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Denúncia de Ecochato é para essas coisas

OESP, Vida, p. A18
Autor: CORRÊA, Marcos Sá
19 de Nov de 2008

Denúncia de Ecochato é para essas coisas

Marcos Sá Corrêa*

Coisas simples como NVIDIA 2.53 GHz e Serial ATA, que apesar de ininteligíveis sempre nos convenceram de que estamos diante de um computador de última geração, não bastam para explicar as vantagens do MacBook Pro, novo notebook da Apple. Ele vem com um relatório ambiental, duro de ler como qualquer manual técnico, mas igualmente incontroverso.

Gráficos mostram quanto CO2 o notebook despejará na atmosfera: 560 quilos, mais ou menos a metade do que cada ser humano emite ao longo de sua passagem pelo planeta. Mas isso o relatório não diz, talvez para não melindrar os fregueses. Basta acreditar que é bem menos do que exalava na geração passada. E o MacBook Pro, por mais sucesso que faça, não inundará o mercado com números tão avassaladores quanto os da população mundial, que já passa dos 6,7 bilhões.

Ele nasce com tudo previsto. Declara que emitiu 51% de sua cota de CO2 antes de sair da fábrica. Gastará outros 38% nas mãos do proprietário. E 1% quando chegar à reciclagem. Até lá, seu consumo de eletricidade será contido por 87,9% de eficiência energética. Seu corpo, com 730 gramas de alumínio e 122 de vidro, "materiais desejados por recicladores", tende a deixar pouco resíduo para trás. Sua embalagem tem pouco plástico e muito papel - mais uma aposta na reciclagem.

Seus monitores livraram-se de arsênico e de mercúrio. Aposentou-se a substância química que usava para retardar a propagação do fogo em suas carcaças. Tudo isso, dois anos depois que o Greenpeace reprovou a política ambiental da Apple, botando-a em último lugar entres os fabricantes mundiais de computadores portáteis com base em testes que mediram os teores de poluentes escondidos "sob o desenho elegante" dessas engenhocas aparentemente inofensivas.

Apanhada pelo Greenpeace no momento em que preparava o lançamento do primeiro iPhone, a Apple engoliu a seco o humor azedo. Publicado como caricatura, o resultado da pesquisa saiu na ocasião como se fosse um anúncio do "iLixo".

A Apple acusou o golpe. Seu presidente, Steve Jobs, prometeu limpar as telas de cristal líquido dos MacBooks, e aproveitou para reformulá-lo de alto a baixo. Reagiu depressa para não deixar a marca inovadora à sombra do atraso ambiental. E, ao piscar primeiro, deixou claro que os ambientalistas estão aprendendo como o mercado funciona. E vice-versa.

* É jornalista e editor do site O Eco (www.oeco.com.br)

OESP, 19/11/2008, Vida, p. A18

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