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Desmatamento provoca surto de raiva humana no Maranhão

GM, Gazeta do Brasil, p. B12
08 de Nov de 2005

Desmatamento provoca surto de raiva humana no Maranhão
Na região do Gurupi já morreram 24 pessoas, vítimas de ataque de morcegos hematófagos

Frangi Monteles

Um surto de raiva humana, transmitida pela mordida de morcegos hematófagos, está aterrorizando a população da região do Gurupi, no Maranhão. Até o momento, já morreram 24 pessoas, vítimas da doença. O governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, solicitou ao Ministério da Saúde ajuda financeira no valor de R$ 2 milhões para financiar o Plano Emergencial de Combate à Raiva humana e Animal.
O pedido feito há 10 dias ainda aguarda decisão do ministério. Amanhã chegam ao estado 18 técnicos da Secretarias de Saúde de São Paulo, especialistas na captura de morcegos, para ajudar na capacitação de técnicos maranhenses em 11 municípios no litoral.
Enquanto isso, a Superintendência de Epidemiologia e Controle de Doenças, da Secretaria de Saúde, trabalha em conjunto com a Agência Estadual de Defesa Animal (Aged) atuando em três frentes para contornar a situação.
As pessoas agredidas por morcegos estão sendo vacinadas. Mais de mil pessoas já receberam a vacina fornecida pelo Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, técnicos da Aged, e da secretaria também trabalham na captura dos morcegos para aplicação de venenos. São pastas que fazem com que, ao se agruparem em troncos ovados, forros das casas, cavernas ou outro tipo de local escuro, cada um elimine até 20 morcegos hematófagos.
A secretaria orienta a população quanto as formas de transmissão da raiva humana pelos morcegos. Orienta ainda a todos os agredidos a procurarem os postos de saúde para tomar a vacina. Outra orientação é para que busquem meios de evitar a entrada do animal nas casas, como o fechamento de frestas e fendas.
feira. Os primeiros focos da doença surgiram em julho nos municípios de Carutapera, Luís Domingues, Godofredo Viana e Candido Mendes, com sete óbitos. Três meses depois apareceram outros focos, no município de Turiaçu, com 17 mortes registradas até o momento. Alguns destes municípios estão na divisa com o Pará, onde surgiram as primeiras agressões dos morcegos hematófagos, nas cidades de Viseu e Augusto Correia.
O superintendente de epidemiologia do Maranhão aponta, entre as causas das agressões dos morcegos no Estado, o desequilíbrio ecológico. O desmatamento para dar lugar aos pastos é um dos fatores de desequilíbrio, pois oferece maior oferta de alimentos aos morcegos (o rebanho) e, conseqüentemente, maior reprodução.
"É um problema ambiental grave que influencia na quantidade e dispersão dos morcegos, que acaba se tornando questão de saúde", observa Santos, ressaltando que o desmatamento contribui para a maior dispersão dos morcegos. Para Santos, é necessário que seja elaborado um programa nacional de profilaxia da raiva transmitida por morcegos, com ações a serem desenvolvidas em conjunto pelos ministérios da Saúde e da Agricultura.
A promotora de Turiaçu, Samira Mercês dos Santos, instaurou procedimento investigatório para saber se houve omissão dos poderes públicos, estadual e municipal, em relação ao combate aos morcegos e assistências às vítimas.
A formação de pastos gera desequilíbrio ambiental. O gado é fonte de alimento aos morcegos, permitindo maior reprodução
"O surto da doença ocorre em populações pobres que vivem em casebres abertos", informa o superintendente de Epidemiologia e o Controle de Doenças, Henrique Jorge dos Santos. No momento existem 60 técnicos da Secretaria de Saúde do Maranhão, distribuídos nos 11 municípios. Vinte viaturas dão suporte ao trabalho e outras 21 vão ser deslocadas esta semana.
A morte por raiva humana mais recente foi de uma menina de 11 anos, do município de Turiaçu, a 475 quilômetros de São Luís, ocorrida na última sexta.

GM, 08/11/2005, Gazeta do Brasil, p. B12

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