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Desafios ambientais da RMSP

OESP, Espaço Aberto, p. A2
Autor: TUNDISI, José Galizia
03 de Fev de 2009

Desafios ambientais da RMSP

José Galizia Tundisi

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), com quase 8 mil km2 e uma população de aproximadamente 20 milhões de habitantes, é o mais complexo sistema urbano da América do Sul e, certamente, um dos mais complexos do planeta. A gestão ambiental desta região urbana apresenta desafios urgentes neste início de 2009. Melhorar o meio ambiente na RMSP terá repercussões muito relevantes, inclusive do ponto de vista econômico e social. As áreas que necessitam de atenção são abrangentes e inter-relacionados pela complexidade econômica, social e ambiental da região. Gestão de recursos hídricos, saneamento básico e recuperação e proteção dos mananciais são os grandes desafios.

Dos 23 reservatórios de abastecimento da RMSP, alguns se encontram em áreas protegidas; outros, em áreas de grande impacto; e outros, em plena área urbana, como é o caso da Represa de Guarapiranga. O abastecimento público de água realizado pela Sabesp é satisfatório no que se refere à qualidade e quantidade, mas os aumentos dos custos do tratamento químico para torná-la potável, por causa da deterioração das fontes, são enormes. Estes custos tendem a tornar cada vez mais caro esse tratamento químico. Há também um problema de segurança coletiva da população quanto à qualidade da água que demanda redobrada atenção permanente dos especialistas, dada a diversificada contaminação orgânica e inorgânica.

A importância de áreas verdes e a sua proteção em regiões metropolitanas foi objeto de editorial da revista Science. Nesse editorial - Green cities (Cidades verdes) - chamou-se a atenção para a prioridade de proteção das áreas florestadas e da recuperação das florestas nativas em áreas urbanas. A RMSP tem uma reserva da biosfera de considerável porte e relativamente protegida, a qual tem papel fundamental na manutenção da qualidade do ar e da água. Este "filtro" produzido pelas áreas verdes na região tem consequências importantes na qualidade de vida da população. Áreas verdes em regiões metropolitanas proporcionam também lazer e recreação para inúmeros habitantes.

A valoração dos serviços ambientais promovidos pelas áreas verdes, pelas várzeas e pelos reservatórios de abastecimento público é outra meta. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo está promovendo projetos e propostas para melhorar e aprofundar esta avaliação e, com isso, impulsionar políticas públicas que visam a proteger serviços ambientais e, ao mesmo tempo, proporcionar uma base para remuneração desses serviços.

Outra meta é a recuperação de rios urbanos. Há um programa de recuperação de 300 rios urbanos e a implementação de parques lineares nesses rios. Isso ampliará a capacidade de recreação, diminuirá o potencial de enchentes, aumentará áreas verdes e, sobretudo, auxiliará na redução da poluição e contaminação de águas superficiais e subterrâneas da RMSP. A recuperação de córregos urbanos é atualmente uma prioridade mundial, apoiada por órgãos internacionais como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Unesco.

Neste programa está incluída a recuperação do Rio Tietê e do Rio Pinheiros e da qualidade de suas águas. A maior cidade do Brasil, e do continente, deve investir na recuperação destes rios por seu valor histórico e por sua importância social e ambiental em beneficio da saúde pública e da segurança coletiva da população. Já há investimentos consideráveis, mas é necessário um processo mobilizador, amplo, para dar à população de São Paulo maior oportunidade de qualidade de vida.

A integração de esforços do governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo no enfrentamento destes problemas é uma medida à altura da sua magnitude. A mobilização de especialistas, técnicos e engenheiros para aprofundar as alternativas tem tido efeitos positivos na gestão ambiental integrada.

O tratamento de esgotos dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo, a participação da comunidade nos comitês da bacia hidrográfica, os programas de uso de água e a diminuição das perdas, todos projetos em andamento, são outros desafios que demandam continuidade de ações, com alternativas técnicas.

A RMSP, pela sua importância no Brasil, e na América Latina, pode-se tornar um exemplo muito significativo de gestão ambiental inovadora e voltada para os interesses de população. Meio ambiente, saúde, educação e transporte são prioridades para o futuro da RMSP e a procura de soluções e alternativas técnicas adequadas à complexidade e magnitude dos problemas deve proporcionar novas visões na administração de regiões metropolitanas.

Outro problema potencial - que, segundo toda a informação científica existente, ocorrerá - é o impacto das mudanças climáticas. Extremos hidrológicos, com abundantes chuvas em poucas horas, aquecimento global, que poderá afetar reservas estratégicas de água e alterar a biodiversidade urbana, e aumento do potencial para doenças derivadas da contaminação do ar e da água são problemas futuros que devem ter a sua solução planejada com alternativas desde agora.

O enfrentamento dos problemas ambientais da RMSP da forma como está sendo proposto e executado vai no caminho certo. Mas é necessário ampliar as ações, acelerar a execução e estimular a participação e educação da comunidade no processo para torná-lo sustentável.

José Galizia Tundisi, presidente honorário e pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (São Carlos), coordenador de projeto mundial para formação de gerentes de recursos hídricos apoiado pelo InterAcademy Panel (IAP), é professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP-São Carlos e membro titular da Academia Brasileira de Ciências

OESP, 03/02/2009, Espaço Aberto, p. A2

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