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Dilma aceita acordo que anistia desmate de pequeno produtor

FSP, Poder, p. A12
14 de Abr de 2012

Dilma aceita acordo que anistia desmate de pequeno produtor
Proposta deve eliminar impasse entre governo e ruralistas que impede a votação do novo Código Florestal na Câmara
Na prática, o acordo consolida desmates em APPs em ao menos 92% das propriedades rurais brasileiras

VALDO CRUZ
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff deu o sinal verde para um acordo sobre a reforma do Código Florestal que flexibiliza ainda mais a recomposição de áreas desmatadas ilegalmente, anistiando pequenos e médios produtores rurais.
Segundo a Folha apurou, Dilma só aceita mudanças para beneficiar os pequenos agricultores, mas não quer alterações nas regras para os grandes produtores.
O acordo prevê que a Câmara elimine do texto em tramitação o artigo que estabelece as faixas mínimas de recomposição das APPs (áreas de preservação permanente) em margem de rio.
Simultaneamente, o Executivo editaria uma medida provisória ou enviaria ao Congresso um texto de lei dispensando pequenas e médias propriedades -com área equivalente a até 15 módulos fiscais, cujo tamanho é variável - de repor floresta.
Para as grandes propriedades continuariam valendo os percentuais de reposição previstos no texto da lei aprovado pelo Senado: faixas de 15 m a 100 m de floresta em cada margem, dependendo da largura do rio.
Na prática, o acordo consolida desmatamentos em APPs em ao menos 92% das propriedades rurais. Em extensão territorial, elas representam 30% das terras agricultáveis do país, segundo o Ministério da Agricultura.
A eventual recomposição nas pequenas e médias propriedades, ainda a ser definida, será feita pelos chamados PRAs (Planos de Regularização Ambiental), a serem aplicados pelos Estados onde e quando for necessário.
Retoma-se assim o espírito da polêmica emenda 164, aprovada pela Câmara no ano passado. Ela visava anistiar ("consolidar") todo e qualquer desmate em APP feito até 2008, com posterior definição pelo PRA de se e quanto caberia recompor.
IMPASSE
O acordo proposto deve eliminar o impasse criado na Câmara entre a bancada ruralista, que queria a emenda 164 de volta na íntegra, e o Ministério do Meio Ambiente, que não abre mão de manter no segundo turno de votação na Câmara o texto do Código Florestal do Senado, no qual a polêmica emenda foi trocada por um artigo na lei que estabelece percentuais mínimos de recuperação.
Dilma decidiu negociar para bancar o acordo feito pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que acertou com a bancada ruralista que colocaria o código em votação em abril caso fosse aprovada a Lei Geral da Copa. Ela foi convencida de que era preciso atender o pleito dos pequenos agricultores.
A votação do Código Florestal na Câmara está agendada para o dia 24. O presidente da Casa, Marco Maia, espera que o acordo com o governo esteja totalmente fechado na próxima semana.
O relator da matéria, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG), não conseguiu em seu parecer uma formulação que resolvesse a questão das áreas consolidadas em APP -daí a edição de uma MP.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, considera as APPs a "joia da coroa" dos ecossistemas e negociou no Senado para que nenhum proprietário rural fosse dispensado de recuperá-las, mesmo que os pequenos tivessem regras flexíveis.
A Folha apurou que a presidente já avisou Izabella de que terá de ceder. A ministra não comentou a negociação.

FSP, 14/04/2012, Poder, p. A12

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/37031-dilma-aceita-acordo-que-an…

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