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Desrespeito por todos os lados

CB, Cidades, p. 27
02 de Dez de 2006

Desrespeito por todos os lados
Criado há 45 anos para preservar espécies do cerrado, o Parque Nacional de Brasília é ameaçado pela expansão urbana e as constantes agressões, como a proximidade com o lixão da Estrutural

André Bezerra
Da equipe do Correio

A mais importante reserva ecológica do Distrito Federal, o Parque Nacional de Brasília, completa 45 anos de criação diante de sérias ameaças. Além de todos os riscos causados pela proximidade com a área urbana, o parque convive com o problema crescente da expansão das casas e prédios, comércios e indústrias a seu redor.
O lixão da Estrutural, que fica quase dentro da área de preservação, contamina o solo e a água.
Este ano, a área do parque ganhou 12 hectares com aprovação em fevereiro de um projeto de lei no Congresso Nacional. Uma vitória para os ambientalistas que lutam pela preservação de espécies de animais e plantas do cerrado.
O Parque Nacional foi criado em 29 de novembro de 1961, com o Decreto no 241, assinado por Tancredo Neves, na época presidente do Conselho de Ministros do governo João Goulart. Antes disso, a mata era desprotegida e uma parte da área servia como viveiro das plantas usadas na arborização de Brasília pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). A reserva era apenas uma área de cerrado natural por onde passava a rota do ouro, que ia de Pirenópolis até o litoral, no século 17.
Com a criação do parque, uma área de 30 mil hectares passou a ser protegida por lei. O objetivo foi preservar as espécies de cerrado e os mananciais hídricos que nascem na reserva.
As duas bacias hidrográficas do parque - do Bananal e do Torto - abastecem parte da população de Brasília com água potável. Hoje, o Parque Nacional é a área mais importante de preservação ambiental do DF e uma das mais importantes do Brasil.
"O Parque tem uma importância gigantesca. Além da água que quase todos nós bebemos, a diversidade de espécies é muito grande. A reserva tem muito potencial científico e até mesmo para a economia sustentável", avalia o professor Gustavo Souto Maior, diretor do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB). Cerca de 400 mil pessoas recebem em casa a água que nasce no Parque Nacional, retirada da barragem Santa Maria e distribuída pela Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb).
No aniversário deste ano, comemorado ontem, ambientalistas e técnicos ambientais aproveitaram para fazer alertas. "Uma reserva dessa importância não é valorizada e respeitada como deveria ser. Além do crescimento urbano, o parque é ameaçado intensamente pelo lixão da Estrutural", alerta Souto Maior. Segundo o professor, há diversos estudos que comprovam a proximidade do aterro sanitário com a unidade de conservação, contaminando o solo e o lençol freático. Há anos, pesquisadores alertam sobre o perigo do chorume ao meio ambiente. Há risco de contaminação das hortaliças cultivadas nas chácaras vizinhas.
Para o diretor do Parque Nacional, Darlan Alcântara Pádua, um dos maiores problemas é o desrespeito à área do parque.
"Há cada vez mais pessoas interessadas em invadir o parque e que não estão preocupadas com a manutenção das divisas.
Projetos imobiliários e industriais são feitos sem pensar no impacto ambiental para o parque", lamenta.
Mesmo assim, estudantes do ensino fundamental homenagearam ontem as belezas do parque. "Chegamos a esse estágio com muita alegria, apesar dos problemas. Queremos que a população seja atuante na manutenção desse parque", diz Pádua.
A reserva é considerada patrimônio natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A reserva abriga lobos-guarás, tamanduás, tatus e uma infinidade de aves e primatas. A diversidade de flores, árvores e ervas também é grande.

CB, 02/12/2006, Cidades, p. 27

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