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Declínio da era das árvores

O Globo, Ciência, p. 46
03 de Jun de 2007

Declínio da era das árvores
Savana poderá substituir até 18% da Amazônia

Ana Lucia Azevedo

O século XXI pode assistir a um declínio sem precedentes da maior floresta da Terra. A Amazônia corre o risco de perder até 18% de suas matas nas próximas décadas. No lugar de árvores majestosas, com copas que se erguem acima dos 30 metros, vegetação rasteira, típica do Cerrado. O culpado é o maior vilão ambiental dos últimos tempos, o aquecimento global. A savanização da Amazônia é uma das mais preocupantes previsões de conseqüências das mudanças climáticas.

Prevista por numerosos estudos, ela está numa das mais contundentes análises sobre o assunto, recém-publicada numa revista científica renomada, a "Geophysical Research Letters". A análise foi realizada por pesquisadores do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe) e do Instituto de Aeronáutica e Espaço.

- Na Amazônia, mais calor pode trazer seca. Há áreas muito vulneráveis hoje. Toda a Amazônia Oriental, de Tocantins à Guiana, seria afetada no pior cenário. Está nessa área o Arco do Desmatamento - diz o climatologista do CPTEC Carlos Nobre, um dos autores do estudo e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Nobre e seus colegas Luis Fernando Salazar, do CPTEC, e Marcos Oyama, do Instituto de Aeronáutica e Espaço, estudaram as conseqüências das mudanças climáticas na distribuição dos principais biomas da faixa tropical da América do Sul. Para isso testaram os cenários de aquecimento do IPCC com modelos numéricos.

Tais modelos funcionam bem hoje na previsão do tempo e, por isso, oferecem razoável grau de certeza.

Clima do país seria afetado
Mesmo no cenário mais otimista - que prevê uma estabilização das emissões mundiais de CO2 em 550 partes por milhão (ppm) até o fim do século - haveria perda significativa. Oito por cento da floresta amazônica daria lugar à savana. No cenário mais pessimista - com emissões de 860 ppm - a substituição de floresta por savana chega a 18%. Uma faixa de 30% da Amazônia tem o destino ainda incerto. Hoje, a concentração de CO2 é de 380 ppm, mas o crescimento acelerado das emissões dos últimos anos indica uma tendência pessimista, se nenhum pacto mundial de cortes for obtido em breve.

- A chuva já é menor na região vulnerável. E nem consideramos no estudo o impacto do desmatamento, só a elevação da temperatura.

Quando ele for levado em conta, a perda deve ser ainda maior - diz Salazar.

O meteorologista do CPTEC Gilvan Sampaio explica que o impacto no clima será grande:
- O mais importante é que a perda de florestas pode alterar o clima do Sul e do Sudeste. Haverá menos umidade e chuvas.

O Globo, 03/06/2007, Ciência, p. 46

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