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Cariri terá primeira escola indígena para atender crianças e adultos

Opinião - opiniaoce.com.br
Autor: Antonio Rodrigues
15 de Jan de 2024

A expectativa é que, a partir da capacitação dos professores, em parceria com a UFCA, a escola atenda a estudantes do 1o ao 5o ano do EJA. Em torno de 18 crianças devem ser atendidas e mais de 40 adultos

A primeira escola indígena da região do Cariri está sendo instalada no município de Brejo Santo. A criação da unidade atende a uma demanda do povo Isú-Kariri, que abrange o Sul do Ceará e o extremo de Pernambuco. Com ela, a população indígena terá acesso a uma educação escolar diferenciada, que abrange os aspectos intercultural, multilíngue e comunitário daquele povo, direito assegurado pela Constituição Federal.

A expectativa é que, a partir da capacitação dos professores, em parceria com a Universidade Federal do Cariri (UFCA), este primeiro ano atenda a estudantes do 1o ao 5o ano do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em torno de 18 crianças devem ser atendidas e mais de 40 adultos. A Escola Indígena Isú-Kariri deve garantir o ensino bilíngue: o português e o dzubukuá-kipea, língua ancestral do povo.

Mobilização

Liderança Isú-Kariri, a professora Simone Mariano explica que a luta indígena do seu território se intensificou nos últimos quatro anos, com articulação junto ao movimento indígena estadual e nacional e a participação em encontros. Acontece que seu povo passou por um grande processo de dispersão, sendo o mais recente a partir da construção do Açude Atalho, inaugurado sobre o leito do Riacho dos Porcos e inaugurado em 1991.

"O nosso antigo aldeamento era no (sítio) Sossego, mas com a obra do açude, tivemos que sair de lá, inundando tudo e cobrindo as casas", lembra Simone. O povo Isú-Kariri se espalhou por várias comunidades de Brejo Santos e municípios vizinhos como Jati, Mauriti e pelo estado vizinho de Pernambuco.

O autorreconhecimento enquanto povo indígena sempre existiu entre a comunidade e seus costumes, como o toré, a prática de cura, a língua, a fabricação de utensílios do barro e a subsistência através da caça, da pesca e agricultura. "Era uma vida boa no Sossego. No que se dispersou, houve a família ir para um canto e outro e ficou afastado. Aí causou danos. Afeta a questão da união, as práticas da cultura", reforça a professora.

Hoje, uma parte do seu povo ocupa o sítio Queimadas, em Brejo Santo, concentrando 15 famílias. É lá que será instalado a escola indígena, um desejo antigo que vai auxiliar a fortalecê-los. "Foi um sonho. Uma conquista. Estamos na expectativa porque não foi fácil", admite Simone. O prédio já existe e funciona uma creche do Município. Com ele, ainda serão acolhidos estudantes dos sítios Baixio e Queimadas, onde há remanescentes Isú-Kariri.

Participação da universidade

A conquista só foi possível a partir da importante parceria da UFCA, que desde 2017 integra a mobilização do povo. A aproximação começou com a chegada do professor Willian Kurruíra Kaipira, também indígena do povo Xukuru, de Pernambuco. Naquele ano, foi organizado o Encontro de Saberes Indígenas do Semiárido, em Cabrobó, no estado vizinho, que integrou o povo Isú-Kariri. "A gente vem no território e começa estreitar esses laços com os parentes e começa-se a compreender que as pessoas aqui têm direitos específicos, próprios, que foram historicamente negados", observa o docente.

A Escola Indígena Isú-Kariri será possível a partir da instalação de uma licenciatura intercultural indígena pela UFCA, que vai proporcionar a formação aos professores do território. A previsão é que o curso tenha início a partir de julho. Outro papel importante da universidade vem através da participação no edital Saberes Indígenas na Escola do Ministério da Educação, que financiará a formação e o material específico. "Já temos produzido alguma coisa de material didático, como o ensino da língua", antecipa William.

Funcionamento

O corpo docente da escola será formado, a princípio, a partir do remanejamento de Simone, que é professora da rede municipal de Brejo Santo, e um processo de contratação via bolsas para o ensino da língua. No segundo ano, a expectativa é que a Prefeitura lance edital para a contratação de novos docentes, incluindo vaga para professor indígena. "Isso não anula uma luta antiga que a federalização desse serviço. A saúde indígena é federalizada. A gestão também. Somente a educação não é", reforça William.

O professor Joedson Kariri, representante da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince) na região, acredita que a criação da escola serve de fortalecimento não só do povo Isú-Kariri, mas de todo o movimento indígena. "Mostrar que é capaz de acessar os direitos fundamentais e a educação diferenciada é um deles. A gente não atua sozinho. É sempre a luta de todos os povos. É uma vitória deles, mas enxergamos que é de todo o movimento. Um povo fortalecendo o outro", finaliza.

Conforme a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), há atualmente 38 escolas indígenas na rede estadual e quatro nas redes municipais de ensino de Maracanaú e Caucaia, além de uma creche localizada em Itapipoca, distribuídas em 16 municípios.

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