto ao Ministério da Educação o reconhecimento das escolas instaladas nas aldeias. Atualmente os cursos não dão direito a diploma.

A aula é em tupi mandé. É a língua falada pela etnia Gavião. Os alunos ainda não falam português. Na tradição indígena, os curumins aprendem primeiro a língua materna. Até o ano passado as aulas eram em uma maloca. Hoje a escola tem paredes de alvenaria e lousa. As turmas são multiseriadas, ou seja, ao mesmo tempo o professor dá aula para todas as fases, de primeira a quarta série.

"Primeiramente, eu tinha muita dificuldade. Agora, já tenho segurança de trabalhar com os alunos multiseriados. Acho que planejamento ajuda nessa dificuldade", disse o professor Iran Gavião.

Ele é um dos 19 professores que atuam dentro da terra indígena Igarapé Lourdes em Ji- Paraná, que reúne as tribos Gavião e Arara, na divisa de Rondônia com Mato Grosso. Só na aldeia Icolen estudam 80 crianças.

Apesar do esforço de ir para as aulas e cumprir os 200 dias letivos, exigidos pela legislação, os alunos enfrentam um grande problema em Rondônia. No final do ano, eles não recebem o diploma porque as escolas indígenas do Estado não conseguem receber o reconhecimento do MEC.

Ao todo são 70 escolas indígenas na mesma situação. O Conselho Estadual de Educação ainda não recebeu nenhum processo para encaminhar ao MEC. Os documentos não saíram da Secretaria de Educação do Estado.

Os índios não conseguem entender por que vários pedidos de reconhecimento foram recusados.

"Essa é uma luta que já vem se estendendo por quase dez anos. A gente não tem resposta satisfatória no momento", contou o líder indígena Zacarias Gavião.

Em uma reunião, as lideranças vão discutir mais uma vez o regimento interno, que define todo o funcionamento da escola. Para os índios, a educação nas aldeias deve ser diferenciada da do branco.

O calendário escolar precisa se adaptar às colheitas, às festas e aos períodos destinados a produção de artesanato, à caça e à pesca. Os pais não abrem mão de levar os filhos para o que eles consideram também parte da aprendizagem: a experiência.

Segundo a Secretaria de Educação de Rondônia, o calendário diferenciado é a principal dificuldade para agilizar o processo de reconhecimento das escolas. Com a aprovação dos regimentos internos, os índios estão ajustando o período de ensino ao ano letivo tradicional. Só depois que for concluída essa fase é que os pedidos de reconhecimento serão enviados ao Ministério da Educação.

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