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Depois do Cantareira, estiagem agora ameaça volume do Sistema Alto Tietê

OESP, Metrópole, p. A17
15 de Jun de 2014

Depois do Cantareira, estiagem agora ameaça volume do Sistema Alto Tietê
Segundo maior reservatório, que abastece 4 milhões na capital e Grande São Paulo, está com pior nível pré-inverno em dez anos - 29% da capacidade; no mesmo ritmo de queda do Cantareira, sistema já perdeu 15,4 pontos porcentuais desde fevereiro

Fabio Leite - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Considerada a solução emergencial mais eficiente para suprir a crise do Sistema Cantareira, a transferência de água de outros mananciais para socorrer bairros da capital está delineando um novo cenário crítico no segundo maior sistema da Grande São Paulo. Com seu pior nível pré-inverno em dez anos, o Alto Tietê - que abastece 4 milhões de habitantes - registra queda diária com a mesma velocidade do Cantareira e corre o risco de secar ainda neste ano, segundo estimativa de especialista na bacia hidrográfica.
Desde fevereiro, quando a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) passou a remanejar água dos Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para cerca de 1,6 milhão de pessoas que eram atendidas pelo Cantareira, o Alto Tietê perdeu 15,4 pontos porcentuais, chegando a 29% da capacidade na sexta-feira. No período, o Cantareira caiu 16,2 pontos e estava com 23,3% de armazenamento nesta sexta por causa do uso do "volume morto". Apenas o Guarapiranga subiu, graças às chuvas de março.
Os dados da Sabesp mostram que não foram só os reservatórios do Cantareira que sofreram com a falta de chuva no verão. Nas cinco represas do Alto Tietê, distribuídas entre Suzano e Salesópolis, região leste da Grande São Paulo, o índice pluviométrico também ficou mais de 30% abaixo da média histórica entre fevereiro e maio. Enquanto reduziu a retirada de água do Cantareira em quase 10 mil litros por segundo, porém, a Sabesp manteve a produção de 15 mil litros do Alto Tietê e pretende avançar mais com a produção do sistema na capital.
"Estamos perdendo por dia 12 mil litros por segundo. Se continuar assim, o volume do Alto Tietê acaba em 150 dias e, pelo que sei, aqui não temos volume morto significativo para explorar. Estamos indo para o brejo do mesmo jeito e ninguém fala nada", afirma o engenheiro José Roberto Kachel dos Santos, membro do Comitê da Bacia do Alto Tietê. Temendo o agravamento da situação, o grupo decidiu criar uma Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico semelhante ao grupo anticrise que acompanha a estiagem do Cantareira.
Para quem sobrevive das represas do Alto Tietê, a seca já traz prejuízos. "Estou há 14 anos aqui e é a segunda vez que vejo uma seca dessas. Os peixes já estão sumindo. Bagre, por exemplo, você já não encontra mais. E os clientes também, porque a represa baixou demais", disse o pescador Moacir Natalício de Brito, de 59 anos, dono de um bar às margens da Represa Jundiaí, em Mogi das Cruzes, lembrando da seca na região entre 2003 e 2004.
Rodízio? Segundo a Sabesp, a transferência de água de outros sistemas foi responsável por 47% da redução de produção de água do Cantareira, que caiu de 31,7 mil litros por segundo para 22,9 mil. Outros 25% foram obtidos com a diminuição da pressão na rede, que tem provocado falta d'água em bairros altos e periféricos, e 28% com a economia no consumo pela população. Com essas medidas, afirma a companhia, "evitou-se rodízio de 36 horas com água e 72 horas sem água".
Mas três dias antes de tornar pública a crise do Cantareira, no dia 27 de janeiro, a Sabesp afirmou, em uma nota técnica na qual defendia a manutenção das regras da outorga do manancial, que uma atualização recente dos estudos feitos para implementar um rodízio de 48 horas com água e 24 horas sem durante a crise de 2004 do Cantareira aponta que, com vazão em 28 mil litros por segundo, "haveria a implementação de um rodízio administrável para 9 milhões de habitantes". Abaixo dessa vazão, continua, "teríamos consequências imprevisíveis para o atendimento dos 20 milhões de habitantes da região".
Isso significa que antes da atual crise a Sabesp admitia que uma redução do volume do Cantareira levaria a um "rodízio administrável", que foi descartado pela companhia e pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) no mês seguinte. Para o coordenador do Programa Água para a Vida da organização ambientalista WWF-Brasil, Glauco Kimura, a nota da companhia mostra uma contradição entre o "discurso técnico e a decisão política" adotada na crise.
"Decisões técnicas dificilmente são respeitadas, ainda mais em momentos de crise. Não sei se é por causa do ano eleitoral que o governo não quis adotar uma medida sensível. O fato é que ainda estão apostando nas chuvas, o que é muito incerto e arriscado", disse.

Governo paulista diz ter água suficiente no Sistema Alto Tietê

Fabio Leite - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos informou, em nota, que as projeções da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) indicam que o Sistema Alto Tietê "tem água suficiente para garantir o abastecimento até a próxima estação chuvosa". Segundo a pasta, essa garantia se deve aos "investimentos feitos pela empresa e à ampla adesão à campanha de uso racional da água, em que 91% da população da Região Metropolitana de São Paulo reduziu seu consumo".
Questionada sobre a queda no volume do Alto Tietê, a secretaria diz, no texto, que "lamenta que, depois de reiteradas e infrutíferas tentativas de provar que a água do Cantareira vai acabar, o Estado agora encampe a tese de que outro sistema, o Alto Tietê, vai "secar" e "entrar em colapso'".
Segundo a pasta, a Sabesp, em conjunto com os órgãos reguladores - Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) -, "acompanha o desempenho desse sistema para definir o melhor aproveitamento conjugado com o Cantareira". "Não é razoável, como tem feito sistematicamente a reportagem do Estado, traçar sempre o cenário mais desfavorável", responde a secretaria.
Em março, o Estado antecipou que o comitê anticrise do Cantareira previu que o volume útil do sistema pode acabar em julho. Em maio, a Sabesp iniciou a retirada do "volume morto" porque a água represada acima do nível das comportas acabou em duas represas. No mês passado, a reportagem mostrou que a própria Sabesp admite que a primeira parte da reserva pode acabar em outubro.
Sobre a nota técnica da própria Sabesp que previa "rodízio administrável", com a vazão de 28 mil litros por segundo, a secretaria diz que "a reportagem do Estado tenta criar um racionamento de água que não existe". Segundo a pasta, o governo paulista "conseguiu manter o abastecimento de água com base em medidas de incentivo e gestão".
A pasta diz que o documento mostra que "a Sabesp se insurgiu contra proposta dos órgãos reguladores que pretendiam aumentar a disponibilidade de água artificialmente, elevando o risco do sistema que abastece 20 milhões de pessoas"

OESP, 15/06/2014, Metrópole, p. A17

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