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A defesa do meio ambiente

JT, Artigos, p. A2
Autor: GARNERO, Antonio Prestes
24 de Abr de 2004

A defesa do meio ambiente

Antonio Prestes Garnero

Um amigo recente, jornalista, repórter de longo curso, costuma contar histórias de suas andanças pelo Brasil. Nos anos 70 e 80, segundo ele, percorreu o País de Norte a Sul a serviço de dois grandes jornais. Um dos temas mais freqüentes em seus relatos é a preocupação com a defesa no meio ambiente. De uma de nossas conversas, guardei essas palavras: "Tantos anos o País se descuidou do meio ambiente que, agora, se quiser salvar alguma coisa vai ter de tratar do ambiente inteiro."
A advertência, com o seu tanto de humor e ironia, está em uma página - um fragmento de página, na verdade -, do livro Que País é Este?, de Millôr Fernandes. Um discurso pioneiro sobre o meio ambiente. Depois, bem depois, é que chegaria às livrarias Fim do Futuro?, do agrônomo gaúcho José A.
Lutzenberger. A estante da ecologia, na opinião de meu amigo, começou exatamente aí. Com Lutzenberger. Hoje está repleta. Na robusta biblioteca destacam-se, entre outros títulos, um que recomendo: Água, do jornalista canadense Marq de Villiers. Nele, o autor faz da água a sua maior preocupação. Seu trabalho é o resultado de mais de 30 anos "coletando amostras de água" em todas as partes do mundo. O livro reúne uma seqüência de perguntas inquietantes, como estas: será que uma guerra pela água perturbará o Planeta ainda neste século? Por que estão aumentando tanto os desertos?
A água, aliás, é no momento uma das grandes preocupações de algumas cidades brasileiras. E não apenas das chamadas megalópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas também de cidades de menor estatura, entre elas Recife, Fortaleza e Curitiba. Um dos casos mais graves é o do Recife. A cidade vive hoje um regime de racionamento permanente. São dois dias com água e um de torneiras vazias. A Companhia de Saneamento de Pernambuco (Copesa) fornece apenas 64% da água consumida. Os outros 21% são obtidos em poços artesianos.
Ainda assim, a conta não fecha. Diante desse quadro, são mais do que louváveis iniciativas como a do governo do Estado de São Paulo, por exemplo, que investe agora na poupança do chamado precioso líquido, oferecendo descontos de taxas a quem gastar menos. A ordem é: chega de desperdício!
Chega, mesmo. Apesar do risco de falta de água no Planeta, o Brasil desperdiça nada menos que 40% da água tratada, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada recentemente.
Bom, mas começamos este texto falando de livros. Voltemos a eles. Um que também recomendo é Educação Ambiental, de Genebaldo Freire Dias. Um livro que, pela riqueza de informações, merece consultas freqüentes. Mas além da edição de livros, a grande mídia - jornais, revistas, tevês e rádios - também passou a dedicar espaço maior às denúncias de agressões ao meio ambiente. O debate cresceu. Hoje sabemos, entre outras coisas, que a poluição urbana afeta muitas cidades de nosso país. Cidades grandes e também de porte médio. O retrato mais preocupante, no entanto, é o de São Paulo. É considerada a quinta mais poluída do mundo, num ranking que engloba 20 das maiores metrópoles, elaborado pelo Centro de Informações e Pesquisa Atmosférica da Inglaterra. Na América Latina, é a terceira em má qualidade do ar. Atualmente, de 10 a 14 pessoas morrem, diariamente, em São Paulo por causa da poluição, segundo pesquisas do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP. As principais vítimas são idosos e crianças.
Não é para menos. Só no ano de 2000, a atmosfera da cidade recebeu uma carga aproximada de 2,5 milhões de toneladas de poluentes, de acordo com relatório da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Cerca de 70% desses poluentes são lançados por uma única fonte: os veículos. De todo o monóxido de carbono emitido, mais de 90% saem do escapamento de automóveis.
Como na cidade circulam acima de 5 milhões de veículos, o resultado é desastroso para a saúde da população. São Paulo precisa, e com urgência, de uma inspeção veicular.
Esse é um tema ao qual pretendo voltar.
Antonio Prestes Garnero é membro do Conselho de Jovens da Associação das Nações Unidas-Brasil (Anubra)

JT, 24/04/2004, Artigos, p. A2

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